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Sinopse

Junior é um jovem jogador de futebol de um pequeno time cidadezinha de Saquarema. Inesperadamente, ele e sua namorada descobrem que vão ter um filho, ao mesmo tempo em que seu melhor amigo está prestes a ser chamado para jogar em um time profissional. Entre o amor, a lealdade e a inveja, começam a surgir grandes conflitos dentro da cabeça de Junior.

Crítica

Qual é a grande paixão nacional? Nem precisa pensar muito: o futebol. E qual é a alternativa de vida para garotos que vivem na camada mais pobre da população brasileira? Jogar e tentar a sorte no esporte, é claro. Pode parecer uma visão limitada, mas condiz com a realidade do país e, principalmente, com o que é apresentado em Aspirantes, de Yves Rosenfeld, um drama naturalista recheado de boas intenções que acaba tropeçando um pouco em sua própria ambição, ainda que de leve. O saldo, no entanto, ainda permanece acima da média.

Saquarema, no interior do Rio de Janeiro, serve de cenário para esta história em que a inveja toma conta de um jovem em busca do sonho de ser o grande craque da bola. Júnior (Ariclenes Barroso) joga no clube do município, mas divide sua atenção entre os treinos e a gravidez da namorada (Julia Bernat). Porém, seu jogo não avança. Ao menos, não tanto como o do melhor amigo, Bento (Sérgio Malheiros), colega de time que já tem contrato assinado e um possível futuro encaminhado. É a rivalidade despertada pelo ciúme de Júnior, que vai começar a tomar conta dessa relação e, por que não, de todos os aspectos da vida do protagonista.

Em seu primeiro longa-metragem, Rosenfeld consegue captar a experiência dos jogos de futebol como quase nenhum realizador brasileiro fez nos cinemas anteriormente. Muito, talvez, pela própria falta de uma filmografia do gênero. São raros os títulos em que o futebol não é coadjuvante, e, sim, personagem principal como aqui. Não é de se esperar grandes tomadas de estádios e das partidas como um todo. A câmera do diretor sempre está focada num de seus personagens, especialmente em Júnior. Seja dentro ou fora de campo, é seu olhar e a tensão presente no corpo que evidenciam todo o caráter dramático da produção. Mérito tanto do intérprete como do criador da obra, que sabe bem aonde quer chegar.

Ariclenes Barroso é uma revelação na sua atuação ríspida, que diz tudo com poucas palavras e gestos. Seja nos confrontos com a namorada e com a mãe (Karine Teles) – que ora superprotege, ora joga tudo na cara do filho –, pelo fato de morar a contragosto com o padrasto, de trabalhar em bicos para ter algum sustento ou em virtude da própria relação com o amigo, que vai se deteriorando à medida que o personagem vê cada vez menos chances de sair de seu estado de pobreza social, Júnior vai, paulatinamente, tomando todas as dores para si, moldando sua personalidade, tornando-se alguém mais raivoso e prestes a explodir. Nem que o próprio esteja longe de se tocar disso.

No gramado, ele poderia virar uma estrela, mas esbarra noutros candidatos mais eficientes. Parece que Júnior é driblado a todo o momento, seja pelos colegas e pelo técnico (Júlio Adrião, roubando a cena), em casa, pela família ou nos raros momentos de paz com a companheira. A ira está cada vez mais presente naquele garoto, com sonhos tão altos que podem acabar se partindo – sobre o que ele tem completa noção. Os diálogos, expositivos demais por diversas vezes, quase quebram o prazer da experiência narrativa. Porém, a discussão social mais ampla que Rosenfeld impõe com sua decupagem sobressai perante o texto que carecia de mais cuidados. Aspirantes faz jus ao seu título tanto em forma e conteúdo quanto como primeiro bom passo de um cineasta que, de cara, mostra ter personalidade suficiente para conduzir um belo filme. Agora, é só não perder a jogada nas próximas investidas.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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