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Sinopse

Na ilha de Berk, os vikings dedicam a vida a combater e matar dragões. Soluço, filho do chefe Stoico, não é diferente. Ele sonha em matar um dragão e provar seu valor, apesar da descrença geral. Um dia, por acaso, ele acerta um dragão que jamais foi visto, chamado Fúria da Noite. E além de não matá-lo, acaba acaba por soltá-lo. Só que o animal perdeu parte da cauda e, com isso, não consegue mais voar. Soluço decide ajudá-lo e, aos poucos, se aproxima do dragão. Só que, paralelamente, Stoico autoriza que o filho participe do treino para dragões, cuja prova final é justamente matar um dos animais.

Crítica

Quem pensava que a DreamWorks nunca conseguiria atingir o sucesso e a qualidade da sua principal concorrente – a Pixar/Disney – na animação digital, após conferir Como Treinar o Seu Dragão terá que rever este conceito. Afinal, este novo trabalho não só é encantador e comovente, como também cheio de adrenalina e de altas doses de emoção. Ou seja, é uma aventura clássica, em que o herói é aquele que menos esperamos, justamente por apostar no sentimento, ao invés da força bruta. Claro que há também muito humor, aquele sarcasmo característico dos últimos tempos e piadas de duplo sentido, que funcionam muito melhor com os adultos do que com os pequenos. Mas o melhor mesmo é que o que encanta é a trama, repleta de boas mensagens e de personagens convincentes e verdadeiros, a despeito de toda a pirotecnia que aparece ao redor.

Após o resultado mais que contraditório de Monstros VS. Alienígenas (2009), o primeiro longa da produtora em 3D, resolveu-se apostar no que era garantido – mais ou menos como a decisão por um quarto episódio do ogro verde Shrek, só que desta vez na terceira dimensão. Entre um e outro, porém, sobrou um espaço para que a dupla criadora do divertido Lilo & Stitch (2002), os diretores e roteiristas Dean DeBlois e Chris Sanders, adaptassem o livro infantil de mesmo nome da autora Cressida Cowell. E assim nasceu Como Treinar o Seu Dragão, que parte de um pressuposto fantástico – e se dragões realmente existissem? – para criar uma história de amizade, confiança, coragem e honra. Tudo envolto pelas técnicas mais modernas de animação digital, com efeitos capazes de deixar qualquer um de queixo caído. É de ficar literalmente na ponta da cadeira, torcendo pelos protagonistas!

Nosso herói é um rapaz que não se encaixa no estereótipo padrão do viking, como todos os vizinhos e amigos. Isso por si já seria um problema, mas para ele a situação é ainda pior, pois é filho do chefe da aldeia. Atrapalhado e franzino, se esforça demais para querer ajudar, nem sempre com bons resultados. Tudo muda quando, durante um ataque dos dragões as suas casas, ele consegue derrubar um destes seres alados e cuspidores de fogo – o problema é que, como ninguém vê a proeza, não acreditam nele. Sozinho, vai atrás da caça abatida. Ao encontrar o monstro, no entanto, descobre que o bicho não é nada daquilo que sempre ouviu – e após um ato de bondade com o novo amigo, os laços entre eles se fortalecem, a ponto dos dois se tornarem inseparáveis. E assim esta improvável dupla irá mostrar a todos – homens e dragões – que a união destes povos, além de possível, é também necessária, pois somente juntos poderão se livrar de uma mesma ameaça.

Outra boa surpresa de Como Treinar o Seu Dragão é o time de dubladores da versão original em inglês. Foram recrutados os amigos Jay Baruchel, Christopher Mintz-Plasse e Jonah Hill (vistos juntos em filmes como Ligeiramente Grávidos, 2007, e É O Fim, 2013), além de outros nomes populares, como America Ferrera (Ugly Betty, 2006-2010) e Gerard Butler. O bom entrosamento entre eles transparece nos personagens, conferindo ao que vemos em ação uma verossimilhança poucas vezes sentida em desenhos animados. Sim, este é um longa perfeito para o público infantil, e que também deverá obter um forte reconhecimento entre os mais maduros. Mas não é daqueles filmes que funcionam melhor com uma ou outra audiência. Sua história é universal, e seus méritos são indiscutíveis. Uma obra completa, para ser vista mais de uma vez. E não se incomode se entre um susto e outro, entre um momento de aflição ou de graça, rolar uma lágrima pelo canto do olho. Tudo faz parte do pacote, e é justamente por isso que é tão bom!

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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