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Sinopse

Brian e Mike são policiais, parceiros e amigos pessoais. Brian resolve gravar a rotina deles pelas ruas de Los Angeles, o que resulta em flagrantes de tensões familiares e momentos extremos quando surgem em cena traficantes.

Crítica

A febre dos filmes de ficção no estilo “falso-documentário” parece ter vindo para ficar de vez. Depois de passar algum tempo restrito aos longas de terror (A Bruxa de Blair, 1999, e Atividade Paranormal, 2007, são alguns dos exemplos mais notórios), começou aos poucos a invadir outros gêneros, como a ficção científica (Cloverfield: Monstro, 2008), a comédia adolescente (Projeto X, 2012) e as fantasias de super-heróis (Poder sem Limites, 2012). Agora, no entanto, chegou a ver de deixar o mero entretenimento adolescente de lado e apostar em obras mais adultas e perenes. E o resultado é este Marcados para Morrer, de David Ayer e estrelado por Jake Gyllenhaal e Michael Peña. Apesar do título nacional um pouco sensacionalista – e que ainda por cima entrega o final da trama – trata-se de uma obra de intensa maturidade, mesmo que nem sempre essa performance seja alcançada. Percalços estes provenientes, acima de tudo, pela inexperiência do realizador neste novo formato, ainda que tratando de um tema com o qual tenha muita familiaridade.

Expulso de casa pelos pais quando ainda adolescente, David Ayer foi morar num dos bairros mais pobres de Los Angeles com um primo, tendo sido obrigado a se virar à força para sobreviver. As histórias que ali viveu durante esse período formam a base do seu cinema. Filmes como Tempos de Violência (2005) e Os Reis da Rua (2008), seus dois únicos trabalhos anteriores como diretor, ou Dia de Treinamento (2001) e S.W.A.T. (2003), dos quais participou como roteirista, colocam em evidência essa preferência pelo assunto. Em Marcados para Morrer ele volta para o mesmo ambiente – policiais obrigados a lidar no dia a dia com as diferenças raciais, econômicas e sociais dos bairros mais pobres de uma grande cidade norte-americana – mas acrescido desse novo elemento – a câmera que tudo registra, numa tentativa forçada de colocar o espectador no centro da ação. Algo que nem sempre dá certo.

Brian Taylor (Gyllenhaal) e Mike Zavala (Peña) são dois oficiais, parceiros de trabalho e melhores amigos um do outro. Taylor está cursando Direito à noite, e como interesse extracurricular se matricula em Cinema. Como projeto de curso, decide instalar uma minicâmera na lapela e sair com ela a tiracolo, registrando cada momento do seu cotidiano para ver depois o que aproveitar dali. Pronto, está dada a desculpa para como Marcados para Morrer se apresenta. O problema é a alternância entre justificativas lógicas com outras sequências no estilo “já que viemos até aqui desse jeito, vamos em frente”, em que o estilo de câmera tremida, fora de foco e sem nenhum estudo de fotografia aparente continua ditando o show, mesmo que não aja mais explicações para ela. Afinal, como estas imagens estariam sendo capturadas quando o protagonista está ausente?

Independente desse fator, Marcados para Morrer também apresenta outros problemas que são apenas percebidos claramente após sua suposta conclusão. A trama em si, ou seja, o que estes policiais fazem das suas vidas e como as conduzem para que vejam, enfim, suas cabeças sendo colocadas à prêmio, parece ser algo não prioritário, pois tais conclusões se formam somente após muita espera. Até lá, vamos acompanhando dois policiais absurdamente sortudos, que se metem em muitos lugares onde não são chamados e – quase – sempre conseguem se safar da melhor maneira. Os percalços são aparentemente inexistentes, seja durante o ofício ou também nos momentos de intimidade, com suas esposas ou namoradas, em que tudo é cor de rosa e sem problemas ou complicações. Onde está o conflito, portanto? Ele não demora a aparecer, mas quando se impõe é de modo tão brusco e grosseiro que seu efeito só é mais equivocado do que sua própria necessidade de existência.

Produzido com apenas US$ 7 milhões, Marcados para Morrer faturou quase US$ 40 milhões apenas nos Estados Unidos, o que mostra que mesmo uma fórmula cansada apresentada num formato nada original pode alcançar algum êxito, desde que contenha também alguns méritos inquestionáveis. E os daqui respondem pela dupla de protagonistas, atores incansáveis que se entregam por completo aos personagens que defendem, mesmo que estes não os recompensem à altura diante as poucas possibilidades que oferecem. E se Jake e Michael, por mais que se esforcem, não são suficiente para salvar o filme da decepção, é de que se perguntar se o cineasta responsável estava tão indeciso quando o documentarista da ficção. Pois pelo que vemos, nenhum dos dois sabia que história contar dentro deste assunto que muito oferece, mas que sem foco pode perder todo o interesse.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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Robledo Milani
5
Chico Fireman
7
MÉDIA
6

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