Crítica
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Sinopse
Dois velhos amigos, Antoine e Laurent, decidem fazer uma viagem juntos para uma região de praia, levando também suas respectivas filhas. Porém, o que pareciam ser alguns dias de descanso em um belo lugar para relaxar, torna-se uma grande confusão quando Louna, filha de Antoine, se apaixona por Laurent.
Crítica
Você já viu esse filme. Literalmente. Afinal, Doce Veneno é uma refilmagem do longa homônimo de 1977 dirigido por Claude Berri. Nesse meio tempo, além da versão norte-americana Feitiço do Rio (1984) – em que Michael Caine caía de amores pela melhor amiga da filha, essa interpretada por uma jovem Demi Moore, tendo as praias cariocas como cenário – esse tipo de enredo já foi explorado à exaustão em diversos outros filmes, séries, seriados e até mesmo novelas. Tem-se, enfim, aquele tipo de comédia de erros, em que a verdade está exposta na tela para conhecimento – e júbilo – do expectador, mas mantém-se em segredo entre os personagens pela simples falta de uma conversa franca entre eles. E assim como todas as suas releituras anteriores, a proposta aqui pode até parecer interessante num primeiro momento, mas logo perde sua força, resultando em nada além do que mais do mesmo.
Laurent (Vincent Cassel, que mesmo como pai de uma adolescente segue com pose de galã) e Antoine (François Cluzet, incorporando o mesmo jeito ranzinza de seu maior sucesso, Intocáveis, 2011) são melhores amigos que decidem passar umas férias juntos. O primeiro está separado há anos, e o segundo se encontra no meio de uma crise marital após a esposa ter pedido “um tempo”. Ele, no entanto, ainda acredita que os dois podem reatar, enquanto que ela, a cada novo sinal, dá a entender já ter seguido com sua vida. Junto com os dois novos solteiros estão suas filhas adolescentes, Marie (Alice Isaaz, de Os Olhos Amarelos dos Crocodilos, 2014) e Louna (Lola Le Lann). Elas querem se divertir, sair com os amigos, ir em festas e dormir até tarde, enquanto que os pais bebem vinho e lamentam suas mágoas. Ou algo do gênero.
É nesse ponto que o diretor Jean-François Richet – responsável pelo muito mais interessante Inimigo Público N° 1 (2008) – se esforça para desenvolver, porém sem muito sucesso, um psicologismo barato que justifique algo que dificilmente consegue soar mais do que mera birra. Louna, aparentemente sofrendo pela separação dos pais, decide encontrar nos braços do homem mais experiente ao seu lado o conforto e carinho que tanta carência lhe provoca. Para isso, faz uso de suas armas: despe-se na primeira oportunidade, revelando um corpo jovem e intocável. Quer seduzi-lo, ao passo que Laurent, por mais envaidecido que se sinta, bravamente resiste, ciente do tamanho da confusão que tal envolvimento representaria. E será justamente por essa recusa que ela se tornará ainda mais determinada em seu intento.
Estão os quatro sob o mesmo teto em uma casa no litoral. Marie percebe de imediato que há algo acontecendo, mas tudo que oferece é beiço, em um ciúme infundado. Já Antoine, tão preocupado com sua própria situação, ignora tudo e todos, ao menos até que a verdade lhe surja, ainda que parcial: Louna lhe confessa estar apaixonada por um homem mais velho. Possuído por uma prepotência paternal até então esquecida, decide que precisa vingar sua honra. E para isso, quem mais poderia lhe apoiar, senão o melhor amigo? Mas Laurent sabe o quão perto de sair queimado dessa brincadeira está, e se por momentos chega a fazer o jogo da garota e em outras se esforça para não magoar os demais envolvidos, no fundo termina por esquecer de si próprio. O que ele quer, afinal, permanece como o maior mistério da história.
Este é o maior problema de Doce Veneno: nenhum dos quatro personagens principais consegue ir além do raso estereótipo. Um é o bon vivant, o outro é o estressado, uma é a ciumenta e a outra é a lolita endiabrada. O que os move é tão importante quanto o passo seguinte, apenas para ser esquecido em questão de instantes. Cassel e Cluzet, dois veteranos em ação, conseguem se sair um pouco melhor diante situações tão ordinárias, ao passo que suas contrapartes femininas, justamente pela juventude, pouco além do óbvio conseguem se posicionar. Ao menos temos um olhar europeu conduzindo o discurso, e ao invés de grandes trapalhadas e confusões forçadas, o resultado opta pelo correto, ainda que não inesperado. Assim, entre idas e vindas que parecem servir mais para alongar o roteiro e menos em função da história, a conclusão final é que ninguém está livre de defeitos, e o importante é aprender a viver com eles. Tanto na ficção como entre aqueles diante – ou atrás – dela.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 5 |
Ailton Monteiro | 7 |
MÉDIA | 6 |
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