Crítica
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Sinopse
Enquanto esperam num salão paroquial o início das suas respectivas cerimônias de casamento, duas noivas refletem sobre relações pessoais e outras questões que lhes afligem.
Crítica
Primeiro longa-metragem dirigido por Luiz Rosemberg Filho nos últimos 30 anos, Dois Casamentos é uma aposta radical que retoma uma estética e uma ousadia em voga nos seus primeiros trabalhos, lançados em sua maioria durante os anos 1970. Fruto da mesma geração que revelou nomes como Júlio Bressane e Rogério Sganzerla, Rosemberg foi considerado um dos cineastas mais inventivos da produção nacional durante a segunda metade do século passado, entregando títulos como Jardim das Espumas (1971) e Crônica de um Industrial (1978). No entanto, a partir de O Santo e a Vedette (1982), sua obra cinematográfica entrou em declínio, restringindo-se a exercícios em outros formatos como televisão, vídeo e curtas. Esse afastamento chega agora ao fim, porém não da forma mais aberta possível.
Dois Casamentos nos apresenta, em um cenário completamente vazio, a duas noivas. O que as diferencia à primeira vista são suas idades, como a mais velha faz questão de declarar: “após os trinta anos, você se agarra na primeira oportunidade que aparece, pois do contrário acaba ficando pra titia”. A mais jovem, no entanto, não é tão cética, e acredita estar ali movida pelo sentimento mais nobre de todos: o amor. Aos poucos descobrimos que elas estão à espera de alguém – dos noivos? dos pais? dos padrinhos? – em um lugar público – na igreja? no salão de festas? na casa de uma delas? – cuja identidade nunca chega a ficar clara. O que importa é o que uma tem a dizer a outra. E, assim que os diálogos começam, os sonhos começam a se desfazer.
Remetendo aos textos mais clássicos da literatura mundial, o que vemos na dinâmica que se estabelece entre as duas personagens de Dois Casamentos é o anseio de uma em acabar com as ilusões – ou aspirações – da outra, motivada pela própria amargura experimentada em sua existência. Assim, aquela que deveria ser a mais vivida e sábia se revela também a mais ciumenta e invejosa, cruel em suas decepções e ávida a eliminar o brilho dos olhos da outra. Ou melhor, em um processo de eliminação por posse, quer pegar para si o que a outra ainda tem de esperança a partir da absorção do que essa tem de melhor. Aglutina-se em um método que vai do teórico ao sexual, como se as duas fossem apenas facetas não tão diferentes de uma só identidade.
Produzido por Cavi Borges, jovem cineasta carioca responsável por títulos de boa repercussão como o documentário Cidade de Deus: 10 Anos Depois (2013), Dois Casamentos falha justamente na motivação explorada que, ao invés de provocar, contenta-se em apenas remoer os mesmos argumentos repetidamente, esgotando seu discurso logo no início e, a partir deste ponto, insistindo em voltar à mesma tecla, de forma cansativa e tediosa. A ambientação exageradamente teatral também afasta o interesse do espectador, pois, ao contrário do visto em apostas semelhantes, como Dogville (2003), de Lars von Trier, aqui não há em cena elementos suficientes para suplantar as carências narrativas. E no final o que se tem é um produto para poucos, cujas boas ideias se perdem em uma realização que parece ter ficado perdida no tempo.
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