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Sinopse

Impulsionado pela restauração de sua fé na humanidade e inspirado pelo ato altruísta do Superman, Bruce Wayne convoca sua nova aliada, Diana Prince, para o combate contra um inimigo ainda maior que foi recém-despertado. Juntos, Batman e Mulher-Maravilha buscam recrutar com agilidade um time de meta-humanos, mas mesmo com a formação de uma liga de heróis sem precedentes - Batman, Mulher-Maraviha, Aquaman, Cyborg e Flash - poderá ser tarde demais para salvar o planeta de um catastrófico ataque.

Crítica

E você, qual é o seu poder?”, pergunta o jovem Barry Allen ao magnata Bruce Wayne, logo após ter sido convidado por ele a se juntar ao grupo de super-humanos que está se formando. “Eu tenho dinheiro”, responde este. Poderia ser esta só mais uma piada dentre tantas que surgem durante os 120 minutos de Liga da Justiça, o tão aguardado encontro dos principais heróis da DC Comics no cinema. Este chiste, no entanto, diante de olhos agudos, representa muito mais do que isso. E, principalmente, está no cerne da trama dirigida por Zack Snyder a partir do roteiro elaborado por Chris Terrio (vencedor do Oscar por Argo, 2012) e Joss Whedon. Afinal, numa realidade em que seres superpoderosos fazem parte do cotidiano, como pode justamente aquele desprovido de qualquer habilidade especial ser, ao mesmo tempo, o mais capaz de todos? E entre a volta de Superman (sim, ou você achou mesmo que iriam mantê-lo morto por muito tempo?), a ascensão da Mulher-Maravilha a um posto de liderança, o bom humor do Flash (que serve, de forma equilibrada, como alívio cômico da trama), o passado trágico do Ciborgue e a herança submarina de Aquaman, está, de forma inquestionável, nas mãos do Batman o desenrolar dessa história que é até mesmo simples, mas dona de uma profundidade insuspeita.

Como vimos no final de Batman vs Superman: A Origem da Justiça (2016), a Homem de Aço morreu, e só restam Wayne e Diana Prince vivos. Criou-se um vácuo no poder, na defesa do bem, e os bandidos rapidamente identificaram essa oportunidade, transformando diversas cidades ao redor do mundo em terras sem lei. A amazona reluta, ainda, em aceitar sua condição, e prefere seguir atuando de forma discreta. O Homem-Morcego, por outro lado, age invariavelmente nas sombras, ainda que há 20 anos siga defendendo Gotham City. É preciso que uma nova força surja. E caberá aos dois descobri-la. O primeiro passo está em recrutar um jovem rapaz de Central City, dono de velocidade sobre-humana. Depois, é preciso ir atrás daquele acostumado a viver nos mares e oceanos, até então vivendo no anonimato. Por fim, há um que foi declarado morto, mas reconstituído pela genialidade do próprio pai, um cientista de renome. São apenas cinco, mas representam muito mais.

Em um filme no qual é necessário construir o cenário perfeito para o retorno do seu personagem mais emblemático, é curioso perceber que o grande tema em debate é, justamente, a mortalidade. Wayne sabe que não é tão rápido, não respira debaixo d’água, não possui um laço mágico e nem é capaz de voar. No entanto, é dele a inteligência necessária para manter esse grupo unido. A abnegação do personagem, disposto até mesmo a se sacrificar em nome daqueles ao seu lado, torna tudo ainda mais próximo do espectador. Sim, eles são heróis, assim como os da Marvel (Homem de Ferro, Capitão América, Homem-Aranha). Mas, ao contrário desses, que em sua grande maioria não deixam de ser meros homens em situações extraordinárias, estes aqui são verdadeiros deuses. Há uma aura de invencibilidade e respeito histórico ao redor deles. Mesmo os mais novatos transparecem, nas entrelinhas, serem resultado de algo muito mais complexo do que aquilo que deixam transparecer num primeiro momento. Também por isso, não deixa de ser imensamente excitante a expectativa pelos próximos filmes que darão sequência ao Universo Cinematográfico DC.

Lobo da Estepe (representado pela voz potente de Ciarán Hinds) é o vilão da vez. É notório que estes representem o calcanhar de Aquiles nas últimas incursões da DC Comics na tela grande: General Zod, Lex Luthor, Ares, o Deus da Guerra, e até o próprio Coringa – nem vamos falar dos demais bandidos de Esquadrão Suicida (2016), ok? – decepcionaram em suas concepções. E se o inimigo da vez, com seus planos megalomaníacos de conquistar o mundo e destruir tudo e todos, não parece estar à altura dos seus oponentes, também não decepciona. Principalmente por apresentar um plano engenhoso o suficiente para justificar a união destes seres tão especiais: ele está atrás das Pedras Maternas, deixadas há milênios na Terra e divididas sob os cuidados das Amazonas, Atlantes e Homens. Justamente os três povos que agora, mais do que nunca, precisam demostrar que, lado a lado, são muito mais fortes do que nos seus esforços individuais. E entre flashbacks bastante didáticos e sequências de tirar o fôlego – a que se passa na ilha de Themyscira é simplesmente eletrizante – aos poucos o quebra-cabeça vai sendo montado, sempre pontuado por um bom humor preciso, que felizmente não compete com a relevância dos acontecimentos que estão se desenrolando.

Ao custo de US$ 300 milhões, Liga da Justiça é mais do que um filme: é um produto e, ao mesmo tempo, uma grande aposta. Assim como aconteceu com Os Vingadores (2012), que reuniu os grandes heróis da Marvel, este aqui não apenas precisa se sobressair diante seus antecessores, como O Homem de Aço (2013) e Mulher-Maravilha (2017), e não apenas na técnica e em estrutura, mas também em narrativa, como afastar qualquer mau agouro dos críticos. Além do mais, precisa ainda se justificar nas bilheterias, com um retorno superior ao US$ 1 bilhão. Conseguirá? É possível. Elementos para isso, tem de sobra. Com um elenco bem entrosado – Gal Gadot e Ezra Miller são os destaques, mas Henry Cavill e Ben Affleck não decepcionam, assim como Jason Momoa e Ray Fisher se revelam escolhas apropriadas, sem falar nas participações certeiras de nomes como Connie Nielsen, Diane Lane, Billy Crudup, J. K. Simmons, Jeremy Irons e, claro, Amy Adams – e uma direção mais segura da parte de Zack Snyder (o trabalho em conjunto com Whedon certamente teve o efeito positivo esperado) fazem deste um longa redondo, ambicioso na medida certa e eficiente em preparar um terreno fértil para o (muito) que vem a seguir. As expectativas estão cada vez mais altas. E o curso a seguir, mesmo após um ou outro deslize, está de volta no caminho certo. Basta seguir para o alto, e avante.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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