Crítica
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Sinopse
Membro da organização que visa a paz mundial, uma agente especial precisa impedir o roubo de um item valioso.
Crítica
Agente Stone, nova superprodução da Netflix, acontece em torno de uma suposição que vem servindo constantemente de premissa aos filmes de espionagem: e se existisse um dispositivo capaz de invadir e controlar todos os sistemas tecnológicos integrados on-line? Para citar apenas um exemplar recente do gênero que especula exatamente isso, temos o mais novo longa-metragem da Saga Missão: Impossível, Missão: Impossível – Acerto de Contas Parte Um (2023). Num mundo cada vez mais conectado e dependente das interações virtuais para existir, é natural imaginar que poucas coisas seriam tão nocivas quanto um equipamento que possa cortar suprimentos essenciais, modificar narrativas de mídia, adulterar dados em prol de grupos dominantes e até mesmo principiar novas guerras nucleares. Pode-se dizer que esse é o grande fantasma da atualidade no quesito especulação e, a partir dele, a pergunta inquietante que se faz necessária é: nas mãos de quem fica esse poder incomensurável? Mas, o cineasta Tom Harper não parece muito interessado no desenvolvimento das questões inerentes à existência de tal tecnologia, tampouco nos paradigmas e/ou paradoxos morais e éticos que permeariam a situação. Ele está preocupado em construir uma aventura no estilo James Bond ou Ethan Hunt, com direito a viagens globais, traições que mudam drasticamente o jogo e uma heroína infalível.
A protagonista é a agente Rachel Stone (Gal Gadot), a mando do serviço secreto britânico (MI6) numa missão que funciona como carta de intenções. Destacada como a nerd de informática que nunca sai da van nessas tarefas repletas de planos e estratégicas milimetricamente pensados, ela é levada a entrar na ação para evitar qualquer falha na programação. Mas, logo a exímia atiradoras e lutadora incansável mostra a sua verdade: está infiltrada no MI6 por ordem da organização que muitos consideram uma lenda, chamada simplesmente de A Carta. Orientada remotamente por Valete (Matthias Schweighöfer), ela segue as calculadas previsões desse super dispositivo poderoso intitulado Coração, que não pode cair em mãos erradas, pois basicamente tem o poder de modificar a realidade por meio de sua capacidade ímpar de processamento de dados. Toda a sequência envolvendo a revelação (ao espectador) da verdadeira identidade da personagem principal segue as tendências da ação mirabolante desse tipo de filme de espionagem. Ela é repleta de pequenos labirintos que precisam ser vencidos apesar do tempo ínfimo e da perseguição por soldados extremamente bem treinados e letais. O prólogo é uma prova da singular capacidade de Stone. Se a agente conseguir vencer as barreiras iniciais quase impossíveis, saberemos que ela é capaz de tudo e não duvidaremos da possibilidade de vitória.
Pensando estritamente na construção das cenas de ação, sobram burocracias e poucos instantes emocionantes. Tom Harper faz um feijão com arroz pouco saboroso, não indigesto, é verdade, mas adiciona pouco àquilo que vimos repetidamente em outras produções do filão. O que mais depõe contra Agente Stone, nesse sentido, é a falta de qualidade na integração entre as tomadas práticas e as feitas com a ajuda evidente da quase onipresente computação gráfica. Essa equação mal resolvida deixa um gosto de artificialidade pouco produtivo ao espectador. Falta a essa superprodução caríssima uma consistente textura de ação que a deixe menos refém dos desdobramentos convencionais de sua trama. Em suma, se as cenas agitadas de perseguição, tiroteios e afins fossem um pouco menos genéricas, as demais fragilidades do filme não seriam tão perceptíveis e incômodas. Sobre o enredo, convém não acreditar em ninguém e ter sempre um pé atrás quanto a confiar em algum aparente aliado. No entanto, o realizador não trabalha bem a obscuridade, pelo contrário, se foca bem mais na revelação das verdades acerca dos personagens do que necessariamente cria espaços ambíguos que poderiam estender as dúvidas. Gal Gadot dá conta do recado como a líder do esquadrão orientado pelas possibilidades matemáticas de um dispositivo que tende a ser equivalido a um deus controlando tudo e todos.
Agora, pensando no discurso de Agente Stone, muitos apontamentos deixam a desejar por falta de desenvolvimento. Em vários momentos da trama, Stone se mostra disposta a fazer as coisas do seu jeito, contrariando a dureza das probabilidades matemáticas com a sua intuição e capacidade de improvisação não levadas em conta pela inteligência artificial. Um prato cheio para essa correria envolvendo espionagens e desejo de poder ter como subtexto uma defesa da humanidade acima das qualidades da máquina. No entanto, isso se perde em meio à valorização de um clichê do filão: a insubordinação como algo essencial para qualquer agente secreto. Tom Harper poderia discutir o humano vs máquina a partir da teimosia da protagonista, mas a isso prefere enfatizar a rebeldia para garantir a filiação aos cânones do gênero. Outra coisa que passa batido é a inocente possibilidade de uma organização “apolítica e sem interesses ideológicos”, no caso A Carta, que não agiria de acordo com inclinações específicas. Uma vez percebido que a ação estará acima de qualquer outra coisa, cobrar do roteiro alguma espessura quanto à ética e à geopolítica parece ser um caminho bem pouco produtivo. No entanto, é preciso romper a membrana da superfície e questionar os filmes por aquilo que eles manifestam, omitem propositalmente ou deixam de abordar para privilegiar (por quê?) outras abordagens. No caso dessa nova tentativa de criar uma franquia, as particularidades perdem para o senso comum.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Marcelo Müller | 5 |
Leonardo Ribeiro | 5 |
Alysson Oliveira | 1 |
Francisco Carbone | 5 |
MÉDIA | 4 |
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