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Sinopse

Mitch é um salva-vidas comprometido e orgulhoso de sua labuta diária. Durante o treinamento do recruta Matt, eles descobrem uma conspiração criminosa no local.

Crítica

Tem coisas que é melhor deixar no passado. Hollywood ainda não aprendeu, mas a era de remakes está cada vez mais fadada ao fracasso. Os números não mentem: filmes como Kong: A Ilha da Caveira (2017), Rei Arthur: A Lenda da Espada (2017), Alien: Covenant (2017) e até o quinto Piratas do Caribe (A Vingança de Salazar, 2017), todos lançados nos últimos meses, podem até se pagar na bilheteria mundial. Porém, já não são garantias de sucesso, mesmo a franquia encabeçada por Johnny Depp. O que dizer de Baywatch: S.O.S. Malibu, longa baseado na série de sucesso dos anos 1990 que poucos jovens conhecem e, ainda por cima, traz um discurso tão machista que parece preso à década em que seu produto original foi realizado? Se nem o timing cômico já conhecido de Dwayne Johnson e Zac Efron é capaz de salvar a produção de se afogar, o que mais resta?

Os dois fazem parte daquele enredo clássico das comédias: duas pessoas que não se suportam, mas acabam ficando amigas para enfrentar um problema em comum. No caso, Mitch Buchannon (Johnson) é o chefe da elite de salva-vidas de uma praia com suas colegas, CJ (Kelly Rohrbach) e Stepanhie (Ilfenesh Hadesh), que fazem mais do que resgatar afogados em alto-mar. Eles agem como uma polícia da areia, ainda que sem jurisdição. Três novas vagas são preenchidas com o abobalhado Ronnie (John Bass), a CDF Summer (Alexandra Daddario) e o nadador olímpico Matt Brody (Efron), que caiu no ostracismo após um mico nos últimos Jogos Olímpicos. Juntos, eles precisam resolver um caso que envolve tráfico de drogas, especulações imobiliárias e uma perigosa empresária, Victoria Leeds (Priyanka Chopra).

Apesar do elenco cheio de nomes, não se engane. Os holofotes estão apenas na dupla principal. As mulheres são relegadas a coadjuvantes gostosonas que nada fazem além de servir de escada para os colegas do sexo masculino. Ainda que CJ (o equivalente à Pâmela Anderson do original) tenha um talento cômico mais apurado e divertido do que seu par forçado, o gordinho Ronnie (que não tem graça nenhuma no papel clichê do nerd apaixonado pela garota mais linda que, sem o espectador entender, dá bola para alguém tão idiota). Nisso, Johnson e Efron bem que tentam imprimir algum carisma aos seus tipos (o chefe fortão e sábio versus o bonitinho acéfalo), especialmente quando Mitch chama Matt de várias boy bands e outras referências (eu ouvi High School Musical?), menos de seu nome verdadeiro. Porém, não é o suficiente.

A trama em si até tem um plot interessante e, ainda que caia no arquétipo unilateral da vilã sem escrúpulos, Chopra rouba a cena com sua Leeds quando aparece. Mas, também, não é o bastante. Os efeitos visuais são patéticos, com um chroma key tão amador que parece saído de alguma produção dos anos 1950. Em uma determinada cena que envolve fogo sob o mar, as chamas conseguem mudar de cor em três takes seguidos. Sem contar que, claramente, dá pra ver que os atores não estão ali. Ou o cenário. Enfim, vice-versa. Algumas situações colocadas até rendem risadas, como a briga de brinquedos no quarto de uma menina e a constante satirização do slow motion quando as garotas saem do mar, mas são momentos pequenos que não ajudam no todo.

E a culpa é de quem? Difícil dizer. O diretor Seth Gordon parece ter esquecido sua bela condução atrás das câmeras no primeiro Quero Matar Meu Chefe (2011) e faz tudo no automático. Pior, como se fosse uma série de TV. Não atual, mas de duas, ou até três décadas atrás, com enquadramentos mal utilizados numa estética pouco atraente. Ninguém espera aprofundamento num filme desse tipo, mas não é pedir demais exigir um mínimo de coerência. Além de inúmeras pontas soltas na história, dois astros mal utilizados e uma presença feminina tão subaproveitada em uma época que elas dominam as bilheterias, Baywatch: S.O.S. Malibu não serve como diversão nem para o último machão da Terra. O melhor de tudo é a participação dos dois grandes nomes da série original. Pena que apareçam tão pouco. Em meio a um roteiro tão pobre repleto de diálogos caricatos, também termino este texto com uma metáfora tão clichê quanto o filme: morreu na praia.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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