Crítica


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Sinopse

Em um futuro pós-apocalíptico, uma comunidade de canibais leva uma vida pacífica em um terreno isolado no Texas. Tudo muda quando um musculoso membro do clã decide brincar com a comida e acaba se apaixonando.

Crítica

Não existe nada pior para um espectador do que ser enganado logo na parte inicial de um filme. A decepção dobra de tamanho quando as expectativas são as melhores devido ao trabalho anterior do realizador. Amores Canibais, título apelativo e inexplicável para o original The Bad Batch, é mais uma produção da plataforma Netflix que promete muito e oferece quase nada. Dirigido e roteirizado pela inglesa Ana Lily Amirpour, que havia mostrado talento para o terror com Garota Sombria Caminha pela Noite (2014), o filme é ambientado em um futuro distópico cujo cenário é um deserto no Texas. Em meio a destroços de aviões e carros abandonados, a jovem Arlen, interpretada por Suki Waterhouse, é libertada de uma espécie de prisão e enquadrada dentro da linhagem de humanos chamada de “lote estragado”.

Poderia ser um misto do que há de melhor na franquia Mad Max com crítica social, e esta ideia consegue ser mantida nos primeiros vinte minutos de Amores Canibais. Capturada por uma mulher musculosa, Arlen acorda em um acampamento que mais parece uma academia a céu aberto. Homens e mulheres, em trajes mínimos e ao som de sucessos dançantes dos anos 1990, malham em equipamentos improvisados. O cheiro de comédia paira no ar, mas logo se esvai com a crueza da única cena realmente boa do longa. Sem trilha sonora, Arlen tem um braço e uma perna cortados, que vão servir de almoço para seus sequestradores. Os fãs do estilo gore vão ficar esperançosos. E nada mais.

Um simples letreiro informa ao espectador que passaram-se cinco meses e Arlen surge com uma prótese improvisada na perna. Depois de um início de silêncio, lembrando inclusive uma característica dos westerns revisionistas, Amores Canibais despenca ladeira abaixo apresentando uma série de sequências que não acrescentam nada de interessante para a história e mais parecem um exercício visual da diretora. A ideia de criar um contraste entre o cenário árido e o figurino alegrinho da protagonista, com shorts curtos e de cores vibrantes, é até inteligente, mas não ajuda a criar empatia com a protagonista. Suki Waterhouse é inexpressiva e, quando começa a falar, entende-se porque passou boa parte da história em silêncio. Sua entonação é forçada, e seu colega de cena, o fortão Jason Momoa, aqui no papel de um cubano, segue no mesmo embalo. Para completar, Keanu Reeves surge com visual de gosto duvidoso para dizer meia dúzia de frases que parecem terem sido tiradas de livros de autoajuda. O único alento parece vir de Jim Carrey, irreconhecível debaixo de uma pesada maquiagem, como um andarilho que tem função de alívio cômico num filme onde o drama já é risível.

Amirpour cria atmosfera em Amores Canibais, isto é fato. Porém, sua ideia de misturar a desolação do deserto com pistas de skate e festas raves não convence e culmina com um final forçado e “feliz” demais, indo contra toda a ideia de batalha pela sobrevivência que a parte inicial do filme propõe. A quem quiser se aventurar, mesmo depois de tantos argumentos contra o filme, prepare-se para pouco sangue e tripas e muitos closes do derrière da protagonista.

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é jornalista e especialista em cinema formada pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Com diversas publicações, participou da obra Uma história a cada filme (UFSM, vol. 4). Na academia, seu foco é o cinema oriental, com ênfase na obra do cineasta Akira Kurosawa, e o cinema independente americano, analisando as questões fílmicas e antropológicas que envolveram a parceria entre o diretor John Cassavetes e sua esposa, a atriz Gena Rowlands.
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