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Sinopse

Desde criança Katie ouve ruídos estranhos e passa por sensações inesperadas. Já adulta, mora com o namorado, Micah, que, meio cético quanto aos depoimentos dela, resolve usar uma câmera para gravar tudo o que acontece enquanto dormem e vivem dentro da casa. O que era para ser apenas uma forma de esclarecer o mistério torna-se uma experiência intrigante e assustadora.

Crítica

Existem filmes que são sucessos. Outros que são elogiados. Existem os que viram manias, os que conquistam determinados públicos e os que são objetos de culto. Mas existem aqueles que são verdadeiros fenômenos. E Atividade Paranormal é um deles. É quase impossível tentar explicar como que uma produção amadora, realizada com pouco mais de US$ 10 mil (US$ 11 mil do orçamento original, mas US$ 4 mil da distribuidora para que o final fosse refilmado), consiga ter arrecadado apenas dos Estados Unidos quase que dez mil vezes este valor, superando a marca dos US$ 100 milhões! Um resultado como este o torna o mais lucrativo investimento – levando em conta a relação entre custo e faturamento – da história de Hollywood, superando com folga desde outras surpresas similares, como A Bruxa de Blair (1999) ou Casamento Grego (2002) até mesmo grandes blockbusters, como Titanic (1997) ou a saga O Senhor dos Anéis. Todos fizeram um bom dinheiro. Mas para nenhum foi tão simples assim.

E o lema do diretor Oren Peli parece ser aquele adotado pelos cineastas brasileiros durante o Cinema Novo: “uma ideia na cabeça e uma câmera na mão”. Pois Peli não tinha mesmo nada mais do que apenas isso – uma ótima, excelente e muito interessante inspiração e o equipamento mínimo para que ela se tornasse realidade. E de forma que todas as carências que possuía não só ficassem evidentes na tela, como também funcionassem a seu favor. Ou seja, sua principal arma foi a própria inteligência, e este é o grande segredo para um impacto tão grande. Mas não só isso, claro. Às vezes é preciso contar com a sorte, também. E, neste caso, ela tem nome e sobrenome: Steven Spielberg. Pois foi o mago da sétima arte, dono de dois Oscars e de muitos recordes de bilheteria, quem primeiro viu o filme, agindo de forma decisiva para convencer a Paramount a distribuí-lo, ao mesmo tempo em que fez com que o cineasta de primeira viagem visualizasse uma conclusão para o seu pequeno conto de terror ainda mais apavorante. Tenho certeza de que todos os que ouviram o senhor Spielberg nesta ocasião não estão nem um pouco arrependidos.

Atividade Paranormal foi inteiramente filmado dentro da casa do próprio realizador e conta com um elenco mínimo, formado por dois protagonistas: Micah e Katie (os atores atuam com seus verdadeiros nomes). O casal está preocupado, porque a garota afirma que, desde sua infância, fantasmas e outros acontecimentos inexplicáveis a perseguem. O namorado decide, então, comprar uma câmera de vídeo para registrar a vida dos dois e, assim, tentar descobrir o que está acontecendo. E o que nós, espectadores, vemos é exatamente o que é registrado pelos dois. E se durante o dia nada parece acontecer, tudo muda quando as luzes se apagam e o sono cai sobre eles. Com a gravadora ligada no modo de visualização noturna e apontada para a cama do casal a noite inteira, presenciamos os fatos mais absurdos, desde sombras inexplicáveis até atos de sonambulismo e pegadas surpreendentes. Sinistro é o mínimo que pode ser dito. E a descrença dele e o pavor crescente dela só irão contribuir para as coisas ficarem cada vez piores.

Este é um daqueles filmes do qual saímos após o término da projeção como se tivéssemos sido moídos, de tão intensas que são as reações provocadas. Medo genuíno é sentido do início ao fim, e cada susto, grito ou espanto serão involuntários, de um modo como há muito não era visto no cinema norte-americano. Um belo exemplo de como menos pode significar mais, desde que haja uma vontade verdadeira em se realizar algo intrigante, envolvente e, acima de tudo, inacreditável. A originalidade de Atividade Paranormal não está no tema, no enredo ou nas atuações do elenco, mas sim em sua simplicidade. Tudo é tão direto e sem rodeios que é impossível não se identificar. E se o objetivo é assustar, aqui ele é cumprido com louvor. Tanto no mundo da ficção quando na realidade. Afinal, uma sequência já está à caminho, e enquanto as bilheterias seguirem em movimento, todo espanto será justificado.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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