Crítica

Se aproveitando da persona comumente jocosa de Leslie Nielsen, Drácula: Morto Mas Feliz é o herdeiro espiritual de O Jovem Frankenstein (1974), que faz uma alusão óbvia à versão de Francis Ford Coppola do romance de Bram Stoker. O começo mostra imagens de papiros, com ilustrações clássicas renascentistas que remetem seriamente ao total inverso do que se verá mais à frente.

Apesar de sofrer muito com adjetivações da crítica de cinema dos Estados Unidos, Nielsen consegue reunir qualidades ímpares no seu trejeitado Conde. Mais curiosa ainda do que o vampiro atrapalhado e repleto de humor físico é a persona do doutor especialista em teologia, filosofia (e ginecologia, acréscimo de Mel Brooks), Van Helsing, interpretado pelo inigualável diretor, que empresta toda sua canastrice para um papel que é, na maior parte do tempo, bastante sério, servindo de escada para um sem número de piadas e gracejos.

A crença no vampirismo é obviamente refutada pelos que moram na Transilvânia. A sexualidade exacerbada dos filmes da Companhia Hammer e dos de Bela Lugosi é referenciada em cada bela curva feminina do elenco, ainda que o sexy appeal seja repleto de comicidade e interação com o cenário, como a sensualidade executada com a mobília. Tanto Amy Yasbeck quanto Lysette Anthony transbordam sexualidade. Ao menos com relação às “esposas” de Drácula (Darla Haun e Karen Roe), há um tom acima de seriedade, até para que todas as outras jocosidades façam mais sentido.

O gore remete aos filmes mais antigos de Sam Raimi, além de ser uma alegoria dos clássicos de Jerry Lewis e Jim Abrahams, quando unido a Pat Proft, tanto nos trabalhos com o próprio Nielsen quanto com Charlie Sheen. O restante do roteiro não difere em quase nada dos filmes que mencionam o conto original de Bram Stoker, sendo a exata cópia do já visto em Nosferatu (1922) e afins, claro, com uma excessiva dose de comedia.

O desfecho de Drácula: Morto Mas Feliz é obviamente mais atrapalhado, pois valoriza os momentos de comédia e piadas com situações exploitation de vampiros e afins, ainda que o diferencial esteja inteiramente no texto mordaz, ácido e ágil, o que agrada tanto ao público mais popular, com suas piadas físicas e humor universal, quanto aos admiradores do humor mais rebuscado. O último filme antes da aposentadoria de Brooks como diretor acaba por ser uma ode a toda sua obra como cineasta. Mesmo que não garanta uma comparação tão justa com o resto de sua carreira, é um final digno para o seu legado.

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é Jornalista, Escritor e Editor do site Vortex Cultural (www.vortexcultural.com.br). Quer salvar o mundo, desde que não demore muito e é apaixonado por Cinema, Literatura, Mulheres, Rock and Roll e Psicanalise, não necessariamente nessa ordem.
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