Crítica


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8 votos 7.6

Onde Assistir

Sinopse

Peter adora cada canto do seu quarto. Mas, ele é levado a ceder esse espaço ao seu recém-chegado avô. Logo, está instaurada uma guerra entre duas gerações de uma mesma família que tem lá suas peculiaridades.

Crítica

Em Guerra com o Vovô é aquele típico filme que costumamos rotular de “para toda a família”, sobretudo por sua evidente intenção de se comunicar com gente de faixas etárias e perfis diferentes. Outro pressuposto dessas produções é a fuga das controvérsias, concessão feita justamente para alcançar um diálogo extenso, não necessariamente denso. Dito isso, temos aqui a disputa entre dois sujeitos por um território. Ed (Robert De Niro) precisa se mudar à casa de sua filha, Sally (Uma Thurman), já que a velhice lhe impõe restrições. Curiosamente, a mobilidade do personagem passa a não ser problemática (nem um pouco) tão logo ele se envolva na contenda com o neto, Peter (Oakes Fegley). O menino está indignado por ter perdido o tão amado quarto e declara guerra ao parente recém-chegado. O cineasta Tim Hill poderia brincar com essa vivacidade revivida quando o veterano deixa de ser solitário, mas acaba não o fazendo. Portanto, a mudança soa simplesmente como uma conveniência do roteiro, uma das tantas vezes em que as nuances são sacrificadas em favor do breve efeito cômico. O sótão repleto de morcegos e ratos cai nisso, pois um exagero sem necessidade.

Por aderir a lugares-comuns atribuídos com frequência à tensão entre familiares que gradativamente entendem o valor alheio, Tim Hill não permite aberturas ao “será?”, sendo mais partidário do “quando?”. Isso porque é claro que Peter e Ed descobrirão que o conflito travado não tem sentido, uma vez que a prioridade é o aprendizado mútuo durante a oscilante convivência. O avô é citado como alguém enlutado pela recente morte da esposa, carregando o retrato da falecida amada no começo, mas o filme meio que se esquece dessa condição emocional em prol das pegadinhas que se sucedem. Outro problema é a repetição sem variações, como quando a personagem de Uma Thurman se vê afetada pela disputa alheia, num par de ocasiões culminando com uma agressão ao policial estacionado ao seu lado. Mostrar essa dinâmica duas vezes atende a uma estratégia cômica de arrancar riso fundamentalmente pela repetição, com o absurdo acontecendo de novo. No entanto, o realizador constrói as situações preguiçosamente e inviabiliza mais que sorrisos amarelos em ambas vezes.

A reincidência é novamente utilizada, sem graça, na dinâmica de Ed com seu genro, Arthur (Rob Riggle), especificamente nos dois instantes em que o idoso é literalmente pego de calças arriadas. O mais novo grita histericamente apenas por se deparar com o pênis do sogro – desde quando uma genitália causa tanto escândalo assim? Além disso, é uma pena que Tim Hill não invista detidamente no que o filme tem de melhor, ou seja, na tradução dos movimentos e estratagemas bélicos sérios/reais para adequá-los às situações em que evidentemente cabe a participação infantil. No começo do filme, Ed sente a necessidade de atacar o atendente do supermercado que o persegue por um suposto roubo/esquecimento. E o ex-combatente faz isso tirando a tampa do iogurte, num gesto semelhante ao desvencilhar-se do pino de uma granada, transformando o laticínio numa arma que meleca o oponente. Adiante, nas pegadinhas que o avô prega no neto e vice-versa, algumas atendem a essa lógica, outras nem tanto. Principalmente Robert De Niro deita e rola, sobretudo ao precisar sustentar uma afetuosa aura de durão para intimidar o neto, logo depois subvertendo a expectativa.

A pequena Poppy Gagnon, intérprete da caçula, é o achado de Em Guerra com o Vovô, pois injeta um misto de ternura e inocência em cenas como a da mediação "neutra" da batalha. Os veteranos Cheech Marin, Christopher Walken e Jane Seymour emprestam suas experiências para criar figuras leves e adoráveis – respectivamente o galanteador de meia-tigela, o vovô-garoto e a idosa vivaz –, espelhados nos amigos de Peter. Porém, o núcleo infantil é menos inspirado, vítima da repetição contraproducente, haja visto o garoto constantemente ridicularizado pela irmã mais velha. O saldo é um filme em que valem mais as brincadeiras supostamente sérias entre avô e neto, inclusive como forma de preparar o terreno à lição que todos devem aprender no apagar das luzes. A casa quebrada é uma metáfora pouco sutil da harmonia familiar que precisa ser reestabelecida, mas em nenhum momento seriamente comprometida. É garantido que tudo acabe em confraternização, ainda que certas características, como a mãe indignada pelo namorado da filha, sejam apenas gratuitas, assim como outras conjunturas que existem aparentemente para “encher linguiça”.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

Grade crítica

CríticoNota
Marcelo Müller
4
Alysson Oliveira
1
MÉDIA
2.5

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