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Sinopse

Depois de assumir as rédeas do reino, a Rainha Má exila a Branca de Neve. Mas, a vilão não contava que sua rival receberia a ajuda de sete anões.

Crítica

Era inevitável. Depois de uma experiência muito mal sucedida em 1997 com Sigourney Weaver como a Rainha Má (Floresta Negra) e outra em 2001 com Miranda Richardson no mesmo papel (Branca de Neve), ambas feitas para a televisão, estava mais do que na hora de uma versão cinematográfica live action em grande estilo, com orçamento decente e nas mãos de profissionais competentes. Pois Espelho, Espelho Meu é quase isso. Afinal, quem assume a posição de vilã desesperada pela beleza eterna é a linda mulher Julia Roberts, e ao seu lado estão o sempre engraçado Nathan Lane (A Gaiola das Loucas, 1996) e os novatos Lily Collins (a filha de Phil Collins já havia aparecido em pequenos papéis em produções de destaque, como Um Sonho Possível, 2009, com Sandra Bullock, e agora assume como a protagonista Branca de Neve) e Armie Hammer (ignorado no Oscar tanto por A Rede Social, 2010, quanto pelo recente J. Edgar (2011). Mas se tudo parecia apontar para um caminho bem sucedido, o estrago foi feito ao entregar a produção nas mãos do exagerado e equivocado Tarsem Singh, o mesmo dos horrorosos A Cela (2000) e Imortais (2011). E essa mistura definitivamente não resulta num final feliz.

Os problemas com essa nova releitura do conto de fadas Branca de Neve e os Sete Anões começam pela dificuldade de encontrar um tom para a narrativa. De início somos apresentados à Rainha, que anuncia: “esta não é a história que vocês conhecem, pois não falaremos da menina, e sim de mim”. No entanto, isso não é o que acontece (gerando até uma retratação final do personagem), pois o foco da ação será mesmo Branca de Neve, e a vilã aparece muito menos do que gostaríamos. O tom cômico perseguido com as participações de Lane (o caçador!) e os anões (ao invés de mineiros, agora são bandidos) vai para o espaço com as maldades da Rainha e o ar empolado do Príncipe Encantado (Hammer). E no meio desse fogo cruzado temos uma mocinha que não se decide em ser heroína ou indefesa em busca de resgate. Sem uma orientação precisa do diretor, o quadro só tende a ficar cada vez pior, resultando num final constrangedor à lá Bollywood, ao contrário do emocionante visto no oscarizado Quem quer ser um Milionário? (2009).

Para quem não conhece a trama – ou precisa ser relembrado – aí vai uma recapitulação. Branca de Neve é a princesa de um reino mágico, onde todos passam o tempo cantando e dançando. Quando o pai desaparece numa batalha, ela fica nas mãos da madrasta, uma bruxa que deseja ser “a mais bela de todas”. Invejosa da jovialidade da enteada, ordena a um caçador que leve a menina para a floresta e lá a mate. Porém o serviçal fica sem coragem de levar à cabo suas ordens, e acaba abandonando a garota. Sozinha, encontra amparo na cabana de sete anões, que irão ajudá-la. Neste meio tempo aparece um Príncipe de um reinado distante, que pode ser a solução dos problemas financeiros locais se aceitar se casar com a Rainha. Mas ele demonstra mais interesse na princesa, e os dois irão se unir para acabar com o mal que domina o povoado.

Espelho, Espelho Meu apresenta diversas mudanças em relação ao conto original, e nem todas estas alterações soam confortáveis. A maçã mágica, por exemplo, surge somente ao final, enquanto que o Príncipe Encantado marca presença desde o início. Há ainda elementos de outras histórias do gênero, como Cinderela (o baile) e Chapeuzinho Vermelho (o lobo mau), mas estes parecem deslocados. E nesta confusa mistura, o ponto forte de tudo, que é a participação de Julia Roberts – a única que parece estar, de fato, se divertindo com tudo isso – acaba reduzida a mera coadjuvante, sem momentos de maior encontro com o público.

Assim temos um filme indicado somente às crianças, que abusa do visual mas esvazia o texto de tal forma que chega a ficar irreconhecível. Ao menos podemos ficar tranquilos porque em breve outra versão do mesmo conto – Branca de Neve e o Caçador, com Charlize Theron (Jovens Adultos), Kristen Stewart (Crepúsculo) e Chris Hemsworth (Thor) – chegará às telas, prometendo um épico de acordo com as expectativas levantadas. Aí, quem sabe, a justiça seja feita e as novas gerações ganhem uma adaptação digna ao clássico dos Estúdios Disney (que, ainda hoje, segue imbatível!).

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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