Crítica
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Sinopse
A lealdade de Bond à M é testada quando o passado dela volta a atormentá-la. Com a MI6 sendo atacada, 007 precisa rastrear e destruir a ameaça, não importando o quão pessoal será o custo disto.
Crítica
A sequencia de abertura é eletrizante. Os créditos são apresentados de forma criativa e excitante. A canção-tema é ótima. O vilão é assustador. E o herói está mais obstinado do que nunca. Se tudo está exatamente como o esperado, então o que faz de 007: Operação Skyfall um filme tão diferente dos demais 22 longas da franquia? Absolutamente, tudo! Do começo ao fim acompanhamos um James Bond consciente do seu papel, que sofre com o avanço dos anos e precisa lidar com as consequências de seus atos. O mérito maior, nesse caso, talvez seja a mão equilibrada do diretor Sam Mendes, vencedor do Oscar por Beleza Americana (1999). E, é claro, o amadurecimento de todos os envolvidos, decididos a não fazer dessa somente mais uma aventura – como foi, por exemplo, o anterior 007: Quantum of Solace (2008) – mas, sim, o filme perfeito para celebrar seus 50 anos. Uma homenagem à altura da sua importância.
Realizador acostumado a investir nas relação pessoais – como mostrou em seu trabalho oscarizado e também em toda a sua filmografia – Sam Mendes assumiu o posto de realizador do novo 007 gerando apreensão entre os fãs da série. O que o olhar tão peculiar e crítico desse cineasta poderia oferecer de novo? Pois é exatamente por esse caminho que Operação Skyfall se destaca. Desde 007: Cassino Royale (2006), que serviu de reboot para a saga, tudo tem sido recontado em um formato mais orgânico e interligado. Temos, portanto, uma trilogia que funciona independentemente, mas que proporciona ainda mais àqueles que a enxergarem de forma conectada. E se há uma progressão, é preciso estar atento aos prós e aos contras que ela oferece. Mendes demonstra aí sua sabedoria, alternando momentos de ação eletrizante com outros tantos de desenvolvimento dos personagens. Há, ainda, a sintonia que se revela entre ele e Daniel Craig (os dois haviam trabalhado juntos em Estrada para Perdição (2002), que retorna como 007 ainda mais à vontade. Todo esse conjunto revela uma preocupação em tornar o projeto mais do que um mero entretenimento passageiro.
O melhor de 007: Operação Skyfall é apresentar ao espectador um James Bond que sofre com a idade, que reconhece a passagem do tempo e que sabe que não é mais o mesmo de antes. Bond se cansa, erra a mira, apanha e sofre. Na luta inicial, é ele quem leva o tiro e cai para a morte. Sobrevive, é claro, mas com as sequelas esperadas. Para voltar à ativa, não consegue passar nos testes e precisará contar com a confiança dos superiores para ir a campo novamente. E, como nunca antes, ele não está sozinho. Desde a ajuda da também espiã Eve (Naomie Harris) aos apoios eventuais de Q (agora numa versão rejuvenescida, vivida por Ben Whishaw), Mallory (Ralph Fiennes, chegando para ficar) e, principalmente, M (Judi Dench, numa presença marcante, como sempre). Aliás, é ao redor dela, a chefe direta do agente secreto, em que a trama se baseia. E tudo começa a partir do que ela fez – ou deixou de fazer – no passado.
Somos jogados de imediato no meio da ação, logo no início de 007: Operação Skyfall. Bond está em Istambul, ao lado de Eve, em busca de um hard drive roubado que contém a listagem de todos os espiões do MI6, o serviço secreto britânico, que estão infiltrados de forma incógnita em organizações criminosas por todo o mundo. Eles falham em recuperar a lista, e aquele que agora a possui decide divulgar estes nomes, acabando com seus disfarces. O motivo, logo se percebe, é acabar com a imagem pública de M, pois tamanha falha de segurança é responsabilidade exclusiva dela, diretora do departamento. É quando entra em cena Silva, o bandido que deve entrar na galeria dos mais marcantes de toda a série. Javier Bardem, com peruca loira e olhar hipnótico, brinca com o velho desejo de conquistar o mundo acrescentando-lhe outros elementos, como manipulação sexual, terrorismo online, puro sadismo e atitudes friamente calculadas. Ele não quer apenas matar Bond – deseja, sim, acabar com a vida e toda a história de M. O herói, no caso, é somente um detalhe – mas aquele que poderá fazer toda a diferença.
Se Bardem acaba criando até mesmo uma sombra aos demais do elenco quando em cena, com uma eficiência assustadora, o resto do conjunto apresentado se mostra apto para seguir adiante em muitas outras aventuras. Fiennes consegue deixar o público em dúvida até o final em relação a qual lado ele, de fato, está, assim como a francesa Bérénice Marlohe é uma prazerosa aquisição para o time de Bond girls. Mas bom mesmo é ver Daniel Craig mais uma vez furioso e determinado, disposto a tudo para lutar pelo que acredita e defende. Seu 007 é viril e impetuoso, aliando inteligência com músculos. Desde Sean Connery ele é, sem hesitação, o melhor dos intérpretes a assumir a função de protagonista.
007: Operação Skyfall (aliás, o acréscimo nacional é muito infeliz, pois não há “operação” alguma; Skyfall por si só seria suficiente) tem tudo para se posicionar como um dos melhores longas neste meio século de existência nas telas do personagem criado por Ian Fleming. As belas mulheres, a ação descontrolada, os feitos incríveis, muito estilo e elegância: está tudo lá, e muito mais. Reverencial ao passado – citações dos demais longas da série se espalham por toda a trama – e de olho no futuro, compensa a falta de ação – principalmente em sua metade inicial – com um desenrolar psicológico bastante pertinente. Essa decisão não somente aumenta o alcance da obra, como à torna também digna da aura que carrega. Fica evidente a coragem necessária aos realizadores para essa mudança. Felizmente, essa é uma característica que nunca faltou a Bond, James Bond.
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