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Sinopse

Depois que a filha de David Kim desaparece, uma investigação é aberta. Mas 37 horas depois e sem pistas, ele decide buscar no único lugar que ninguém explorou ainda: o laptop da filha. A partir do que descobre, David vai traçar as pistas digitais deixadas por sua filha antes que ela suma para sempre.

Crítica

Exibido com sucesso no Festival de Sundance, de onde saiu com dois troféus – Prêmio Alfred P. Sloan, para o uso da tecnologia na ficção, e do Júri Popular – Buscando... é o típico filme no qual o espectador mais desatento pode se confundir entre as duas forças em execução durante o seu desenrolar. Por um lado, há uma trama bem amarrada, que vez que outra pode deixar algumas pontas soltas e outras forçando um tanto a barra, mas ainda assim convence e entretém na medida exata. Em paralelo, no entanto, há uma ideia sendo perseguida à exaustão, que é o modo no qual o enredo optou por se apresentar. Afinal, tudo o que se desenrola em cena é exibido ao público através da tela do computador, laptop ou smartphone do protagonista. Não se tem acesso à “vida real”, portanto, restringindo a assistência do público ao que é possível ver através destes aparelhos, câmeras e redes sociais. Uma proposta interessante, que pode cansar aqui e ali, mas no geral se revela bem empregada, evitando o mero exercício de estilo, ainda que esse seja, sim, um princípio a ser cumprido.

David Kim (John Cho) é feliz com a sua família. Bem casado com Pam (Sara Sohn, de Velozes e Furiosos 7, 2015), os dois são pais da pequena Margot, a quem acompanhamos desde a infância até a adolescência (vivida, neste último estágio, por Michelle La). Além do desenvolvimento da filha, ficamos a par também, através de vídeos familiares, registros e mensagens compartilhadas, da doença da mãe, que desenvolve um câncer que acaba por lhe tirar a vida. O homem e a garota ficam sozinhos, e ainda que continuem sendo uma família, algo definitivamente se perdeu naquele lar, e não se sabe se o tempo será capaz de superar tal ausência. Seguem com suas vidas, mas a distância entre os dois parece cada vez maior. A criança tão sorridente se tornou uma jovem sisuda, e o pai só tem tempo para o trabalho, restringindo seu contato com a menina a perguntas protocolares, sobre lições de casa e grupos de estudo, além de obrigações familiares, como retirar o lixo nos dias combinados.

Tudo muda, no entanto, quando as tarefas combinadas não são feitas, apesar de todas as cobranças. Telefonemas não são atendidos. Materiais foram deixados para trás. Ninguém sabe dela. Onde está Margot? O pai, desesperado, passa a ligar para todos os conhecidos – mas quem são os amigos da filha? Ao mergulhar no mundo virtual onde a jovem havia se escondido durante esse ano de silencioso luto, ele aos poucos vai descobrindo uma nova pessoa, alguém que nem sonhava dormir no quarto ao lado do seu. Revelações surpreendentes são feitas, caminhos sem volta são percorridos, mas o mistério permanece: por que ela não responde? Teria fugido? Mentiras, identidades falsas e conexões com desconhecidos parecem indicar uma fórmula pronta para escapar daquela realidade que a deprimia. Mas seria esse cenário o mais confiável? Ou apenas mais uma cortina de fumaça, propositalmente jogada sobre uma verdade que hesita em se manifestar?

Com a ajuda da detetive Vick (Debra Messing, eficiente em compor uma personagem dramática, distante da protagonista da série Will & Grace, 1998-2018), David começa uma investigação a respeito desse ambiente fictício no qual cada vez mais indivíduos tratam de idealizar realidades perfeitas, porém invariavelmente ilusórias. Há uma crítica forte sendo feita no enredo do diretor e roteirista estreante Aneesh Chaganty, e se ele consegue equilibrar um olhar mais cínico sobre o ambiente escolhido para situar sua história, ao mesmo tempo constrói uma narrativa envolvente, que exige atenção redobrada do espectador, pois recompensa à altura àqueles ligados nos desdobramentos apontados. Cada detalhe, situação cogitada ou nova figura que surge poderá apontar tanto para um desfecho provável como para um beco sem saída. Reconhecer de antemão quais esforços são, de fato, válidos, não só se revela um exercício preciso, mas também uma questão de vida ou morte. Afinal, Margot fugiu, ou foi levada?

É mérito também de Buscando... a entrega de John Cho no papel principal. Após ter despontado como comediante na série de filmes Madrugada Muito Louca (2004-2008-2011) e ter se firmado como coadjuvante de respeito na recente trilogia Star Trek, somente no ano passado foi notado por uma composição mais dramática no drama independente Columbus (2017). Aqui o formato pode ser mais reconhecível – afinal, estamos em um legítimo thriller, com os elementos típicos ao gênero – mas é na atuação séria e intensa dele que a audiência se apoiará durante esta montanha-russa de altos e baixos. Alguns caminhos – como a ligação do tio com a sobrinha – são distrações que podem incomodar, e um texto mais enxuto talvez servisse melhor ao propósito almejado. Nada, no entanto, que prejudique a experiência que este filme propõe. A forma inovadora e contemporânea que escolhe para fundar suas estruturas com certeza desperta a curiosidade. Mas se atentos seguimos, não é apenas pelo formato, e sim pelo intrigante conteúdo que revela, sem exageros, nem atropelos.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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