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Sinopse

Em Gotham City, o milionário Bruce Wayne, que quando jovem teve os pais assassinados por bandidos, resolve combater o crime como Batman, o Homem-Morcego. Mas o vilão Coringa decide dominar a cidade e se torna um grande desafio para o super-herói.

Crítica

No final dos anos 1980, o público que não lia quadrinhos conhecia apenas o Batman colorido do seriado de tevê estrelado por Adam West nos anos 1960. As onomatopéias que cobriam toda a tela, a música animada, os vilões rocambolescos e, claro, a silhueta um tanto avantajada do ator lembravam pouco o personagem criado por Bob Kane no final da década de 30, na revista Detective Comics. De qualquer forma, o sucesso da série fez com que aquela equivocada versão do herói ficasse conhecida do grande público. E foi assim por anos. Até que um semi-desconhecido Tim Burton, diretor das comédias As Grandes Aventuras de Pee-Wee (1985) e Os Fantasmas se Divertem (1988), foi convidado para assinar Batman, um longa-metragem que tentava ressuscitar as raízes sombrias do personagem depois da boa resposta de público e crítica para a graphic novel O Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller, lançada em 1986. Arrasa-quarteirões do ano de 1989, o filme estrelado por Michael Keaton e Jack Nicholson provou que uma campanha de marketing bem estruturada, atrelada a uma abordagem séria de um herói famoso dos quadrinhos, poderia dar muito certo.

Com roteiro de Sam Hamm e Warren Skaaren, o filme do homem-morcego não perde tempo contando como Bruce Wayne (Keaton) tornou-se Batman. Quando a história começa, o Cavaleiro das Trevas já amedronta os bandidos da cidade, utilizando sua assustadora fantasia de morcego para criar sua lenda. A imprensa de Gotham, na figura do repórter Alexander Knox (Robert Wuhl), tenta de todas as formas provar a existência da figura mascarada que vem ajudando a polícia a solucionar crimes. O mistério atrai a bela fotógrafa Vicki Vale (Kim Basinger), que pretende ajudar Knox na caçada ao homem-morcego. A vida do herói será dificultada após o surgimento do perigoso e amalucado Coringa (Nicholson), um sujeito que pretende causar o caos em Gotham, colocando o seu sorriso forçado nos lábios dos cidadãos e sonhando ter seu rosto impresso nas notas de um dólar.

O que primeiro chama a atenção em Batman é a direção de arte. Gotham City é mostrada como uma cidade suja, gótica, violenta. Local perfeito para um vigilante vestido de preto fazer a diferença. Curiosamente, Tim Burton escolhe não colocar seu filme em um período exato de tempo. Portanto, homens são vistos usando chapéus, sobretudos, como se estivéssemos na década de 30, mas a tecnologia vista na tela é superior ao que encontrávamos nos anos 1980. Poderia parecer um anacronismo da parte do cineasta, mas é simplesmente uma forma de colocar sua história em outro universo. Em outra dimensão.

À época do lançamento de Batman, Tim Burton foi bastante criticado por ter escalado Michael Keaton como o protagonista do filme. A resposta inicial do público foi tão negativa que milhares de cartas foram enviadas aos estúdios Warner com reclamações sobre aquela discutível escolha. Os anos passaram, Batman Eternamente (1995) e Batman & Robin (1997) vieram, deixando claro que Michael Keaton, no fim das contas, era a melhor alternativa para o papel. Se é verdade que a baixa estatura do ator e seu background em filmes cômicos deixava qualquer fã apreensivo, é igualmente verdadeiro que, quando fantasiado, Keaton conseguia fazer de Batman uma figura taciturna e ameaçadora – como deveria ser. Utilizando um tom de voz mais grave, ele pode ter sido o primeiro ator a encarar o herói como uma figura mais sombria – o que seria feito à perfeição por Christian Bale em Batman Begins (2005) e os demais longas de Christopher Nolan. Como Bruce Wayne, Keaton escolheu um approach igualmente interessante. Quando sozinho, uma figura calada, pensativa. Quando junto de Vicki Vale ou de outras pessoas, um tanto atrapalhado, excêntrico.

Por falar na mocinha do filme, Vicki Vale foi a única personagem que envelheceu mal. Naquela época, uma atriz interpretar a donzela em perigo não parecia tão ridículo como nos dias de hoje. Basta conferir os longas-metragens de super-heróis da atualidade para observar que as mulheres têm papel mais ativo nas tramas do que apenas ser o interesse amoroso do protagonista, servindo até como companheira nas aventuras de seus namorados – vide os recentes O Espetacular Homem-Aranha (2012), Homem de Ferro 2 (2010), Capitão América: O Primeiro Vingador (2011) e Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008), entre tantos outros. Em Batman, além de interpretar a donzela em perigo, Kim Basinger vive uma mulher grudenta, mal tendo um encontro com Bruce Wayne e já o perseguindo e o cobrando por atenção. Se isso já não é ruim o bastante, este comportamento difere completamente do que a trama estabelecia para a personagem, uma mulher inteligente, independente e sem medo de enfrentar perigos por uma boa foto – vide a capa da Time, durante a revolução de Corto Maltese. Esta, infelizmente, não é a única incongruência em relação à personalidade de alguns personagens. Alfred (Michael Gough), por exemplo, abre as portas da batcaverna, revelando o segredo de seu patrão, em uma atitude que não lembra em nada a conduta discreta e correta do eterno mordomo da família Wayne.

Para os fãs, essas e outras invencionices, como o fato de o Coringa ser o responsável pela transformação de Batman – e vice-versa – acabam incomodando. Mas, ao menos, o tom da história é mantido de forma bastante próxima do que poderíamos esperar de um personagem que é conhecido com o Cavaleiro das Trevas.

Desnecessário dizer que um grande herói necessita de um grande antagonista para combater. E Jack Nicholson foi a escolha perfeita para interpretar o arquirrival do homem-morcego, o brincalhão e perigoso Coringa. Caprichando nestas duas principais características do vilão, Nicholson é pura anarquia em sua interpretação de Coringa, parecendo se divertir ao encarnar um personagem tão irresponsavelmente letal. A narrativa despende um bom tempo nos apresentando ao palhaço do crime, lhe dando uma origem que o liga eternamente ao homem-morcego. Mesmo sendo uma gênese diferente dos quadrinhos – normal, visto que são linguagens diferentes – esta ligação entre os dois freaks de Gotham City acaba impulsionando a história, dando um peso maior à inimizade entre os personagens. A principal lambança é o desfecho dado ao Coringa, impossibilitando seu retorno nos longas seguintes.

Com trilha sonora escrita sob medida por Danny Elfman, que dá um tema inesquecível para o Cavaleiro das Trevas, Batman foi um grande sucesso não só pela história e pela boa execução, mas também pelo massivo trabalho de marketing da Warner, que colocou o personagem aos olhos e ouvidos de todos. Seguido de uma excelente continuação (que muitos apontam ser superior ao original) e de duas outras equivocadas sequências, o longa-metragem de Tim Burton foi a prova real de que filmes de super-heróis poderiam ser interessantes para o público e financeiramente viáveis para os estúdios. Fato que, hoje em dia, não poderia ser mais verdadeiro.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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