Crítica
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Sinopse
A agente do FBI Lee Harker é convocada para reabrir um caso arquivado de um serial killer. Conforme desvenda pistas, Harker se vê confrontada com uma conexão pessoal inesperada com o assassino, conhecido como Longlegs, lançando-a em uma corrida contra o tempo.
Crítica
Um dos diretores mais interessantes do atual cenário do cinema de horror dos Estados Unidos, Osgood Perkins sabe que está criando sobre as bases de um terreno sagrado em Longlegs: Vínculo Mortal. Sagrado, pois a ideia de uma conexão fundamental entre caça e caçador, aquela história de “parte do mapa para chegar ao bandido está dentro do perseguidor, mas ele não sabe”, integra o imaginário do suspense e do horror. A trama mostra a agente do FBI Lee Harker (Maika Monroe) incumbida de ajudar a capturar um serial killer chamado Longlegs, cujos métodos são tão obscuros quanto a capacidade dela de prever certos episódios. Mas, antes de vermos essa mulher adulta, de modos reprimidos, juntando peças de um quebra-cabeça em que a imagem final é uma fração espelhada do seu passado, Oz faz uma pequena introdução com tom de contos de fada macabro. A imagem quadrada remete ao passado no qual uma menininha conheceu uma força maligna nos arredores de sua casa cercada de neve e árvores ressacadas por todos os lados. Assim como em Maria e João: O Conto das Bruxas (2020), o realizador sabe o efeito expressivo de inserir a inocência no centro de uma conspiração satânica, extraindo disso uma sensação primária de medo. A garota é justamente Harper, aquela capaz de perceber o que os colegas sequer imaginam, assim sendo figura essencial para a captura de um monstro maligno.
A abordagem de Osgood Perkins em Longlegs: Vínculo Mortal é simbólica. Nunca realista. E isso pode ser facilmente percebido pela fotografia estilosa assinada por Andres Arochi. A composição visual (enquadramento, profundidade, cores) é encarregada de construir uma atmosfera, não de retratar pura e simplesmente as situações. Com esse intuito, os personagens são inseridos em lugares levemente distorcidos, transitam por corredores longilíneos quase infinitos, sobem e descem escadas com angulações aparentemente estranhas e passam por aberturas assimétricas. Tudo isso a fim de causar a sensação de que há algo errado com esse mundo de tons empalidecidos. Ciente de criar a partir de modelos cinematográficos (o tal solo sagrado antes citado), Perkins encara a busca de Harper de modo maneirista, reproduzindo circunstâncias e molduras clássicas, mas distorcendo as suas bordas em busca de um efeito eloquente. Por exemplo, a agente do FBI que descobre coisas íntimas enquanto se aproxima da verdade sobre os homicídios. E Perkins desenha os padrões das mortes como quem pretende estabelecer uma mitologia, aos poucos direcionando a nossa percepção ao universo sobrenatural. Inicialmente ele recorre à razão (repetições, datas, padrões, perfis). Mais à frente, o realizador adiciona o sobrenatural (números ganham contornos cabalísticos, surgem os indícios de influência maligna, sobressai o inexplicável à luz da razão). O que o destaca é a habilidade de produzir esse mistério.
Mas, nem tudo são flores e louros em Longlegs: Vínculo Mortal. As ações são engessadas, algo perceptível no comportamento dos personagens, mas também na mise en scène (o modo como os elementos cênicos são dispostos na tela) que sufoca os personagens. A proposta é ótima, especialmente porque, se muito bem executada, poderia garantir uma experiência angustiante. Porém, isso nem sempre acontece. Osgood Perkins às vezes abusa um pouco desse estilo de filmar e desenvolver friamente o íntimo dos personagens, criando momentos em que a história parece interessar apenas em termos estéticos. E a principal vítima disso é Maika Monroe, intérprete emparedada pela atitude diretiva a partir da qual precisa ser introspectiva de um jeito pouco convencional, reagindo de maneira “robotizada” dentro da proposta narrativa que não relativiza os termos dessa atmosfera peculiar. Ao mesmo tempo, a partir da revelação de que Lee tem uma intuição excepcional, praticamente premonitória, o filme abdica de grande parte da tensão inerente às tramas sobre caça a serial killer, pois muitas pistas não são destrinchadas até levarem a respostas promissoras. Uma vez que a agente do FBI consegue decodificar rastros e indícios como se estivesse a eles conectada sobrenaturalmente, o realizador se contenta em mostrar deduções providenciais abreviando o que poderia ser fruto de um trabalho de investigação.
A entrada efetiva em cena de Nicolas Cage cria um duplo efeito. Por um lado, aumenta a carga demoníaca, uma vez que seu personagem escancara as conexões satânicas entre algoz e vítimas. Aliás, outra prova da abordagem expressionista de Osgood Perkins é a maquiagem falsa que cria uma monstruosidade apropriadamente cinematográfica – que não passaria pelo crivo de qualquer exame de autenticidade. Antes de julgar esse resultado como erro de concepção, é bom ao menos supor se a maquiagem postiça não é apropriada dentro do conjunto estético em que até a utilização da jaqueta chamativa do FBI adquire traços parcialmente caricaturais. No entanto, o surgimento do bizarro Longlegs em pessoa enfraquece o mistério. O filme é mais interessante quando nos induz a imaginar cenários, arrastando o espectador a um ambiente com elementos obscuros e desestabilizadores, tais como as fotografias dos presidentes nas paredes dos anos 1970 (Richard Nixon) e 1990 (Bill Clinton). Ao conectar esses momentos históricos específicos e reforçar seus vínculos com componentes políticos, Perkins estaria falando da interrupção do mal (governos republicanos de Nixon, Ronald Reagan e George H. W. Bush) pela esperança democrata (Clinton)? Especulações à parte, Longlegs: Vínculo Mortal é estiloso, atmosférico, mas às vezes fica refém do maneirismo que engessa a história desenvolvida com várias conveniências.
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