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Amplamente conhecido no meio da arquitetura e do urbanismo, o catarinense Marcos Konder Netto é desvelado em Konder: O Protagonismo da Simplicidade por meio de uma polifonia aparente. Embora diversas pessoas sejam ouvidas, de familiares a admiradores do estilo singular do cinebiografado, há uma costura de tal forma unificadora que o peso individual dos depoimentos acaba dirimido em função do todo. Os cineastas Gabriel Mellin e Igor de Vetyemy – este também uma testemunha entusiasmada – utilizam o recurso dos raciocínios que se complementam, ou seja, com os dizeres de uns sendo imediatamente seguidos por reflexões adicionais de outros. Isso vai ao encontro da falta de espaços de contestação, pois estamos diante de um filme laudatório, daqueles que existem tão e somente para louvar os feitos de alguém considerado proeminente, seja profissional e/ou pessoalmente. E esse respeito a Konder fica muito evidente, não somente pela forma como o discurso é articulado, mas igualmente em função das luzes lançadas sobre a genialidade.
Em cinebiografias sobre personalidades de âmbitos muito específicos, é compreensível que parte da informação ofertada fique acessível mais claramente aos iniciados, por assim dizer. Tendo isso em vista, os realizadores fazem um visível esforço para tornar a grandeza de Konder o mais palatável possível ao público leigo, deixando que testemunhas discorram pormenorizadamente acerca da beleza técnica dos feitos, isso enquanto o grafismo redesenha projetos na tela. É um expediente didático, encarregado dessa democratização generosa, muito embora em alguns instantes sua utilização desenfreada cause um engessamento contraproducente. Outro dispositivo de efetividade oscilante é deixar que as obras "falem" pelo protagonista, ou, melhor dizendo, que a constituição prática e poética destas assumam o espaço vital de geração de sentido. Não fosse inclinado à redundância, o documentário provavelmente atingiria patamares mais elevados.
Konder: O Protagonismo da Simplicidade tem os méritos de, primeiro, lançar luz sobre uma figura essencial da arquitetura brasileira e, segundo, ao menos sinalizar a importância da área para além de aspectos meramente elementares. O diálogo virtual permitido pela montagem, retórica que vai sendo construída como se armações de concreto enfileiradas, resvala ocasionalmente no entendimento de que é possível integrar monumentos e edifícios a ideologias políticas, por exemplo. Uma pena que Gabriel Mellin e Igor de Vetyemy, talvez por puro receio de perder as rédeas durante seu intento celebratório principal, não se aprofundem na filiação de Konder com as ideias progressistas e, principalmente, em como isso pode ter sido determinante para seu legado. De modo semelhante, é passível de objeção a pouca disposição deles por ressaltar discórdias, passando bem rapidamente pelas dinâmicas demarcadas por rivalidades, ciúmes profissionais e afins.
A se lamentar, na mesma medida, que os realizadores não sublinhem a dimensão lírica dos projetos nunca realizados, alguns dos quais entre os prediletos de Konder. Um não executado, portanto ideia impossibilitada de concretizar-se, é menos relevante, dentro da concepção autoral, do que o monumento consagrado aos pracinhas da Segunda Guerra Mundial? A palpabilidade se torna incontornável ou é possível a equivaler às tantas intangibilidades? Essas perguntas têm um terreno preparado por Gabriel Mellin e Igor de Vetyemy, mas infelizmente não são formuladas direta ou indiretamente. No processo de desenhar Konder: O Protagonismo da Simplicidade, familiares também opinam sobre profissão e colegas, por sua vez, igualmente se emocionam ao falar da vida íntima de um sujeito admirável. Quando certas conjunturas íntimas parecem negligenciadas, elas voltam como num solavanco, encaminhando assim o encerramento. Opção questionável do roteiro até ali tradicional do documentário que inventaria uma obra belíssima, embora aferrado demais a parâmetros rígidos.
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