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Sinopse

Adonis Creed saiu mais forte do que nunca de sua luta contra ‘Pretty’ Ricky Conlan, e segue sua trajetória rumo ao campeonato mundial de boxe, contra toda a desconfiança que acompanha a sombra de seu pai e com o apoio de Rocky. Sua próxima luta não será tão simples, pois terá que enfrentar um adversário que possui uma forte ligação com o passado de sua família, o que torna tudo ainda mais complexo.

Crítica

Uma das cinesséries mais bem-sucedidas tanto entre o público como também junto à crítica, a trajetória de Rocky Balboa parecia ter dado seu último suspiro no tardio – e apropriadamente batizado – Rocky Balboa (2006), lançado 16 anos após o desnecessário Rocky V (1990). Era um epílogo à altura do personagem que havia surgido pela no primoroso Rocky: Um Lutador (1976), longa que não apenas revelou ao mundo o astro Sylvester Stallone, como também ganhou 3 Oscars (entre eles os de Melhor Filme). Pois bem, como em Hollywood uma das máximas mais empregadas é a de que “nunca diga nunca”, mais uma década se passou e nos vimos novamente diante do herói, agora combalido e afastado dos ringues, em Creed: Nascido para Lutar (2015). A aposta foi um sucesso: rendeu nas bilheterias de todo o mundo quase cinco vezes o valor do seu orçamento, colocou Stallone mais uma vez entre os finalistas do prêmio da Academia e reacendeu o interesse do público por um ícone quase abandonado, ao mesmo tempo em que abriu espaço para novas – e interessantes – figuras. Pois eis que agora estamos diante de Creed II, o capítulo seguinte desta saga rediviva que, curiosamente, faz exatamente o que o episódio anterior evitou: acomodou-se em louros alheios e eximiu-se de qualquer toque de originalidade. O resultado, como não poderia ser diferente em casos assim, é não mais do que frustrante.

Para quem chegou agora, uma breve explicação: Adonis Johnson (Michael B. Jordan) é filho de ninguém menos do que Apollo Creed, amigo e um dos mais importantes rivais de Rocky Balboa, que anos atrás, após ter perdido uma luta para o campeão italiano, aceitou um combate com o russo Ivan Drago (Dolph Lundgren), o que acabou selando o seu destino: ele morreu no meio do confronto, vítima de um golpe fatal. Se em Creed: Nascido para Lutar o diretor Ryan Coogler – o mesmo que depois lançaria Pantera Negra (2018) – usou esse gancho do passado para oferecer uma nova visão sobre os personagens, em Creed II o novato Steven Caple Jr. (que dirigira antes apenas o pouco visto The Land, 2016, além de curtas, documentários e programas para a televisão) se contenta em trilhar um caminho seguro, percorrendo a mesma cartilha do anterior. Portanto, se antes fora a vez do filho de Apollo, agora chegou o momento do filho de Drago dar às caras.

O que até não seria um problema, é preciso acordar, caso tal abordagem, ainda que repetitiva, fosse feita com criatividade e com algo interessante a oferecer. Não é o que vemos por aqui, no entanto. Rocky Balboa e Ivan Drago estão em cena, mas em presenças tão coadjuvantes que são praticamente irrelevantes. Balboa até tenta fazer um certo drama, antevendo o que poderia acontecer uma vez que um Creed e um Drago concordassem em se enfrentar novamente, mas nada perdura o bastante a ponto de influenciar qualquer decisão. Por outro lado, pouco – para não dizer nenhum – espaço é dado ao oponente Viktor Drago (o desconhecido Florian Munteanu, um boxeador romeno que fez carreira no esporte e agora dá seu primeiro passo no cinema. As atenções seguem voltadas quase que exclusivamente ao que se passa com Johnson. Porém, ele continua em plena forma, no domínio total do seu jogo. Tentar imprimi-lo como um lutador hesitante, enfraquecido e temeroso diante de um inimigo recém-chegado é tão falso quanto incompreensível.

Mas, na tentativa de fazer valer os esforços dirigidos a essa direção, Creed II assume uma postura mais problemática – e, por que não dizer, constrangedora. É quando a questão familiar passa a ser vista não apenas como um mérito, mas um problema a ser enfrentado pelo protagonista. Ele e a namorada, Bianca (Tessa Thompson, com pouco o que fazer em cena), decidem se casar e logo providenciam o primeiro filho. Quando descobrem que a criança pode herdar a mesma dificuldade auditiva da mãe, ao invés de lidarem com o tema como adultos donos de posses e recursos, o que presenciamos são esforços pífios para fazer que o problema de um justifique o desencontro de outro – como se Creed não pudesse ser um bom boxeador por causa da situação que precisa lidar em casa, se vendo obrigado a lidar com culpas e ressentimentos. Os pais de Viktor também são motivos de perturbação – principalmente a mãe, Ludmilla (uma sumida Brigitte Nielsen, que tem tão pouco tempo em cena que é de se perguntar por que decidiram chamá-la). E sem falar dos próprios dilemas enfrentados por Balboa, que sabe-se lá porquê se mantem distante do próprio filho (Milo Ventimiglia, voltando ao papel que havia defendido em Rocky Balboa, em uma participação tão descartável quanto irrelevante).

Era compreensível, além de esperada, a realização deste Creed II. E houve tempo mais do que suficiente para que um bom – não necessariamente um grande, pois aí talvez fosse pedir demais – filme fosse feito. Porém, nem mesmo a postura sempre segura de Jordan – cada vez mais à vontade como centro das atenções – é capaz de salvar essa experiência do total descaso. Absolutamente previsível em um desfecho que não teria como ser diferente – quer dizer, até poderia ter seguido outro rumo, mas para isso seria preciso uma ousadia inexistente nessa produção – e sendo capaz de reunir talentos que pouco – ou quase nada – tem o que fazer em cena, este é um conjunto visivelmente interessado apenas em fazer número, mantendo certos nomes em alta para evitar que voltem a cair no esquecimento. Porém, sob outra ótica, um justo e merecido descanso não seria um fim muito mais digno?

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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