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Sinopse

Sete diretores (um para cada dia da semana) dirigiram este filme composto de sete curtas de aproximadamente 15 minutos cada, que retratam as diversas imagens da cidade de Havana e suas singularidades.

Crítica

7 Dias em Havana (2012) está para a capital cubana como Paris, Te Amo (2006) está para a cidade francesa e Nova York, Te Amo (2009) para a Big Apple norte-americana. Projetos de filmes coletivos que procuram desmitificar uma determinada cidade já não são novidade, e a mais nova produção sobre o tema, ainda que instigante e ágil por se dividir em apenas sete narrativas, tem as mesmas inconstâncias que pontuam os filme com múltiplos segmentos.

Coprodução entre Cuba, França e Espanha, o filme foi realizado por um dream team de diretores contemporâneos, todos incumbidos da missão de retratar as cores de Cuba a partir dos mais distintos pontos de vista. Música, religião, política e a inegável latinidade são exploradas, assim como a arquitetura singular do local e o boêmio estilo de vida de muitos habitantes. Assim como o filme se propõe, o presente artigo concede algumas linhas para cada um dos curtas que integram 7 Dias em Havana, filme exibido na mostra Um Certo Olhar do Festival de Cannes.

El Yuma | Segunda, de Benicio Del Toro

Primeira incursão de Benicio Del Toro, ator do recente Selvagens (2012), no posto de diretor depois do curta-metragem Submission (1995), El Yuma apresenta o ascendente Josh Hutcherson, de Jogos Vorazes (2012), como um jovem que vai estudar cinema em Cuba. Com humor conduzido pelos melhores ritmos latinos, Del Toro mergulha no olhar estrangeiro e pincela os principais clichês atribuídos a visão de um norte-americano no país. Sua direção é ágil e demonstra grande segurança para um cineasta praticamente estreante. El Yuma é uma ótima introdução ao longa e faz com que o mesmo pareça bastante promissor.

Jam Session | Terça, de Pablo Trapero

O cineasta sérvio Emir Kusturica interpreta a si mesmo – ou uma versão muito mais alcoolizada de si próprio – neste retrato novamente bem humorado que parte das experiências de um turista em Cuba. Na história, o cineasta se prepara para receber um prêmio no Festival de Havana, mas uma crise com sua mulher faz com que seus principais interesses sejam os destilados e a música de seu motorista, um hábil trompetista local. O bonito filme de Trapero (Elefante Branco, 2012) ainda explora o sonho comum de muitos latinos em conquistar terras estrangeiras e ter uma vida mais plena.

A Tentação de Cecília | Quarta, Julio Medem

E então Julio Medem aparece para colocar quase tudo a perder. Responsável pelos belíssimos Lúcia e o Sexo (2001) e Os Amantes do Círculo Polar (1998), Medem parece ainda contaminado pelo espírito de seu último filme, o esquecível Um Quarto em Roma (2010), na condução de A Tentação de Cecília. Seu filme acompanha uma jovem cantora dividida entre seu namorado agressivo e a chance de se tornar uma estrela na Europa. Nem mesmo Daniel Brühl (E se vivêssemos todos juntos?, 2011) faz valer o desastroso segmento do cineasta espanhol, que, carregado no melodrama, parece inspirado pelas novelas de outro país: o México.

Diário de um Principiante | Quinta, Elia Suleiman

Depois da experiência traumática com a quarta-feira, o palestino Elia Suleiman (O que resta do tempo, 2009) tenta recuperar o tom cômico do filme com uma pequena narrativa sarcástica, a única de 7 Dias em Havana que explora a política como cerne. Protagonista de seu próprio curta, Suleiman aguarda um encontro já agendado com Fidel Castro, o que parece demorar uma eternidade – uma vez que o segundo está proferindo um de seus reconhecidos discursos que duram horas. Enquanto espera, o Elia personagem e o Elia cineasta vagam pelos extremos da ilha e pontuam algumas questões existencialistas a partir do silêncio e de belas imagens.

Ritual | Sexta, Gaspar Noé

Os primeiros frames de Ritual já denunciam o estilo inconfundível de Gaspar Noé, mesmo para aqueles que sequer sabiam da participação do cineasta em 7 Dias em Havana. A luz, a música e a montagem frenética remontam a estética habitual do argentino radicado na França, reconhecido por seus curtas eróticos e pelo perturbador Irreversível (2002). Seu segmento dá conta do ritual de um exorcismo preparado pelos pais de uma garota que a flagram na cama com outra menina. Ainda que seja impressionante e bem construído, Ritual parece mais deslocado que A Tentação de Cecília, uma vez que tira a já precária linearidade do longa-metragem. Funcionaria como um projeto isolado de Noé, no entanto.

Doce Amargo | Sábado, de Juan Carlos Tabío

Ponto condutor de A Tentação de Cecília e A Fonte, Doce Amargo não faz muito além de servir como elo aos outros curtas. Juan Carlos Tabío (Morango e Chocolate, 1994), único cineasta cubano de 7 Dias em Havana, retrata um casal de meia-idade numa série de desventuras cômicas quando precisam entregar uma encomenda de doces para uma festa no domingo. O filme se torna realmente interessante apenas em seus últimos minutos, quando troca a comicidade pelo drama ao apresentar um fim mais satisfatório à historieta de Cecília, proposta anteriormente por Julio Medem.

A Fonte | Domingo, de Laurent Cantet

Eis que tudo acaba em festa, mas não uma festa convencional. Laurent Cantet, que demonstrou habilidade ao retratar minorias e classes menos favorecidas em Entre os Muros da Escola (2008) e Foxfire (2012), apresenta uma religiosa com um desejo incomum: que uma fonte seja construída em sua sala para homenagear a Virgem Maria, que fez tal pedido para a mulher em um sonho. Protagonizado por não-atores e dotado do mesmo realismo que garantiu à Palma de Ouro em Cannes para Cantet, A Fonte é um ótimo encerramento para 7 Dias em Havana. Sublimando os episódios mais esquecíveis, este último segmento propõe um final entusiasmado, festivo e colorido para o longa, o que se repete nos bonitos créditos finais da produção.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Graduado em Publicidade e Propaganda, coordena a Unidade de Cinema e Vídeo de Caxias do Sul, programa a Sala de Cinema Ulysses Geremia e integra a Comissão de Cinema e Vídeo do Financiarte.
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