Crítica


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Sinopse

O presente de Natal das crianças ao redor do mundo está em risco. Isso porque os irmãos Kate e Teddy Pierce fizeram suas travessuras. Empenhados em flagrar o exato momento da chegada do Papai Noel, os dois se acomodaram em seu trenó e, acidentalmente, danificaram o veículo. Agora eles precisam fazer uma força-tarefa para ajudar o bom velhinho a correr contra o tempo, entregar os presentes e salvar o Natal.

Crítica

Não é exatamente pela originalidade que Crônicas de Natal se torna relativamente bem-sucedido, mas pelo carisma dos personagens e também por conta de um clima de fábula familiar que resvala apenas ocasionalmente no sentimentalismo exagerado. A trama envolvendo um Natal em risco, e todas as consequências dessa catastrófica possibilidade, é um pano de fundo aventuresco e festivo das jornadas humanas, especialmente, a de Teddy (Judah Lewis), cético jovem que flerta com a criminalidade enquanto negligencia as tentativas de reaproximação da irmã mais nova, Kate (Darby Camp), cuja obstinação é cativante. Depois de desenhar essa situação doméstica conturbada pela falta de comunicação, conjuntura gerada pela morte do pai bombeiro num incidente profissional, o diretor Clay Kaytis insere o extraordinário, ou seja, a presença literal do Papai Noel. E, sem dúvida, outro ponto positivo do filme é o trabalho de Kurt Russell como o bom velhinho menos rechonchudo que de costume, dono de uma personalidade envolvente.

Crônicas de Natal foca na aproximação dos irmãos até ali afastados. Depois de armarem uma arapuca ao Papai Noel, faze-lo perder as renas e o saco de presentes, os dois precisam unir forçar para evitar o cataclismo da derrocada do espírito natalino. O trio de atores está afinado em cena, com destaque inicial ao desempenho da menina Darby Camp, que vive uma figura absolutamente encantadora, e o veterano Kurt Russell, cuja concepção de um personagem tão icônico é singular. Seu Papai Noel não é uma entidade querendo ser forçosamente descolada, tampouco um idoso aferrado demasiadamente ao seu modus operandi. É, na verdade, uma mescla orgânica e bem desenvolvida desses dois âmbitos, elaboração especialmente exitosa nos momentos em que o roteiro permite o estabelecimento de um elo entre o natal e as criança interiores dos coadjuvantes. Mesmo não aproveitando esse potencial totalmente a contento, é bonita a forma como as rememorações repercutem nas pessoas, sublinhando a dimensão emocional da emblemática data festiva.

Por certo as curvas dramáticas, principalmente a de Teddy, são completamente previsíveis. Antes um garoto problema, gradativamente ele encontra um propósito na improvável crença natalina. Sua ascensão ao protagonismo acaba eclipsando um pouco o papel da irmã, embora ainda assim seja divertido vê-la interagindo com os duendes de CGI – cuja qualidade estética varia do bom ao questionável –, e auxiliando sobremaneira à manutenção da esperança. Impagável é o número musical na cadeia, liderado por um Papai Noel bluesman, com direito a banda completa, vocais de apoio e uns óculos escuros que conferem estilo. Apesar de telegrafar seus passos, de transitar por caminhos fáceis de antever, Crônicas de Natal conserva seu charme exatamente pela maneira como entrelaça a urgência da missão de importância mundial, demonstrando a mitologia durante os desdobramentos, e o acerto de contas dos irmãos que amadurecem conjuntamente em contato com o imponderável. O realizador dosa as emoções satisfatoriamente.

Crônicas de Natal é um conto natalino com praticamente todos os ingredientes que fizeram célebre esse tipo de produção sazonal, soando como uma saborosa comida requentada justamente em virtude do encadeamento eficaz dos elementos e das instâncias. Não há grandes surpresas e reviravoltas, mas a mensagem de esperança e afetuosidade é bem defendida, com o bônus de um Papai Noel entalhado com brios por Kurt Russell, que traz ao personagem a malícia que o afasta necessariamente de uma ideia de irrestrita de correção. Não chegando a ser um malandro tipificado, o seu guardião do Natal é um sujeito que prega coisas como a cooperação e a premência de fortificar as pontes entre as pessoas e os seres a fim de lograr êxito. De quebra, há as participações, infelizmente subaproveitadas, do ator e músico Steven Van Zandt e da atriz Goldie Hawn. De brinde, ficam as tiradas sobre preconcepções quanto ao fenótipo de Papai Noel e a menção aos filmes clássicos que têm suas reprises garantidas nessa ótima época do ano.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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