Crítica
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Sinopse
Filho único de um casal divorciado, Théo testemunha o pai numa vida sem perspectivas enquanto vê sua mãe começando uma vida nova. Observado por um grande clube de futebol, Théo vai tentar o sucesso para animar o pai.
Crítica
Principal assunto do momento por conta da Copa do Mundo do Catar, o futebol é um mero pano de fundo em Meu Filho é um Craque. Não alimente expectativas por profundidade dramática no desenrolar dessa história. A premissa sugere uma abordagem pesada, mas isso não acontece. De cara, o tom amarelado da fotografia assinada por Pierre Cottereau sugere que estamos num terreno caloroso, no qual as inúmeras adversidades nunca serão protagonistas, pois meros obstáculos inevitavelmente superados visando a evolução das pessoas. O protagonista é Théo (Maleaume Paquin, um dos destaques do elenco), aspirante a craque do esporte bretão que vive numa cidadezinha da França (ou seria da Bélgica?), o principal jogador do time amador da região. Filho de pais separados, ele mora com a mãe (Ludivine Sagnier) e o padrasto que peca pelo excesso de simpatia (Nicolas Wanczycki). Já seu pai, Laurent (François Damiens), é um sujeito espalhafatoso, propenso a brigas e que tem alguns problemas, incluindo o alcoolismo. Desempregado, morando com a tia-avó, ele não é necessariamente o protótipo de responsável ideal. Tanto que a caracterização do personagem aposta numa surrada jaqueta de couro preta para desloca-lo da paisagem visual em que predominam as cores suaves e as tonalidades agradáveis. Há vários obstáculos a serem transpostos para todos atingirem a plena felicidade.
Meu Filho é Craque não é um filme que oferece mergulhos realistas e/ou vertiginosos nas tantas questões desenvolvidas em torno de Théo. A produção franco-belga está mais para um feel good movie (daqueles que pretendem fazer os espectadores se sentirem bem ao final da sessão), especialmente pela maneira como mostra os personagens passando por cima das adversidades a fim de gerar um panorama fundamentalmente positivo e claramente auspicioso. O cineasta Julien Rappeneau não toca, por exemplo, na pressão exercida pelos pais no menino sobre o qual recaem enormes expectativas, sequer vai um pouco além da superfície ao mencionar que a quebradeira da fábrica local ocasionou uma enorme onda de desemprego na região. Tampouco o realizador parece preocupado em enfatizar a dificuldade intrínseca ao mundo do futebol que se apresenta como um conto de fadas no qual poucos chegam a ser coroados com um final feliz. Construindo a noção de uma trajetória idealizada, encarregada de transformar uma quantidade considerável de personagens, o roteiro assinado por Julien Rappeneau e Mario Torrecillas, com base na HQ Dream Team, de Artur Laperla e Mario Torrecillas, se detém nas andanças do protagonista para sustentar uma farsa que no fim das contas tem efeitos muito positivos na comunidade. Théo mente sobre ter sido escolhido para treinar num time poderoso e isso cola.
Há uma questão de Meu Filho é um Craque a ser ponderada acima de todas as outras. Por mais que estejamos falando de uma obra escapista, do tipo que não visa confrontar seriamente os problemas propostos, estando a isso mais preocupada com as lições e os aprendizados, é preciso sublinhar um dos pilares de seu discurso. A mentira que Théo conta é o gatilho para todos ao redor se movimentarem rumo às evoluções pessoais que permitem suas felicidades. Com atenções desproporcionais, vemos Laurent tomando jeito (arrumando emprego, casa e flertando com uma candidata a namorada), os pais dialogando de novo, a amiga quase declarando o seu amor juvenil, o amigo enclausurado perdendo o medo do exterior e até mesmo o bar da cidade ganhando uma repaginada. Portanto, a mentira é premiada com uma leva de positividade que altera a comunidade para melhor. Assim, é um meio levemente reprovado em certos instantes da trama, mas que acaba justificado pelo fim, em que tudo se ajeita. Sem investigar apropriadamente os efeitos dessa lorota ao próprio Théo, o cineasta apenas nos conduz por tentativas infantis de encobrir a mentira (com graus de sofisticação que testam a nossa credulidade), mas acaba com isso transformando o pequeno esportista somente num catalisador. Sabem aquela coisa de “tudo está bem quando acaba bem”? A mensagem é essa.
Além da controversa defesa da máxima “os fins justificam os meios”, Meu Filho é um Craque apresenta um excesso de coadjuvantes. Alguns nem contribuem. Por exemplo, o assistente do treinador interpretado pelo veterano André Dussollier. Motivado a se engajar no futebol, o rapaz está interessado pelas maravilhas da confeitaria. E sua presença nem complementa uma noção de que é preciso seguir os próprios sonhos a despeito das expectativas alheias, pois isso não é espelhado na experiência e menos ainda na atitude do protagonista. Theo deseja ser um jogador profissional de futebol, não está fazendo isso para agradar o pai ou qualquer outra figura de referência. Como exemplar leve e propenso a deixar o espectador confortável, a produção franco-belga cumpre protocolarmente o seu papel. Tem personagens carismáticos com trajetórias e obstáculos identificáveis, pois universais. O elenco estelar também ajuda a sustentar essa dramédia leve com ares de fábula moral. Nesse sentido, destaque especial para François Damiens, intérprete tarimbado que oscila com relativa facilidade (e senso de propósito) entre a vulnerabilidade dos “perdedores” e a força dos que lutam. O pequeno Maleaume Paquin também sobressai com o seu talento precoce, inclusive nas burocráticas cenas de jogo. O saldo fica no meio termo. Um filme para dar aquele quentinho no coração, mas com um discurso torto.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 5 |
Alysson Oliveira | 6 |
MÉDIA | 5.5 |
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