Crítica
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Sinopse
Numa noite tranquila do outono de 1830, acontece um assassinato que mobiliza não apenas um detetive aposentado, mas também o jovem cadete chamado Edgar Allan Poe. Quem terá arrancado o coração do jovem militar enforcado?
Crítica
O cinema norte-americano adora a figura do investigador/detetive assombrado. Protagonista característico dos filmes noir, ele geralmente sofre por causa de um passado doloroso, vive um presente sem perspectivas (no qual o perigo é a sua única motivação) e mira um futuro repleto de incógnitas. Em O Pálido Olho Azul, longa baseado no livro homônimo que Louis Bayard lançou em 2003, Christian Bale vive esse homem fraturado internamente, convocado a solucionar um crime ocorrido na academia militar dos Estados Unidos em 1830. Ao espectador acostumado a esse tipo de trama, os primeiros contatos de Landor (Bale) com o local fornecem subsídios para uma desconfiança clássica: é preciso abrir os olhos e nunca perder de vista que os próprios contratantes ou mesmo a instituição como um todo precisam ser incluídos no rol de suspeitos. Mas, calma, caro leitor afoito que deve estar pensando “poxa, ele entregou o mistério da trama no primeiro parágrafo”, saiba que as coisas não são nem um pouco assim. A menção a essa pulga que o cineasta Scott Cooper coloca atrás da nossa orelha tem a ver com a percepção de uma utilização consciente de vários clichês de histórias investigativas. O realizador não parece querer “inventar a roda” – como nos referimos àqueles que pretendem subverter ou revolucionar modelos – mas justamente utilizar esse repertório em função de uma experiência labiríntica.
Porém, O Pálido Olho Azul não é tão labiríntico como poderia. Melhor dizendo, os enigmas estão ali, as pistas são dispostas de modo calculado e as verdades inconvenientes são reveladas aos poucos para manter o espectador instigado. Contudo, o teor inquietante vai perdendo vigor à medida que o estilo prevalece sobre o suspense. Scott Cooper se esforça para fazer um daqueles thrillers classudos de contornos góticos, ambientados num passado em que a própria ciência era encarada quase como alquimia reservada a poucos. E ele investe pesado na construção dessa atmosfera que nunca atinge a capacidade expressiva de um A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça (1999) – com o qual possui evidentes simetrias estéticas –, mas que tampouco é malsucedida. A fotografia assinada por Masanobu Takayanagi prioriza os tons frios e sublinha um jogo simbólico por meio de luzes e sombras, especialmente nas cenas em que as pessoas conversam furtivamente na penumbra das tavernas iluminadas à vela. O aspecto visual é valorizado pelo design de produção a cargo de Stefania Cella, pelo conjunto de opções que torna sólido esse conto de aspirações góticas que tem como personagem secundário principal nada menos que Edgard Allan Poe (Harry Melling). Essa versão ficcional de um dos mestres do referido gênero na literatura é um cadete com aspirações poéticas que se propõe a investigar os vários assassinatos.
Então, podemos afirmar que O Pálido Olho Azul é uma experiência saborosa aos sentidos daqueles que possuem familiaridade com esse tipo de história, progressão e abordagem. O mais importante nesse longa-metragem é a maneira como pronuncia o seu estilo e, por conseguinte, as ferramentas das quais lança mão para fazer um tributo às ficções policiais que englobam elementos macabros e misteriosos. Mas, Scott Cooper não é Tim Burton (retomando a comparação anterior). Em A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça, seu colega deixa latente a ideia de ode feita por um fã, vide a forma como a linguagem é articulada para situar os artifícios sempre no primeiro plano. Cooper não demonstra tanta habilidade assim, embora seja evidentemente outro criador tentando compartilhar com o seu público uma paixão anterior. Parece que Burton vai buscar essa inspiração apaixonada num tempo longínquo que lhe é muito caro (a infância, provavelmente), enquanto Cooper soa com alguém capacitado recentemente a retrabalhar os componentes desse cânone específico. E Cooper ainda utiliza diversas participações especiais luxuosas como simples adornos de cena, vide as poucas e breves cenas de nomes maiúsculos, tais como Gillian Anderson, Robert Duvall, Charlotte Gainsbourg, Toby Jones e Timothy Spall. Nem o costumeiramente brilhante Christian Bale tem atuação excepcional. Ele é competente.
No quesito interpretação, quem se destaca é Harry Melling – intérprete do Duda da Saga Harry Potter. Ele traz uma vivacidade mórbida bastante específica para o papel de Edgard Allan Poe, embora não seja comtemplado com tempo suficiente para desenvolver a personalidade desse jovem aspirante a poeta com dificuldades para se encaixar no meio militar. Mesmo com a restrição imposta pelo roteiro, o ator britânico sobressai em meio a tantos veteranos que, ou pouco aparecem ou estão apenas “ok” em seus respectivos papeis. Ainda que a trama não seja o principal atrativo de O Pálido Olho Azul (o estilo é o ocupante desse posto), ela é desenrolada com certa competência até o instante semelhante a um epílogo. Faltando cerca de 30 minutos, o crime supostamente foi solucionado depois de uma mirabolante intriga envolvendo obscurantismo e o ocultismo sendo utilizado como antídoto à moléstia não compreendida. O espectador, sobretudo àquele acostumado a essas histórias, certamente intuirá que existem caroços nesse angu. De fato, eles estão lá. O grande problema do roteiro não é acumular as grandes emoções no terço final do longa-metragem, mas apresentar a resolução de modo tão pobre cinematograficamente, recorrendo ao velho artifício do “descobri tudo e agora vou contar para você o que você mesmo fez”. Chega a ser desanimador o encerramento que nada tem da sofisticação pontuada pelo estilo até ali. É somente um modo preguiçoso de expor as verdades.
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gostei muito. genial Poe. Até os suspiros dos mortos são notáveis.parabens Marcelo.