Crítica
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O que pode ser apontado como original em Minha Família Perfeita, de Felipe Joffily? Muito pouco, se é que há alguma coisa nesse sentido presente no conjunto apresentado ao público. Primo do consagrado José Joffily (diretor premiado nos festivais de Brasília, Gramado, Paulínia, Miami e Natal, entre outros), Felipe tem demonstrado ao longo dos anos uma carreira mais tímida e de resultados menos ambiciosos, que vão da comédia de situação (Muita Calma Nessa Hora, 2010) ao completo besteirol (Os Caras de Pau em O Misterioso Roubo do Anel, 2014). Esse mais recente trabalho, numa impressão inicial, se mostra próximo da primeira linha, percorrendo tramas familiares e confusões que se estendem apenas no âmbito da ficção, visto que, na vida real, poderiam ser resolvidas em dois ou três diálogos através de uma conversa franca e aberta. Mas se fossem todos tão objetivos, como imaginar o absurdo possível somente através da fantasia? É irreal, e também por isso, desprovido de identificação com a audiência.
Histórias sobre fingimentos e mentiras envolvendo familiares e pretendentes amorosos são tão frequentes que podem ser apontadas quase como um gênero à parte. É mais comum vermos um rapaz ou uma moça sendo contratados para um jantar ou casamento, quando devem aparecer como um par de ocasião, mas o oposto não é tão improvável. Filmes como Amor por Contrato (2009) e Família do Bagulho (2013) brincaram com esse tipo de registro, mas sobre o espectro do riso leve e um tanto inocente. O espanhol Segredos em Família (1996) ou o francês Sitcom: Nossa Linda Família (1998), por sua vez, eram mais incisivos, num misto de sátira e crítica social. A incursão brasileira pelo tema poderia promover esse tipo de mergulho, mas se contenta em apenas trafegar por zonas seguras, buscando a graça imediata ao invés da reflexão duradoura. E assim, esvazia possibilidades de desdobramento, restringindo-se a um pastiche que nunca chega a alcançar o potencial vislumbrado.
Fred (Rafael Infante, com a mesma cara do início ao fim, incapaz de oferecer outro tipo de reação além daquelas vistas nos esquetes do Porta dos Fundos) encontrou, finalmente, a namorada perfeita. Denise (Isabelle Drummond, com poucos desafios pela frente, se mostrando uma das mais razoáveis em sua composição) é bonita, divertida, simpática e se mostra genuinamente interessada nele. Porém, algo a incomoda: mesmo após um longo namoro, segue sem ter sido apresentada à família do companheiro. Mas ele tem explicativa para adiar tal encontro: desde a juventude, seus pais, irmãos e até a avó só lhe provocaram constrangimentos quando diante de eventuais candidatas a ocupar um espaço no seu coração. Maior embaraço, no entanto, sentirá o público quando confrontado com essa ‘motivação’. Ao invés da vergonha se mostrar infundada e advir de um conflito geracional ou mesmo de costumes e tradições bastante particulares, o que se vê são situações no mínimo absurdas, que apelam ao exagero ao invés de buscar pela verossimilhança.
Descrito através de tintas carregadas e excessivas, o que um núcleo familiar como o aqui descrito provoca de imediato é a indagação sobre a origem do moço: como alguém tão aparentemente ‘normal’ poderia ter sido criado por pessoas tão desprovidas de noção e alheias às regras básicas de convívio social? Claro, mais intrigante seria caso essa fosse uma interpretação pessoal dele, e o exibido aos demais – tanto espectadores como demais personagens – fosse fruto de uma leitura permitida através do seu prisma. Mas para tanto se faria necessário uma estrutura elaborada, esforço ao qual os realizadores não se mostram dispostos. Assim, dá-lhe Zezé Polessa aos gritos, Otávio Augusto enfrentando uma crise de diarreia e Evelyn Castro gritando desaforos pelo telefone. Quando Denise confunde os futuros parentes com atores contratados para um comercial de margarina – Fred é publicitário e ela o visita no seu ambiente de trabalho – ele decide levar a farsa adiante, pensando ter resolvido seus problemas. Porém, o que logo percebe ter em mãos é uma solução a curto prazo. O depois, portanto, é que será seu maior dilema.
Se Minha Família Perfeita não se confirma um desastre completo, é pela disposição dos membros da “família falsa” em levarem o fingimento adiante, agregando questões como astros que escondem sua verdadeira orientação sexual e atrizes que demonstram comportamento cheio de manias e faniquitos nos bastidores, mais próximo de uma diva do que de uma profissional na qual se possa confiar. Antonio Calloni e, principalmente, Bianca Byington são os alentos dentro de um conjunto tão desprovido de interesses e razões que justifiquem sua mais razoável existência ou permanência. Desperdiçando talentos – o que Victor Lamoglia está fazendo aqui? – e explorando ideias envelhecidas sem acrescentar nada de novo à proposta, o que se verifica é uma premissa que desde o primeiros instantes alude a um final fácil de se antecipar, sem intenção alguma de disfarçar o desfecho ao qual se encaminha. Como se o caminho até ele se mostrasse válido o bastante para ser percorrido. Infelizmente, não é o caso.
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