Crítica


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Sinopse

Aos 16 anos, Tim é um jovem tímido e brilhante, dono de um talento esportivo natural. Mas a pressão que ele sofre o levará ao extremo, lá onde os limites humanos atingem um ponto sem retorno.

Crítica

A cena que abre o filme 1:54, estreia do ator Yan England na direção de longas-metragens, apresenta de forma simples o pequeno universo no qual a história irá acontecer. Uma escola de ensino médio com centenas de adolescentes circulando pelos corredores e dividindo suas atenções entre a lição de matemática e a próxima festa. No centro desse burburinho juvenil, um garoto de poucas palavras se destaca. Tim, interpretado por Antoine-Olivier Pilon, tem 16 anos e divide com o amigo Francis (Robert Naylor) a paixão por uma disciplina: a química. Não satisfeitos com os experimentos feitos em sala de aula, eles se divertem criando pequenas bombas a partir dos conhecimentos adquiridos em aula. Tudo muito inofensivo, pelo menos até um primeiro momento, já que a verdadeira “bomba” está dentro de Tim.

1:54 é mais um filme adolescente que tem como mote a descoberta da sexualidade. Além da temática, comum a outras produções, como Hoje Eu Quero Voltar Sozinho (2014), de Daniel Ribeiro, e Boys (2014), de Mischa Kamp, a forma do longa também não pretende ser inovadora. A fotografia realista e a câmera que tem apenas alguns momentos documentais deixam claro que England não está preocupado com arroubos visuais, mas em contar a história de um adolescente em guerra consigo mesmo. Tim vê sua vida tornar-se um inferno com o suicídio de Francis após anos sofrendo bullying nas mãos de Jeff (Lou-Pascal Tremblay), típico garoto que gosta de fazer brincadeiras de mau-gosto. Com a morte de Francis, Tim se torna o novo alvo devido à sua amizade com o garoto. Todavia, mais que o medo de apanhar ou ser trancado no armário, o protagonista de 1:54 entra em pânico pela possibilidade de ter sua orientação sexual revelada.

O temor de admitir a própria sexualidade faz parte de outra habilidade de Tim, além da química. Exímio corredor, ele vê num campeonato juvenil nacional a possibilidade de vingar a morte de Francis ao bater o recorde de Jeff (o 1:54 do título) e representar a sua escola. Mas, como todo filme adolescente, não vão faltar armadilhas por parte de Jeff para impedir Tim de triunfar, todas elas ligadas ao ato de revelar para o mundo que o colega é gay. O roteiro, também assinado por England, consegue desenvolver bem os clichês típico do cinema voltado ao público mais jovem, como as festas, as bebedeiras e as disputas entre garotos e garotas. O problema é que, muito devido à atuação do elenco jovem, não se consegue imprimir um ritmo à trama. As mudanças ocorridas com Tim são tão abruptas quanto a cena da morte de Francis, de longe a melhor do longa.

Óbvio que é complicado lidar com atores ainda em formação, mas parece que houve um tratamento raso demais para um tema tão denso como o que guia 1:54. Uma época cheia de mistérios e possibilidades como a adolescência permite que se vá mais fundo em algumas questões. A própria negação de Tim sobre seus desejos não é abordada com cuidado. Num ambiente globalizado como o que está instaurado nos nossos tempos, ficar em cima do muro, sem questionar o preconceito do personagem, coloca England como um jovem diretor que precisa amadurecer não apenas sua direção, mas seus conceitos de abordagem.

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é jornalista e especialista em cinema formada pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Com diversas publicações, participou da obra Uma história a cada filme (UFSM, vol. 4). Na academia, seu foco é o cinema oriental, com ênfase na obra do cineasta Akira Kurosawa, e o cinema independente americano, analisando as questões fílmicas e antropológicas que envolveram a parceria entre o diretor John Cassavetes e sua esposa, a atriz Gena Rowlands.
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