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Sinopse

Adultos, adolescentes e crianças amam, sofrem, se relacionam e compartilham tudo, sempre conectados. A internet é onipresente e, nesta grande rede em que o mundo se transformou, as ideias de sociedade e interação social ganham um novo significado. Algumas situações como um casal que não tem intimidade, uma garota que quer ser uma anoréxica melhor, um adolescente que vive em num mundo de pornografia virtual, fazem o expectador repensar as relações humanas.

Crítica

Depois de Refém da Paixão (2013), o diretor canadense Jason Reitman redireciona o olhar para a atualidade. Assim como a gravidez na adolescência em Juno (2007) e a dificuldade para manter laços em Amor sem Escalas (2009), Homens, Mulheres e Filhos faz da sociedade atual a matéria do seu cinema. Adaptado do romance homônimo de Chad Kultgen, o filme é o trabalho mais ambicioso de Reitman. Nos anteriores, a preocupação estava em capturar um fragmento da sociedade e desenvolvê-lo dramaticamente. Agora, o escopo tem as proporções ampliadas. Na cena inicial, somos levados ao espaço e informados de um nave enviada pelos homens para que outras formas de vida tomem consciência da nossa. Entre as várias peculiaridades da Terra enviadas ao espaço estão o bater do coração e o som de um beijo. Em seguida, o corte nos leva a focalizar um ponto de luz distante. Isolado em um mar de escuridão, estamos nós a própria sorte.

À abertura grandiosa – como não lembrar do fantástico 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968) – se segue a observação privilegiada do comportamento humano. A gama de personagens assumirão problemas que passam pela nossa relação com a tecnologia e os padrão de vida atual: Tim (Ansel Elgort) é o ex-aluno promissor abandonado pela mãe; Adam Sandler e Rosemarie DeWitt são os Truby, casal que passa por um momento delicado na relação; Patricia (Jennifer Garner) é a mãe superprotetora; Allison (Elena Kampouris) enfrenta a bulimia e a estima.

Com o panorama montado, Reitman constrói o microcosmos útil para o mostruário que pretende exibir. A direção extremamente competente evitou o óbvio – que estaria em contar e julgar as histórias – e resolveu apenas mostrá-las, deixando no desenvolvimento natural de cada núcleo o suficiente para que o espectador pudesse fazer o julgamento apropriado.

Falar da contemporaneidade – termo que me soa agora, no ato da escrita, quase esvaziado – não é simples apenas por exigir uma observação aguda das relações que estão à deriva. Torna-se complexo, em especial, pelo caráter autorreferente da cultura moderna. Por pouco, Homens, Mulheres e Crianças não sucumbiu à tentação de se tornar um Beleza Americana (1999) ou Bling Ring: A Gangue de Hollywood (2013). Ao conseguir desviar desse ímpeto, o roteiro escrito por Reitman junto a Erin Wilson pôde criar um material autêntico.

A linguagem utilizada é a esperada. Espelho do conteúdo, as mensagens de celulares e computadores se tornam personagens ao tomarem a tela em primeiro plano. A velocidade, porém, não é o grosso da estética de Reitman. Pelo contrário, ela aparece comedida durante a narrativa. Por tratar antes de tudo do comportamento humano – dos medo, fragilidade e impotência – é que o filme oscila momentos de distração e superficialidade com outro de empatia e profundidade, construindo um retrato denso, sem ser carrancudo e desesperançado.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul, e da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Tem formação em Filosofia e em Letras, estudou cinema na Escola Técnica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Acumulou experiências ao trabalhar como produtor, roteirista e assistente de direção de curtas-metragens.
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