Preterido como possível postulante brasileiro a uma vaga no Oscar 2019 – o que gerou bastante protesto na classe cinematográfica -, Benzinho, dirigido por Gustavo Pizzi, é um belíssimo drama familiar, calcado numa série de questões que vão se entrecruzando organicamente. A principal delas é a dificuldade de Irene (Karine Teles, luminosa) para lidar com a iminente saída do filho mais velho de casa. Não se trata, exatamente, de uma completa síndrome do ninho vazio, uma vez que a família é numerosa, mas de um acontecimento que certamente modifica algo para essa mulher. Ela funciona como uma espécie de pilar mestre da casa. Em meio a essa questão de ordem íntima, há a irmã com problemas diante da irascibilidade do ex, e a necessidade de lidar com os planos elaborados pelo simpático marido, vivido com candura por Otávio Müller, um eterno sonhador que não perde de vista a ambição de alcançar êxito empresarial, não sem uma boa dose de ingenuidade. Privilegiando um texto escrito a quatro mãos com Karine, Gustavo faz um longa-metragem sensível, com instâncias sentimentais que ganham peso dramático na medida em que apontam à incapacidade de resolução sem o enfrentamento de fantasmas e medos. Se com Riscado (2010), tanto ele quanto ela despontaram como talentos potenciais a serem acompanhados, com Benzinho ambos tratam de reafirmar não apenas a consistência da parceria profissional, mas também seus nomes como membros da dianteira do nosso cinema. A seleção deste filme para os prestigiados festivais de Sundance e Roterdã indica que os gringos também estão de olho. Fazem bem, pois os dois deixaram há muito de ser promessas.
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