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Sinopse

Thomas embarca em uma missão para encontrar a cura para uma doença mortal e descobre que os planos da C.R.U.E.L podem trazer consequências catastróficas para a humanidade. Agora, ele tem que decidir se vai se entregar para a C.R.U.E.L e confiar na promessa da organização de que esse será seu último experimento.

Crítica

Vítima de um grande atraso por conta do grave acidente que o ator Dylan O’Brien sofreu nas filmagens, Maze Runner: A Cura Mortal, terceiro episódio da adaptação cinematográfica dos livros de James Dashner, chega apenas agora às telonas. E já começa em alta voltagem, com uma sequência de ação muito bem coreografada, resgate primordial ao desenrolar da trama. Há um leve quê de Mad Max (1979) nessa tentativa de conseguir o impossível, que é tirar das mãos da C.R.U.E.L o amigo próximo, capturado no mediano capítulo anterior. Os automóveis revestidos de grosso metal para aguentar a artilharia dos vilões disfarçados de brigada científica com boas intenções poderiam, muito bem, ser dirigidos por Max Rockatansky. Após a correria amparada por um plano minucioso, arquitetado pelos rebeldes, o cineasta Wes Ball trata de abrir o escopo, no sentido de apresentar, sobretudo visualmente, o estado do mundo destruído pelas consequências da doença incurável. Os planos aéreos ajudam a dimensionar essa devastação.

Jorge (Giancarlo Esposito) ensaia assumir maior destaque entre os associados do protagonista, mas isso acaba não se confirmando no decorrer do enredo. Aliás, o subaproveitamento de certos coadjuvantes é uma constante no longa-metragem. Alguns deles quase fazem participações especiais, exatamente porque as principais atenções acabam se voltando aos impasses de Thomas, bem como à reafirmação de sua insistência em contrariar probabilidades e não descansar enquanto todos estiverem relativamente a salvo, característica basilar sua. Até mesmo o velado triângulo amoroso com Teresa (Kaya Scodelario) e Brenda (Rosa Salazar), embora ocasionalmente acessado, perde espaço, ficando relegado ao plano intermediário. Maze Runner: A Cura Mortal abre novas possibilidades ao deflagrar o abismo social que separa brutalmente cidadãos murados e, portanto, protegidos da peste, dos pobres que sucumbem à margem. Todavia, não há aprofundamento nesse diagnóstico.

Outra possibilidade minimizada em Maze Runner: A Cura Mortal é a questão ética acerca das intenções da C.R.U.E.L, dilema apresentado de maneira mais intensa por conta do comportamento de Teresa. Wes Ball deixa no ar o questionamento relacionado à justificativa dos fins pelos meios, mas não dá qualquer sinal de fazer desse potencial uma discussão verdadeiramente importante dentro do contexto apresentado. Entretanto, ainda que vitimado por uma série de desperdícios, sobretudo os de ordem temática, o filme se vale com propriedade da ambiência distópica para acentuar a urgência das demandas. Janson (Aidan Gillen) assume definitivamente o posto de vilão da franquia, se interpondo entre Thomas e o sucesso de sua missão. O roteiro oferece boas surpresas, como o retorno improvável de alguém cuja personalidade ajuda a tornar as coisas mais nuançadas, embora tampouco ofereça tempo suficiente para o amadurecimento de tal presença inesperada.

Maze Runner: A Cura Mortal oferece o que se espera de um episódio derradeiro – isso levando em consideração que as aventuras de Thomas e companhia acabem por aqui, já que o desfecho não inviabiliza sequências. Mortes importantes acontecem, proporcionando momentos de apelo emocional relevante. A aura messiânica, que paira sobre o protagonista desde Maze Runner: Correr ou Morrer (2014), se adensa. Não é, assim, surpreendente a revelação paulatina de determinados pormenores que ajudam a explicar melhor sua condição de peça-chave para os intentos nebulosos da C.R.U.E.L. Wes Ball cria um espetáculo visualmente instigante, a serviço da instauração da genuinidade da emergência. Ocorrências completamente implausíveis, tais como o absurdo içamento do ônibus pelo para-choque, depõem contra a fruição do todo, mas, felizmente, são minoria neste filme cuja apreciação reside na empatia imediata com os personagens e suas demandas.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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