Anna Karenina

14 ANOS 129 minutos
Direção:
Título original: Anna Karenina
Gênero: Drama, Romance
Ano:
País de origem: Reino Unido

Crítica

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Sinopse

Casada com um alto funcionário do governo Russo, Anna Karenina se envolve com um oficial da cavalaria, assim chocando a sociedade russa de 1874. Um processo de divórcio e uma briga judicial pela guarda do filho acontecem.

Crítica

Todas as famílias felizes são iguais. As infelizes o são cada uma à sua maneira. As duas sentenças abrem Anna Karenina, uma das obras-primas da literatura do russo Liev Tolstói e resumem a ideia principal da obra: dissecar a hipocrisia da sociedade da época de forma interna e externa através do romance extraconjugal da protagonista, que dá título ao livro. A personagem já foi vivida várias vezes no cinema, entre elas por Greta Garbo (1935), Vivien Leigh (1948) e até Sophie Marceau (1997). Porém, mesmo com esse rol de estrelas, foram poucas as vezes que a genialidade do escritor e suas críticas conseguiram ser reproduzidas de forma fidedigna nas telas. Infelizmente, é o caso também da nova versão dirigida por Joe Wright, com sua musa Keira Knightley interpretando a ambígua Anna.

Para quem não conhece, a história gira em torno da aristocrata Anna (Knightley), casada há dez anos com o rico Alexei Karenin (Jude Law), um funcionário do governo. Quando ela viaja para consolar a cunhada, que foi traída por seu irmão, ironicamente acaba se apaixonado pelo conde Vronsky (Aaron Taylor-Johnson). Fato que, obviamente, acaba causando uma série de intrigas entre os principais personagens, além do polêmico romance causar repúdio e inveja da sociedade czarista. Keira está linda como de costume, mas equivocada na sua interpretação, soando artificial demais e forçando a barra. É difícil termos simpatia por ela e, principalmente, pelo amante vivido por Taylor-Johnson (conhecido por ser o protagonista de Kick-Ass: Quebrando Tudo, 2010, e do recente Selvagens, 2012), que não convence como um sedutor “destruidor de lares”. Da trinca principal, salva-se Jude Law, excelente ao reproduzir a dor do marido traído de forma seca e contida, como o personagem pede.

Esta nova interpretação da obra até tem uma grande qualidade: ao invés de ser filmado apenas como mais um longa-metragem de época, que assolam as salas de cinemas a toda hora, Joe Wright preferiu ambientar a história como um grande espetáculo filmado. Tudo é grandioso e absurdamente lindo de tão bem reproduzido. Cenários são montados e desmontados a toda hora, cortinas se abrem e se fecham, assim como os fundos são telas pintadas com o maior rigor realista e belo possível. Contudo, apesar desta estética tão apurada, o espectador pode sentir falta de um aspecto extremamente importante para sentir uma empatia com Anna Karenina: uma alma que conduza o filme.

Apesar da experiência no gênero literário com sua divertida versão de Orgulho e Preconceito, de 2005, (que inclusive rendeu uma indicação ao Oscar a Keira) e o intenso e excelente Desejo e Reparação, de 2007 (que foi indicado a diversos prêmios, inclusive ao Oscar de Melhor Filme), Joe Wright parece ter creditado tempo demais a esta excepcional reconstituição de época, porém deixou de lado uma direção mais invasiva e um roteiro mais complexo (de autoria de Tom Stoppard, que em 1999 levou o Oscar para casa pelo pífio Shakespeare Apaixonado), que fariam jus à Tolstói. Não sou dos que acreditam que filmes devem seguir fielmente suas inspirações, sejam livros, histórias em quadrinhos, peças teatrais ou o que quer que seja. As adaptações, mais do que isso, deveriam conter o essencial das obras nas quais são baseadas, sua discussão nas entrelinhas, além de poderem ser perdoadas por excluírem personagens ou tramas que não se sustentem na tela.

O que falta em Anna Karenina é isso: além da quase total exclusão de um dos principais temas (a vida no campo na Rússia do século XIX), há somente mais um caso de infidelidade que já foi retratado de tantas formas, tamanhos e cores no cinema que acaba sendo mais um exemplar do gênero, assim como seu “colega” de Oscar O Amante da Rainha (indicado a Melhor Filme Estrangeiro). O dilema moral se transforma em apenas fofocas de madames de laquê que não tinham outra preocupação na vida além de espiar a vida dos outros. Na dúvida, leia o livro. São mais de 800 páginas e a leitura pode durar semanas, mas com certeza rende mais que assistir a mais um filme tão lugar-comum como este.

Matheus Bonez

é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.

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