Crítica
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Sinopse
Dois anos após salvar o Natal, os irmãos Kate e Teddy estão passando por um momento familiar conturbado. Mas, as prioridades passam a ser outras quando um ser mágico ameaça o Polo Norte e consequentemente o Natal.
Crítica
O cinema protagonizado por crianças está repleto de aventuras fantásticas alimentadas pelos subtextos mundanos. Por exemplo, em E.T.: O Extraterrestre (1982), Steven Spielberg faz da amizade entre o menino e o alienígena uma espécie de válvula de escape espetacular ao humano angustiado pelo recente divórcio dos pais. A missão de proporções inimagináveis que se transforma numa jornada de amadurecimento pessoal, de crescimento em sentido estrito, também se faz presente neste Crônicas de Natal: Parte Dois, sequência menos inspirada de Crônicas de Natal (2019). Kate (Darby Camp) resiste a aceitar o novo relacionamento amoroso da mãe, principalmente porque está vivenciando uma dificuldade para lidar com o fato de perder o pai enquanto figura masculina de referência. Exatamente por desobedecer, num típico comportamento pré-adolescente, ela cai nas garras do vilão que utiliza a sua velha amizade com o Papei Noel (Kurt Russell) para colocar em andamento um plano maléfico. A partir do estratagema, o Natal novamente está em risco e, em meio a lições valiosas, os pequenos viram peças-chave ao sucesso da resistência. Pena o filme se contentar com a superfície.
Um dos maiores problemas de Crônicas de Natal: Parte Dois é o excesso de cenas feitas inteira ou parcialmente em computação gráfica. Embora tenha material suficiente para dosar escapismo e pontuações dramáticas interessantes sobre crescimento e a geralmente dolorosa aceitação das mudanças, o cineasta Chris Columbus prefere mutilar momentos tocantes, esvaziando-os de emoção em prol da correria que nem imprime uma intensidade tão digna de nota. Uma das coisas apenas pontuadas, mas que no fim das contas acaba quase passando batida, é que Kate se identifica com a rebeldia do antigo elfo transformado em humano e determinado a fundar a própria vila natalina no Polo Sul. E, quando estabelece a ponte, o realizador o faz de maneira acintosa e pouco efetiva. Em dois discursos raivosos de Belsnickel (Julian Dennison), a câmera se demora no rosto da menina que parece entender ser mais parecida com o antagonista do que gostaria, sobretudo por conta da pirraça de não olhar para os lados e, ao menos, tentar compreender que pessoas amadas têm suas demandas. A apreensão não é cultivada. Somente trazida à tona e logo menos exterminada.
É dada bem mais importância às várias e repetitivas sequências de embates de trenós voadores, às lutas com felinos gigantes e à balbúrdia élfica. Assim, Crônicas de Natal: Parte Dois gradativamente perde contato com o elemento orgânico, o que ajuda a deixar um tanto frios os instantes de risco, as missões supostamente impossíveis e as ameaças severas para algo tão imprescindível quanto o Natal. Exemplo disso, a árdua viagem à Turquia para restabelecer a estrela natalina, citada como tarefa perigosíssima, durante a qual engrenagens milenares precisam revirar-se. Tão logo o Papai Noel e Kate chegam, anunciando a tragédia que deve ser consertada, os elfos se prontificam a acender fornalhas mitológicas como se estivessem cotidianamente colocando lenha num forno para assar biscoitos. Como essa, várias sequências perdem impacto pela displicência com a qual são observadas e desenvolvidas. Ademais, não ajuda ter um vilão beirando o inexpressivo, não pela filiação ao arquétipo surrado do renegado, mas pelo modo como representa a ameaça.
Além dessa predileção exagerada pela pirotecnia, Crônicas de Natal: Parte Dois ainda aponta a certos caminhos bem-vindos, mas acaba deixando de desenrola-los. Um deles, a chama maternal que inflama o coração da Senhora Noel (Goldie Hawn) quando as crianças chegam inesperadamente. Dá para perceber que há ressentimentos e melancolias escondidas sob seus sorrisos, mas o filme não se esforça para fazer essa personagem ser mais que a valente esposa do Papai Noel. Kurt Russell continua se esbaldando e saindo-se muito bem como o Bom Velhinho, mas dessa vez tem menos espaço para prevalecer. No frigir dos ovos, as lições são forçosamente apreendidas, as atribulações contornadas pelo espírito natalino e as famílias – a de Noel e a da Kate – encontram uma forma de rearranjar-se. O problema não é vocação pelas convenções, especialmente a inclinação óbvia por conciliações no pós-aventura, mas como em poucos instantes Chris Columbus e companhia injetam veemência numa narrativa que soa bastante postiça. A impressão que fica é de uma realização preguiçosa, satisfeita em surfar nas velhas ondas, mas sem preocupar-se com o vigor delas.
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