Crítica
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Sinopse
Hardin não para de pensar na sua relação conturbada com Tessa. Vítima de um bloqueio criativo, o jovem escritor resolve fazer as malas e partir para Lisboa, capital portuguesa, onde espera reencontrar a sua inspiração.
Crítica
Maquiar relacionamentos abusivos com o verniz do romantismo idealista garantiu popularidade a várias histórias “amorosas” nos últimos anos. As sagas Crepúsculo, 365 Dias, Cinquenta Tons de Cinza e After são exemplos de sucessos literários adaptados com equivalente êxito comercial aos cinemas nos quais homens obsessivos/autoritários são validados/desejados por mocinhas dóceis. Espera-se dessas cândidas figuras femininas empenho para “curar” emocionalmente os marmanjões machucados que metem os pés pelas mãos por “excesso de amor” – entre outros eufemismos utilizados para justificar crises, rompantes e afins. After: Para Sempre é sobre um homem arrependido em busca de reparação. O longa existe para o sujeito ter de volta a sua amada – prêmio dourado por reconhecer erros e minimamente consertá-los. O cinema está cheio desses enredos de redenção. Neles, pessoas precisam mudar de atitude e, ao menos, almejar uma melhora de conduta. Nada contra a premissa. Todavia, aqui há vários elementos e indícios tortuosos que reforçam a condescendência diante de atos condenáveis motivados por aquilo que os roteiristas insistem em chamar de “amar demais”. Assim, a evolução ocasionada pelo amadurecimento está subordinada a ter ou não a amada. O capítulo final da saga baseada na obra literária de Anna Todd segue romantizando até os gestos e as falas mais problemáticos.
Continuando exatamente de onde seu antecessor parou, After: Para Sempre começa com Hardin (Hero Fiennes Tiffin) sofrendo em virtude da ausência de Tessa (Josephine Langford) – a ex-namorada não gostou de ser protagonista de um best seller que expos ao mundo a conturbada relação deles. Desde o princípio, a cineasta Castille Landon cria uma atmosfera para sentirmos pena desse homem que cansou de pisar na bola e fazer coisas reprováveis. Para quem ainda duvida do excesso de romantização utilizado para embelezar o comportamento complicado do sujeito, basta prestar atenção em duas sequências específicas nas quais Hardin é encarado como um fofo sofredor. Numa dela, a diretora constrói uma situação em que ele se torna a “vítima” da editora sexualmente disponível, enfeitiçado como um menino inocente pelo jogo erótico envolvendo bebida e sedução. Não bastasse a perspectiva dele como um pobre coitado levado por circunstâncias e pela malícia alheia, a realizadora ainda faz questão de mostrar quais são as condições para Hardin minimamente tocar numa de suas novas pretendentes. Ele apenas encosta voluptuosamente na mulher porque, confuso de tanta bebida, enxerga Tessa dançando na pista. Trata-se de um expediente manipulador que visa solidificar a aura de homem apaixonado e diminuir a condenação moral por coisas que ele tenha feito num passado recente.
Quando Hardin imagina Tessa nos braços de outro homem, o tom da cena é doloroso. Castille Landon enfatiza o sofrimento do homem que padece ao imaginar a sua amada sendo feliz com alguém que não ele. Já no trecho do sonho erótico que o escritor tem com a aeromoça, o tom é excitante. Os dois instantes mostram Hardin e Tessa envolvidos imaginariamente com parceiros diferentes, mas apenas o dele possui uma aura positiva – algo que contradiz até o romantismo visto antes no “envolvido com uma estranha apenas porque enxergo Tessa nela”. Consumido de tristeza, Hardin é convencido a tirar férias em Portugal, quem sabe com isso também vencendo o bloqueio criativo que o impede de cumprir os prazos acordados com a tal editora. Então, o protagonista de After: Para Sempre é definido nesse filme derradeiro como uma pessoa diante de dois grandes obstáculos: a distância da amada e a dificuldade para escrever. A cineasta ressalta os seus pontos positivos, bem como as dificuldades que ele enfrenta, e cobre os pontos negativos com camadas de maquiagem ruim, daquelas que borram diante da mais elementar prova de qualidade. E Tessa? Ela é uma sentida ausência. Quando aparece (rapidamente), é apenas para garantir via mensagem de texto a disposição de manter distância do mocinho que solicita do mundo uma compreensão irrestrita diante de tantos impulsos agressivos e infantis.
E tudo piora significativamente com a chegada de Hardin a Portugal e a dinâmica com Nathalie (Mimi Keene), mulher que no passado teve a sua vida prejudicada criticamente por uma molecagem criminosa desse rapaz que vive para conquistar perdão e mostrar arrependimento. Em nenhum momento Nathalie demonstra desconforto na presença do algoz que vazou vídeos íntimos. Ela sempre exibe uma compreensão tão idealizada quanto o desenho da jornada de redenção masculina “gritando” de cinco em cinco minutos algo do tipo “o amor vence tudo, quem ama perdoa sempre”. Nathalie existe como etapa intermediária para Hardin finalmente alcançar o seu objetivo principal. Numa trama em que a exposição da intimidade gera conflitos – Tessa não gosta de ser retratada em livro, Nathalie sofre por ter a privacidade tornada pública –, o roteiro assinado pela própria cineasta consegue a “proeza” de fazer de Hardin um reincidente pseudo-consciente. Ele escreve de novo sobre alguém, mas recebe gratidão por “contar a nossa história”. Hardin passa a ser encarado como rapaz mudado que merece ser feliz. Apenas no último terço de After: Para Sempre, Tessa reaparece de fato. Ela precisa ceder e relevar a fim de conceder a Hardin a alegria. Para chegar ao previsível “felizes para sempre”, a diretora sequer disfarça a enorme falta de interesse na subjetividade de Tessa. O desfecho é de um romantismo constrangedor, tanto quanto o sexo que sela a inevitabilidade do vínculo tóxico.
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Crítico | Nota |
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Marcelo Müller | 2 |
Alysson Oliveira | 2 |
MÉDIA | 1 |
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