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Sinopse

Os dois últimos anos de vida da cantora e compositora alemã Nico, considerada uma das musas de Andy Warhol e que cantou com o grupo The Velvet Underground. Ao lado do filho Ari, ela passou um bom tempo de seus momentos finais tentando provar a paternidade de Alain Delon, que negava.

Crítica

Nico 1988 não é aquela cinebiografia usual de astros da música. Em primeiro lugar, não mostra o retratado em seu ponto de maior sucesso. Em segundo, faz de tudo para tangenciar outros nomes famosos que passaram pela vida da artista. Em terceiro, não utiliza a voz da protagonista para conceber suas apresentações. Em quarto, e último, tem uma intérprete que lembra pouco a personagem central. Por essas e tantas outras, o longa-metragem de Susanna Nicchiarelli, que retrata os dois últimos anos de Nico, a cantora que gravou um dos melhores discos dos anos de 1960 ao lado do The Velvet Underground, é tão fora da curva. E, talvez por isso mesmo, conquiste os fãs e os neófitos.

A própria Nico era fora da curva. Nascida na Alemanha em 1938, Christa Päffgen (seu nome verdadeiro) não se importava se as pessoas gostavam de sua música, com o termo “comercial” sendo quase um xingamento. Ela era autêntica artisticamente e em sua trajetória. Na carreira solo, jamais alcançou o sucesso de seus momentos ao lado de Andy Warhol e do The Velvet Underground. Isso, no entanto, nunca a impediu de buscar sua musicalidade, gravar discos que desafiavam o status quo e trazer em seus shows performances bastante cruas. Esse lado selvagem, indomável, aparece muito bem no longa-metragem, com o desempenho da premiada atriz dinamarquesa Trine Dyrholm ditando o tom da trama. Desafiando-se a cantar as músicas de Nico, com direito às famosas All Tomorrow’s Parties e These Days, a atriz faz um belo trabalho no palco, conseguindo entregar uma atuação cheia de nuances, demonstrando o momento complicado que Nico vivia na época.

Nicchiarelli é muito feliz em contar esse trecho da vida de Nico, pontuando momentos de fama da artista com comentários de seus companheiros de cena. Sabemos do seu passado com o The Velvet Underground, do romance com Brian Jones, dos Rolling Stones, do relacionamento com Jim Morrison, do The Doors. Mas nada disso define a personagem ou toma o centro da trama. Da forma como a cineasta concebe a história, acertadamente esses pareamentos passados são notas de rodapé. Andy Warhol aparece em imagens de arquivo, assim como a própria Nico na juventude, em flashes que surgem organicamente dentro da trama. Como se fossem faíscas de memória de Nico. Sua relação mais importante, com o filho Ari (Sandor Futek), ganha relevância, assim como seu agente Richard (John Gordon Sinclair), sujeito que tem uma queda pela estrela.

Dyrholm tem praticamente um show particular no filme, visto que nenhum outro personagem ganha tanto espaço. Questões como o abuso de drogas e o abandono do filho são tratadas de forma bem aberta – e o filho da artista recebe um agradecimento especial no fim do longa. Tudo soa muito verdadeiro, como a própria Nico provavelmente gostaria. Sem floreios. A verve cínica da artista é divertidamente emulada nas entrevistas encenadas no longa. A franqueza de Nico e sua falta de vontade de falar sobre o passado são pontiagudas.

Produção italiana curta, com apenas 90 minutos de duração, Nico 1988 tem andamento lento e pode desagradar aqueles que esperam uma obra mais musical a respeito da cantora. Existem números musicais, claro, mas são esporádicos e usados para ajudar a contar a história. As canções servem de comentário às situações vividas pela artista, falecida prematuramente aos 49 anos de idade, em 1988. Curiosamente, o ano que está no título ganha apenas 20 minutos de ação, com a maior parte do enredo passando-se em 1986. Embora seja interessante acompanhar aquele trecho da vida de Nico, a vontade de observar a história dela na Factory e daqueles intensos anos 60 sob o ponto de vista da artista é uma realidade inegável.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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