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Sinopse

Depois de um grave acidente de trânsito que matou toda a sua família, um neurocientista sente que perdeu o sentido da vida. Utilizando seu meio de trabalho, ele se torna obcecado em trazê-los de volta, mesmo que isso signifique desafiar boa parte do governo e, principalmente, as leis da física.

Crítica

Keanu Reeves é um artista que já demonstrou, em mais de uma ocasião, ter apreço pelas possibilidades tecnológicas que o futuro reserva para a humanidade. Além de ter vivido o icônio Neo da saga Matrix, também marcou presença em títulos como Johnny Mnemonic: O Cyborg do Futuro (1995) e O Homem Duplo (2006), que se ambientavam em realidades semelhantes. Em Cópias: De Volta à Vida, ele mais uma vez se vê envolto por questões similares. No entanto, além de se esforçar para defender um personagem totalmente inapto para lidar com os problemas que vão surgindo em seu caminho, há ainda uma direção preguiçosa que demonstra uma incômoda necessidade de retirar dos lugares mais improváveis soluções completamente inverossímeis, que prejudicam de forma ainda mais grave o resultado do conjunto. É um caso em que nem mesmo se pode dizer que as intenções pareciam boas, pois tudo é tão canhestro que talvez a única forma de gerar algo positivo a partir do que aqui se encontra teria sido apostando em um tom cômico. Pois diante de tamanhos absurdos, apenas rindo para encontrar algum sentido.

Will Foster (Reeves) é um cientista que atua em uma instalação secreta na Costa Rica (alerta de clichê: como foi visto na saga Jurassic Park, se é para fazer algo remotamente proibido, melhor ir para um país minúsculo da América Latina do que permanecer nos Estados Unidos). Ele está acompanhado pela família, pois apesar do que tem feito – desenvolver uma técnica para transferir a mente (ou seria a alma?) humana para um receptor sintético (ou seja, tornar qualquer um imortal, pois assim que fosse morto, seria possível transpor sua consciência para um robô) – ele nem imagina que se trata de algo ilegal. O cientista quer salvar vidas, enquanto que seu patrão (John Ortiz) está focado apenas nos possíveis ganhos militares. Uma estrutura dramática nada original, que sofre ainda mais por não encontrar os meios pelos quais pudesse se desenvolver, indo, quem sabe, minimamente além das (poucas) expectativas levantadas.

Pois o que já era ruim, não tarda em piorar. Isso porque, logo no começo da trama, Foster se encarrega de se envolver em um acidente de trânsito que irá matar não apenas a esposa, mas também seus três filhos – e, do qual, ele sairá apenas com um arranhão na testa. Com o carro que dirigia no fundo de um lago, à noite e sob forte chuva, ele consegue, sozinho, retirar os corpos dos familiares de dentro da água e deitá-los à beira do riacho. Uma vez recuperados, convence seu auxiliar (Thomas Middleditch, de Sillicon Valley, 2014-2018) a levar até ele os caríssimos equipamentos do laboratório onde os dois trabalham. Assim, nas piores condições possíveis, os dois conseguirão fazer o que há meses tentam fazer em ambiente controlado, fracassando invariavelmente: capturar as essências de cada um dos entes recém falecidos.

Mas é bom estar atento, pois ainda não se chegou ao fundo do poço. Assim que volta para casa, o protagonista descobre ter ao seu alcance apenas três casulos – e não quatro, que é o número de mortos que precisa ressuscitar. Homem prático como é, não demora para decidir: numa folha de papel anota os nomes dos mortos, coloca cada um deles dobradinhos dentro de uma tigela e trata de fazer um sorteio para, assim, decidir quem não ganhará uma nova chance. Enquanto isso vai se desdobrando, acompanhamos o assistente tendo crises de consciência que mais irritam a paciência do espectador do que contribuem para o debate ético que o filme deveria proporcionar, além do cerco exercido pelo patrão ao redor do personagem principal ir se fechando. Afinal, assim que ele fica sabendo o que o funcionário está fazendo, trata de ir atrás para recuperar o que chama de “propriedade da empresa”: como é possível perceber, clones 100% eficientes não é um artigo facilmente encontrado em qualquer mercado.

Jeffrey Nachmanoff, roteirista do filme-catástrofe O Dia Depois de Amanhã (2004) e produtor do filme que é uma catástrofe O Turista (2010), parte do roteiro de Chad St. John (do problemático A Justiceira, 2018), que por sua vez se baseou em um argumento de Stephen Hamel (do constrangedor Passageiros, 2016) para dar forma a essa Cópias: De Volta à Vida, um dos pontos mais baixos de toda a carreira de Keanu Reeves. O que deveria ser um thriller nunca consegue ir além do risível, e pelos piores motivos. Atuações canhestras – além dos já citados, Alice Eve é outra presença bastante questionável – uma fotografia ultrapassada – as filmagens foram, de fato, em Porto Rico, mas poderiam ter ocorrido em um estúdio qualquer, pois nada denota a questão geográfica – e efeitos digitais que beiram o amadorismo contribuem para oferecer um conjunto que talvez até agradasse uma audiência menos exigente duas ou três décadas atrás, mas que hoje simplesmente não encontra espaço que justifique sua mera existência.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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