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Sinopse

Aglaé, uma jovem trabalhadora, tem apenas um ponto de referência na vida: seu trabalho em uma empresa de testes de colisão em carros. Quando fica sabendo da mudança da empresa para outro país, ela aceita, para surpresa geral, partir para a Índia para não perder seu emprego. Acompanhada por duas colegas, ela embarca, de carro, em uma jornada perigosa até o fim do mundo.

Crítica

Nos primeiros momentos de Crash Test Aglaé, um trio de colegas discute o futuro de seus empregos com a diretoria da fábrica prestes a levar suas operações para a Índia. A cena, quase nonsense, fica cada vez mais absurda conforme elas aceitam ser transferidas para as novas instalações indianas, indo ao encontro da vontade dos empresários comicamente dispostos do outro lado da mesa, chocados porque a proposta paliativa é, de fato, levada a sério pelas três – situação que só degringola mais quando membros do sindicato invadem a pequena sala de reuniões tentando fazer os empresários e seus advogados reféns de um protesto. O interessante é o quanto esse momento contrasta com o terço final da produção, em que a protagonista, Aglaé (India Hair), habita uma narrativa similar a de Na Natureza Selvagem (2007) ou de Gabriel e a Montanha (2017), explorando as paisagens desérticas do Oriente Médio, tentando chegar no seu destino.

Entretanto, o diretor Eric Gravel (que também assina o roteiro), debutando na função em longas-metragens, constrói a trajetória de Aglaé de forma tão orgânica que a mudança de tom não se torna um problema. Muito pelo contrário, pois passa a representar ela mesma um símbolo do amadurecimento das ideias da personagem central. Agarrada ao seu emprego como preparadora de carros para testes de colisão numa fábrica de automóveis, a moça enxerga a proposta de se mudar para a Índia como a solução mais óbvia para seus problemas, pois não se enxerga fazendo qualquer outra coisa da vida. É assim que ela, Liette (Julie Depardieu) e Marcelle (Yolande Moreau) acabam pegando a estrada em direção ao Oriente.

Crash Test Aglaé assume, portanto, uma estrutura de road movie com ares de Odisseia nonsense, em que as personagens encontram as mais variadas figuras e situações peculiares – lembrando, por vezes, esforços como os dos irmãos Joel e Ethan Cohen em E aí, Meu Irmão, Cadê Você? (2000). Porém, se o filme protagonizado por George Clooney sofria com uma narrativa episódica incapaz de dar liga ao conjunto de boas ideias, o longa de Eric Gravel já parece bem mais à vontade ao costurar tantos momentos distintos – do diálogo hilário em que Siclana explica os motivos de decidir viver com a ex-madrasta de Aglaé, passando pelo delicado, em que a protagonista assiste a um show de artistas itinerantes num acampamento cigano, o filme possui planos belos e inusitados, tais como o da mulher andando de bicicleta numa planície enquanto soldados de paraquedas caem ao redor.

Aliás, é interessante como, nesta parte final, Gravel investe em planos que recorrentemente colocam a pequena figura de Aglaé contra cenários que evocam a imensidão e vastidão dos países atravessados – além de compor quadros belíssimos como o que espelha num lago, perfeitamente, o cenário acima deste, enquanto a moça passa no meio na linha que divide os dois. Isso, apesar de, no final das contas, o filme acabar soando como um genérico de A Vida Secreta de Walter Mitty (2013), concluindo suas ideias em mensagens de superação e boas energias que quase comprometem seu desfecho, antes tão hábil ao se equilibrar entre o cinismo e a reflexão – auxiliado nessa tarefa principalmente pela performance de Hair, sempre com a expressão fechada e um modo bruto de dizer suas falas, condizentes com a garota que vivia para seu trabalho de colidir carros.

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é formado em Produção Audiovisual pela PUCRS, é crítico e comentarista de cinema - e eventualmente escritor, no blog “Classe de Cinema” (classedecinema.blogspot.com.br). Fascinado por História e consumidor voraz de literatura (incluindo HQ’s!), jornalismo, filmes, seriados e arte em geral.
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