Crítica


7

Leitores


2 votos 7

Onde Assistir

Sinopse

Valeria é a jovem secretária de um produtor de cinema, mora com a mãe e é escritora-fantasma para um roteirista de sucesso. Quando recebe de presente de um estranho uma trama de filme com o nome de "A História Sem Nome", contando o misterioso roubo da pintura Natività, de Caravaggio, ela se vê imersa em uma implacável conspiração.

Crítica

Muitos anos atrás, uma das mais famosas pinturas de Michelangelo Merisi – que se tornou mundialmente conhecido simplesmente por Caravaggio (que, na verdade, é o lugar onde ele nasceu, e não seu nome de fato) – foi roubada, e seu destino permanece incógnito até hoje. Diversas lendas e teorias foram desenvolvidas a respeito, mas nenhuma aponta com precisão para a veracidade do que teria ocorrido. E se o episódio serviu para estimular a criatividade de muita gente desde então, funciona também como ponto de partida para O Caravaggio Roubado, um bom thriller escrito e dirigido pelo italiano Roberto Andò, o mesmo cineasta que havia entregue antes os interessantes Viva a Liberdade (2013) e As Confissões (2016).

Ao contrário dos seus dois filmes anteriores, que foram estrelados pelo grande Toni Servillo, em O Caravaggio Roubado Andò deixa de lado o protagonismo masculino para focar suas atenções no principal personagem feminino de sua história. No caso, Valeria Tramonti, interpretada por uma hipnotizante Micaela Ramazzotti. Atriz que despertou interesse e curiosidade como um verdadeiro vulcão ao aparecer em A Primeira Coisa Bela (2010), tem se mostrado em anos recentes uma intérprete cada vez mais versátil, como visto em Loucas de Alegria (2016) ou Uma Família (2017). Aqui, se transforma mais uma vez para esconder a própria beleza e charme que lhe é natural ao compor uma figura que deve, antes de mais nada, permanecer nas sombras: uma ghost writer.

É ela, portanto, a responsável pelo sucesso de Alessandro Pes (Alessandro Gassman, cujo sobrenome já entrega a origem familiar), o roteirista mais cobiçado de uma produtora de cinema em ascensão. Estão todos na espera do novo manuscrito dele, há muito prometido, porém tudo o que ele pode fazer é aguardar por ela – que trabalha no mesmo local e, seduzida pelos galanteios dele, afirma preferir ajudá-lo dessa forma, sem cobrar nenhum tipo de reconhecimento. No entanto, a pressão os obriga a se comprometer com a primeira ideia que surgir. E essa se manifesta quando um desconhecido a aborda prometendo o melhor argumento de todos os tempos. Justamente, uma história sem nome – que vem a ser, não por acaso, o título original do filme (tanto na ficção, quanto na realidade).

Alessandro entrega a trama de um Caravaggio roubado anos atrás e as desventuras pelas quais a obra de arte passou enquanto seu paradeiro a mantinha distante do olhar público. O texto é tão bem escrito que se aposta em uma grande produção para o cinema, atraindo, inclusive, um diretor que decide abandonar a aposentadoria (participação do mestre Jerzy Skolimowski) para capitanear o projeto. No entanto, ele não é o único a se interessar pelos escritos. Acontece que um grupo mafioso fica sabendo a respeito do que estão tratando como pura invenção, afirmando que de inventado, aquilo, não tem nada. E assim, misturando fatos com suposições, fantasia com elementos concretos, Andò e seus personagens brincam entre os limites de um e outro, partindo do exercício de gênero – o suspense – para discutir questões mais precisas e elaboradas.

Compondo um elenco que ainda traz outros nomes de destaque, como a belíssima Laura Morante (O Quarto do Filho, 2001) e o envolvente Renato Carpentieri (A Ternura, 2017), que aumentam ainda mais o potencial do conjunto, Roberto Andò faz de O Caravaggio Roubado um filme que pode ser apreciado em mais de um nível de leitura, seja pelo entretenimento passageiro, seja pelas diversas camadas a qual eventualmente, durante o seu desenrolar, acaba se aventurando. Passatempo inteligente, é exemplar de uma força recorrente no melhor do cinema europeu e, em especial, no que temos acompanhado durante os últimos anos nas produções italianas – que, infelizmente, ainda seguem raras por aqui. Não deve mudar a vida de ninguém, mas é perspicaz o suficiente para evitar a sensação de tempo perdido – o que, vamos combinar, em tempos tão duros como os atuais, já é digno de lucro.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.

Grade crítica

CríticoNota
Robledo Milani
7
Alysson Oliveira
4
MÉDIA
5.5

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *