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Sinopse

Miguel Angel Garcia Mazziotti, figura gay decadente do showbiz no Rio de la Plata, é visitado por sua filha Virginia, de quem se manteve afastado por anos. El Gordo, como o chamam em Punta del Este, rejeita abertamente a visita. Mas, ao saber que vai se tornar avô, não consegue controlar a emoção e acaba cedendo e compartilhando da felicidade de sua filha.

Crítica

Os Golfinhos vão para o Leste se anuncia como uma comédia dramática que, antecipada pelo cartaz de divulgação colorido e vistoso, sugere um filme de tons almodovarianos. Em certo sentido é verdade, mas o longa uruguaio, exemplo interessante de direção conjunta por Gonzalo Delgado e Verónica Perrotta, tem na melancolia platina o principal combustível para a originalidade com que desenvolve a trama.

Miguel Ángel (Jorge Denevi) e Virginia (Veronica Perrotta) são pai e filha afastados há anos. Ao engravidar, ela resolve retomar os laços. Sem qualquer preparação ou aviso, Virginia embarca em um ônibus para Punta del Este, caminho tomado pelos golfinhos do título,  a fim de quebrar o gelo formado pelo tempo. No famoso balneário uruguaio, Ángel é uma celebridade que tenta lidar com o envelhecimento. A chegada da filha não apenas não colabora para despistar a velhice como promove, sem sequer consultá-lo, o personagem de Denevi a uma posição nova e desconhecida: a de avô.

Escrito pelos diretores, o roteiro tem a sensibilidade de transformar algo comum, como a substituição de postos que cedo ou tarde chega a todos, na ideia de um novo que possibilita redimensionar o passado e reorganizar as relações humanas. Para isso, coloca em cena um personagem peculiar, recheado de idiossincrasias muito bem construídas pela atuação de Denevi, que somente poderá passar o bastão à filha no instante em que aceitar se reinventar.

Fotografado por Arauco Hernández Holz, utilizando uma temperatura de cor suave, a composição das cenas evita a dramaticidade exacerbada, transmitindo ao público a sensação de que os conflitos, por mais graves que sejam, acabarão apaziguados. Afinal,Os Golfinhos vão para o Leste acerta ao não tratar a si próprio com exagerada importância, vício mais comum do que se imagina, ou, ainda, preocupar-se demais em trabalhar marcas de gênero no seu registro cinematográfico. O ritmo controlado e as atuações de raro encaixe entre drama e comédia permitem ao filme avançar com a delicadeza daqueles que, como os golfinhos, dominam as águas do mar.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul, e da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Tem formação em Filosofia e em Letras, estudou cinema na Escola Técnica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Acumulou experiências ao trabalhar como produtor, roteirista e assistente de direção de curtas-metragens.
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