Crítica
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Sinopse
Gloria é uma divorciada de espírito livre que passa os dias trabalhando em um escritório tradicional e conservador. À noite, no entanto, ela se solta, dançando nas muitas discotecas de Los Angeles. Quando conhece Arnold numa dessas baladas, acaba envolvida num inesperado novo amor, com todas as alegrias do começo de um romance e as complicações dos encontros, de identidades e famílias.
Crítica
“Gloria, você está sempre correndo. Correndo atrás de alguém, você precisa dele de qualquer jeito. Acho que você deve diminuir o ritmo, antes que exploda. Acho que você está em crise, então cuidado para não demonstrar”.
Assim começa a canção Gloria, de Laura Branigan. Mas também poderia ser a descrição de Gloria Bell, cuja protagonista, interpretada por Julianne Moore, está sempre à beira de alguma coisa. À beira de se apaixonar, de mudar de vida, de cair no choro, de rir sem razão, de adotar um gato de estimação, de se aproximar dos filhos, de ficar igual à própria mãe, de ser demitida, de dançar. Ao ritmo da música, deixando-se levar por uma melodia que fala com ela e com qualquer um que se permitir. Ela está pronta, ainda que não saiba. No ponto exato de dar o passo a mais, por ela, mais do que por qualquer outro que possa estar ao seu redor, ao seu alcance ou no seu âmbito de relações. A prioridade é quem está por dentro, e não alguém que possa vir de fora.
Novamente com Sebastian Lelio na direção, Gloria Bell é uma refilmagem bastante fiel ao longa anterior, Gloria (2013). Premiado com o Urso de Prata de Melhor Atriz no Festival de Berlim para o desempenho arrebatador de Paulina Garcia, o primeiro filme foi recomendado à Moore, que identificou nele uma oportunidade rara: um grande personagem feminino de meia idade, próximo da sua faixa etária, em uma história absolutamente centrada nessa figura. Tratava-se, no entanto, de uma produção chilena, falada em espanhol, e por isso mesmo, de alcance limitado nos Estados Unidos. Justifica-se por esse viés, portanto, essa nova versão. Mas que fique claro: não se trata de uma reimaginação, nem mesmo de uma adaptação. É praticamente o mesmo filme, porém com um novo elenco, e ambientando em cenários distintos. No mais, o que move a protagonista, seus anseios e frustrações, permanecem praticamente os mesmos. Quem já esteve diante de – e, provavelmente, se encantou com – Gloria, certamente enfrentará uma sensação de déja vùao se deparar com Gloria Bell. Aos demais, o encantamento se fará presente de forma inédita, e os ganhos poderão ser ainda maiores.
Gloria Bell é uma mulher que lutou muito, e apesar de estar cansada, não se entrega. Separada há mais de uma década, mantém uma relação cordial com os filhos, uma proximidade controlada com a mãe, segue no emprego por uma suposta eficiência. Mas algo não está certo. Seja o gato do vizinho, que de um jeito ou de outro sempre consegue se infiltrar na sua casa, ou problemas mais factuais, como a colega que é demitida, a nora que desapareceu, a filha que pretende se mudar para o outro lado do mundo. Os problemas estão por todos os lados. Não diretamente nela, mas, ainda assim, próximos. Mas ela segue em frente, de cabeça erguida, em busca de uma sensação, de uma felicidade, que talvez nem saiba ao certo como exprimir, mas que também não a impede de seguir procurando.
É por isso que prefere passar suas noites, ao invés de afundada em travesseiros ou inerte em frente a uma televisão, em bares e boates. Sai para se divertir, beber alguns drinks, talvez conhecer alguém novo e interessante. Pode dar a entender, para um observador que a veja de longe, que está apenas querendo preencher um vazio. Pode até ser. Mas não é um espaço que qualquer um pode ocupar. Bem ela sabe, pois muito tenta com os outros: com os filhos, com o trabalho, até mesmo com um novo amor. Mas ninguém chega até esse ponto desprovido de bagagem. Há muito o que carregar consigo. E com isso em mente, até se pode errar uma vez. Pode-se incorrer no mesmo erro duas vezes, quem sabe. Agora, três já é demais. Afinal, cada chance a mais que se dá a uma causa perdida, é de si mesmo que ela é retirada.
“A noite é jovem, e cheia de possibilidades. Venha junto e permita-se ser livre. Meu amor por você é como eu disse, esta noite foi feita para você e para mim. E você pode tocar o meu alarme”.
Uma mulher que precisa se encontrar. Mas como afirma Ring My Bell, de Anita Ward – também presente na trilha sonora – chegou o momento de aproveitar o que há pela frente de igual, bastando para isso um chamado. Ela não é mais Gloria. Agora, é Gloria Bell. A diferença é sutil, mas possui seu peso. Teria sido melhor se Lelio acreditasse mais nesse potencial. Mas ele não tem o que provar – acertou tão bem antes, que bastou seguir os mesmos passos para, mais uma vez, mostrar seu valor. E Julianne Moore, uma das grandes atrizes de Hollywood, não fica em nada devendo à excelência de Paulina Garcia. Ambas entendem bem o que a personagem quer e, acima de tudo, necessita. O caminho pode ser similar. Para alguns, será desconhecido. Para outros, é uma visita a uma antiga amiga. Os méritos não se perdem. Mas permanecem restritos a quem se dispor a exercer a sensibilidade necessária para esse mergulho. Seja no dia a dia, ou ao menos na pista de dança.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 7 |
Francisco Carbone | 7 |
Leonardo Ribeiro | 6 |
MÉDIA | 6.7 |
Ótimo filme. Atuação impecável de Julianne Moore. É isso mesmo. Muda se o cenário da discoteca para : Igreja, ações sociais, retiro... O resto é igual, para mulheres que sabem o seu valor e não usa os filhos e homens como muleta. Adorei o filme.