Crítica


7

Leitores


1 voto 10

Onde Assistir

Sinopse

Depois de inventar uma revolucionária pele sintética, o cientista Peyton Westlake é atacado por uma quadrilha e dado como morto. Mas, graças ao seu invento, que lhe permite ter qualquer rosto, ele vai em busca de vingança.

Crítica

Muito antes de comandar a primeira trilogia Homem-Aranha, Sam Raimi já havia adentrado no universo de heróis e vilões com a aventura Darkman: Vingança sem Rosto. Inspirado em personagens como O Sombra e Spirit, o cineasta criou um vigilante desfigurado que busca a desforra contra os homens que arruinaram sua vida. O personagem surgiu da vontade de Raimi em querer adaptar um personagem dos quadrinhos para o cinema. Quando não conseguiu os direitos para tanto, resolveu criar o seu próprio. Curiosamente, Darkman acabou fazendo o caminho contrário. Surgiu no cinema e, depois, devido ao sucesso e do crescente status cult, migrou para os quadrinhos, em séries da Marvel Comics.

Na trama, o cientista Peyton Westlake (Liam Neeson) está trabalhando em uma espécie de pele sintética para vítimas de queimaduras severas. Seus esforços, no entanto, não são recompensados devido à instabilidade da experiência. A pele criada não dura mais do que 99 minutos, se desfazendo completamente. Era possível que Westlake conseguisse evoluir em sua pesquisa caso não tivesse sido interrompido pelos capangas de Robert Durant (Larry Drake). Os criminosos estão em busca de um documento que estava em posse da namorada de Peyton, a advogada Julie Hastings (Frances McDormand), papel que incriminaria o poderoso Louis Strack (Colin Friels), milionário da cidade envolvido em negócios escusos. A ação de Durant e companhia é brutal. O laboratório do cientista é mandado pelos ares, assim como o próprio Peyton, que sofre queimaduras em todo o corpo, ficando com o rosto completamente desfigurado. Julie testemunha a explosão e seu namorado é dado como morto. É o fim para Westlake, mas o começo para Darkman. Depois de passar um tempo no hospital, este homem sedento por vingança surge, com gaze no rosto, sobretudo negro e um chapéu. E com o poder de criar rostos sintéticos que o ajudarão a combater os bandidos que o jogaram naquela situação.

Quem gosta da obra de Sam Raimi do início da carreira, como Evil Dead (1981), Crimewave (1985) e Uma Noite Alucinante (1987), vai encontrar em Darkman aquele mesmo estilo de cinema do diretor. Uma propensão para o gore, senso de humor negro, soluções caseiras para efeitos especiais intrincados. É bom lembrar que o longa-metragem em questão foi realizado antes da revolução dos efeitos visuais nos anos 90. Portanto, o que vemos ali são trucagens muito bem realizadas para a época, um tempo onde era necessária a criatividade para conseguir convencer a plateia. Neste quesito, a maquiagem realizada em Liam Neeson é de primeira qualidade, impressionando pela veracidade. Nos dias de hoje, quando até o Duas Caras de Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008) teve sua face queimada criada no computador, é interessante observar o que era realizado há 25 anos.

Por falar em Liam Neeson, o ator atualmente está investindo em papéis de ação, veículos onde mostra seu talento dramático ao mesmo tempo em que dá tiros em vilões ou luta contra lobos sedentos. Há quem diga que esta foi uma reviravolta estranha na carreira do ator. “Como aquele intérprete sério de A Lista de Schindler e Michael Collins aceita papeis em Esquadrão Classe A, Busca Implacável e Sem Escalas?” Quem aponta isto esquece que Neeson, muito antes de ser Jedi em Star Wars – A Ameaça Fantasma (1999) ou mentor do homem-morcego em Batman Begins (2005), já havia realizado trabalhos pouco ortodoxos. E o maior exemplo disso é Darkman. O ator teria ficado intrigado com o lado operístico do personagem, uma espécie de O Fantasma da Ópera do nosso tempo. É verdade que Neeson, à época, não era o ator que conhecemos hoje. Havia muito a aprender ainda e, em alguns momentos, seus gritos e corridas em desespero se mostram constrangedoramente ruins. O romance com Frances McDormand também nunca funciona. Não existe química entre os dois, atrapalhando o desenvolvimento do drama pelo que vive Peyton. No entanto, quando assume a identidade do herói, Neeson melhora sensivelmente, parecendo ameaçador na medida para os vilões que persegue.

No quesito vilões, o grande destaque fica para Larry Drake, que passa calma e periculosidade em iguais proporções como o letal Robert Durant. Tendo uma mania sinistra de colecionar dedos de seus oponentes, extirpados a sangue frio com um cortador de charutos, Durant é um nêmesis à altura de Darkman, alguém que o espectador consegue acreditar que faria frente ao enlouquecido vigilante. No entanto, o roteiro de Raimi, co-assinado com Chuck Pfarrer, Ivan Raimi, Daniel Goldin e Joshua Goldin, tenta criar uma ameaça ainda maior para o herói, na figura de Louis Strack. E falha miseravelmente no intento. Durant é tão mais interessante que é até “ressuscitado” na continuação, lançada diretamente em vídeo em 1992. Antes de John Woo propor a troca de rostos em A Outra Face (1997), Sam Raimi já brincava com o conceito em Darkman. Ainda que a ideia soe estapafúrdia, devemos lembrar que realismo passa longe do que o diretor pretende com o filme. Rei dos disfarces, Darkman pode não ter superpoderes, mas usa da inteligência e de seu conhecimento científico para passar a perna nos vilões.

Por ser uma aventura divertida, primeira incursão de Sam Raimi em Hollywood, Darkman: Vingança sem Rosto merece ser assistido, nem que seja por curiosidade. No filme, é possível encontrar os embriões que fariam o cineasta comandar posteriormente a trilogia Homem-Aranha e a origem da faceta aventuresca de Liam Neeson. Com ares de cult, o longa-metragem lançado em 1990 deu origem a duas continuações (ambas lançadas diretamente em home vídeo), uma série em quadrinhos e quase foi transformada em seriado de tevê. Nada mal para um projeto que surgiu como uma alternativa para outros heróis que o diretor não conseguiu levar para os cinemas.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
avatar

Últimos artigos deRodrigo de Oliveira (Ver Tudo)

Grade crítica

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *