Crítica
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Crítica
L é policial, tem mais de vinte anos de serviço, reconhecido por seu trabalho e esforços acima da média. S é jovem, passa o tempo livre com os amigos e sonha em trabalhar com automóveis em uma mecânica. L e S se conhecem durante o jogo de vôlei, a atração é mútua e natural, e aos poucos estão saindo juntos, se descobrindo e se apaixonando. Quando se dão conta, estão sob o mesmo teto, dividindo sonhos, assumindo compromissos. Até que L fica doente. Mais do que a preocupação por si, há também o receio do que possa acontecer com S na sua ausência. Continuaria morando na mesma casa? Teria o apoio da família, dos colegas e, principalmente, da sociedade? Essas perguntas, que deveriam ser tão fáceis de responder, formam o cerne do drama vividos pelas protagonistas de Amor por Direito.
Sim, pois se L e S fossem Laurel e Sammy, ou Louis e Stacie, eles poderiam se concentrar apenas um com o outro e esquecer de todo o resto, pois o óbvio lhes estaria garantido. No mundo dito civilizado, casais heterossexuais formam uma entidade da qual ninguém ousa ir contra, e a tudo lhes é ofertado. A situação se inverte, no entanto, se estivéssemos diante de Louis e Sammy, ou, como é o caso, de Laurel e Stacie. Duas mulheres, juntas? Que direito elas podem ter? O que a comunidade lhes deve? O que o governo, as autoridades e até mesmo aqueles que as cercam, no dia a dia, no ambiente profissional ou no desfrute de suas intimidades podem lhes conceder além do que já lhes pertence – ou assim deveria?
O diretor Peter Sollett, que primeiro chamou atenção pelo simpático Nick & Norah: Uma Noite de Amor e Música (2008), assumiu a condução desse projeto produzido e estrelado pela atriz Ellen Page, indicada ao Oscar por Juno (2007). Ela se assumiu lésbica durante a realização desse filme, e sua atuação como ativista em prol dos direitos LGBT, que tem crescido desde então, se tornou ainda mais evidente com essa estreia. Amor por Direito não fala apenas de um casal formado por duas mulheres, uma delas vítima de uma doença fatal, em busca não de mais, nem de menos: apenas de igualdade. Fala, sim, de todos nós, homens e mulheres, gays ou heterossexuais, brancos, negros, pardos ou amarelos, altos ou baixos, gordos ou magros. Fala do homem, e do quão cão de si mesmo ele pode ser. Afinal, estamos diante de algo que era para ser evidente, mas que mesmo assim possui tão difícil e restrita compreensão.
Ao lado de Page, temos como sua companheira Julianne Moore, em um papel que encontra ressonância em sua carreira: é uma combinação da lésbica de Minhas Mães e Meu Pai (2010) com a doente terminal de Para Sempre Alice (2014) – se pelo primeiro ela foi indicada ao Globo de Ouro e ao Bafta, pelo segundo ganhou não só estes dois prêmios, como também o Oscar. Ou seja, está num terreno que já demonstrou comprovada excelência. Mas elas não estão sozinhas, pois temos ainda Steve Carell (indicado ao Oscar por Foxcatcher, 2014), como o advogado gay que irá empreender uma campanha pública ao lado delas, e Michael Shannon (indicado ao Oscar por Foi Apenas um Sonho, 2008), como o parceiro e melhor amigo de Laurel. Se o primeiro está no limite do exagero, está no segundo o personagem mais bem desenhado, com conflitos e lutas internas, além de melhores oportunidades de expor os debates que enfrenta em cena.
Mas Amor por Direito não é um filme de voos solo. Não é, também, palco para amadores. É uma história acima de tudo humanista, sobre a pessoa que você é e como quer que o futuro se desenhe para aqueles que virão. O episódio vivido aqui ocorreu na vida real há menos de dez anos, e ainda assim ressoa até hoje com força. A luta pelo fim da injustiça, pelos direitos iguais, pela capacidade de um olhar o outro e reconhecer mais semelhanças do que disparidades seguirá sendo válida, ontem, hoje e amanhã. O que Laurel e Stacie viveram é um exemplo de amor, de vida, de entrega. Não só por elas, nem por aqueles em semelhante situação, mas por qualquer um capaz de se identificar. E este filme é eficiente justamente por recusar o tom panfletário, que o persegue a todo instante. Poderia ser mais incisivo, talvez mais generoso com seus atores, ou mais abrangente na discussão que promove. Qualquer outra coisa, menos covarde em sua denúncia. E isso, felizmente, ele não é.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 6 |
Chico Fireman | 3 |
Edu Fernandes | 4 |
Francisco Carbone | 2 |
MÉDIA | 3.8 |
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