A Babá: Rainha da Morte

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Sinopse

Anos após ter derrotado uma seita satânica liderada por sua babá, Cole agora apenas está preocupado em sobreviver à vida na escola. Mas, quando seus velhos inimigos retornam, ele precisa provar novamente que é mais esperto do que as inconvenientes forças do mal.

Crítica

Estilo de filme que fez bastante sucesso nos anos 1980, o ‘terrir’ é sempre uma aposta arriscada: pode tanto gerar épicos hilários que serão lembrados por ainda muito tempo, como também bobagens irrecuperáveis que provocarão vergonha e arrependimento entre os envolvidos, independente do lado da tela onde se esteja. Também não é segredo imaginar que aqueles que se encaixam no segundo caso são mais frequentes do que os que conseguem se destacar por méritos insuspeitos. Pois o diretor McG, que nunca foi um exemplo de sutileza em Hollywood, acredita ter feito algo digno de nota em A Babá (2017), a ponto de seguir apostando na trama absurda em uma continuação, o desnecessário A Babá: Rainha da Morte. E o que se vê nessa produção original da Netflix não é absolutamente nada de diferente se comparado ao anterior, mas ainda mais constrangedor quando colocado lado a lado com as suas principais referências. A sorte dos realizadores, no entanto, é que esse tipo de público costuma não só ter memória curta, como também comprar sem muitos questionamentos qualquer peça de rápido consumo como essa.

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No primeiro longa, Cole (Judah Lewis, de Crônicas de Natal, 2018) é um jovem adolescente que, apesar da idade, ainda precisa lidar com uma babá (Samara Weaving, sobrinha do ator Hugo Weaving e vista em filmes como Três Anúncios para um Crime, 2017). Os dois se entendem bem, até a noite em que, com os pais fora de casa, ele descobre que a garota está liderando, ao lado de outros amigos, um ritual satânico que termina com muito sangue e um acúmulo de mortes – inclusive a dela própria. Pois bem, três anos se passaram e se Cole não chega a ser um homem formado, ao menos não é mais aquela criança de antes. O que também não o torna o garoto mais popular da escola, ainda mais depois de divulgado o que passou naquela noite fatídica, a qual não deixou nenhum vestígio que pudesse comprovar a veracidade do depoimento dele. Ou seja, não só perdeu a babá, aquela em que tanto confiava, como também é visto como um maluco por praticamente todos ao seu redor, inclusive o pai e a mãe.

Mas há uma exceção: Melanie (Emily Alyn Lind, de Cópias: De Volta à Vida, 2018), a vizinha da casa da frente e a única que nunca duvidou de tudo o que dizia. Se antes estava mais para uma paixão platônica, agora os dois estão mais próximos, por mais que ele nunca tenha conseguido se declarar com todas as letras. É por esse motivo, que guarda a sete chaves dentro de si, mas que não conseguirá manter enterrado para sempre, que acaba aceitando o convite para um final de semana no lago com mais uma turma de colegas, uma turma na qual ela se encaixa sem problemas, mas que insiste em tratá-lo como se fosse invisível. É difícil falar de A Babá: Rainha da Morte sem dar muitos spoilers, mas basta dizer que, deixando Cole de lado – que volta a encarnar o mesmo menino assustado que precisa lutar praticamente sozinho contra uma ameaça que ninguém parece acreditar – todos os demais em cena não são exatamente o que parecem ser num primeiro momento. E isso inclui Melanie, é claro.

Pois então, basta saber que o tal feitiço, interrompido pela metade na tentativa anterior, ainda luta para ser completado. E, para isso, traz de volta os mesmos personagens de antes, revividos como espíritos, porém de carne e osso (não há muita lógica, enfim). O fortão Max (Robbie Amell), sempre sem camisa, o negro John (Andrew Bachelor), que não se cansa em usar a carta do racismo cada vez que lhe convém, a “loira-burra” Allison (Bella Thorne) que insiste em provar ser mais do que pensam a seu respeito, ou a gélida oriental Sonya (Hana Mae Lee), sem sentimentos nem paciência. Se o retorno de cada um é pouco mais do que uma participação especial, pois logo são despachados pelo mesmo caminho de onde vieram, será justamente a presença da babá – afinal, ela está no título! – a mais esperada, e, também, desperdiçada. Bee fica tão pouco em cena, e com uma relevância tão insignificante, que nem mesmo os mais ardorosos defensores da trama conseguirão engolir a justificativa apresentada.

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McG chegou em Hollywood fazendo barulho. Depois de dirigir videoclipes de bandas como Cypress Hill e Smash Mouth, estreou com o aguardado As Panteras (2000), filme que levantou mais expectativas do que as que conseguiu atender. Depois de uma continuação irrelevante (lembra do Rodrigo Santoro mudo e sem camisa?) e de outra sequência descartável de uma saga que já teve dias melhores (O Exterminador do Futuro: A Salvação, 2009), precisou se reinventar em uma série de projetos para a televisão e streaming. A Babá e esse A Babá: Rainha da Morte possuem dimensão menores do que as quais ele estava acostumado, e sob esse prisma, é fácil não se decepcionar com o conjunto apresentado. No entanto, é também quase impossível não se incomodar com a visível impressão de que a diversão foi mais constante nos bastidores das filmagens do que entre aqueles que estiverem sentados no sofá.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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