Em 1908, o irlandês Henry De Vere Stacpoole escreveu A Lagoa Azul (1908), primeiro romance de uma trilogia que ele continuaria apenas na década de 1920. A trama apresenta duas crianças, vítimas de um acidente alto mar. Elas conseguem chegar a uma pequena ilha, onde sobrevivem durante alguns anos na presença de um adulto, antes de este morrer e deixá-los sozinhos. Richard e Emmeline crescem juntos, atingem a adolescência e se apaixonam um pelo outro, enquanto sonham com uma vida fora daquele lugar.

A trama sempre fascinou o cinema, que experimentou sua primeira adaptação em 1923, ainda no período no cinema mudo. O filme dirigido por Dick Cruikshanks não se destacou em sua época, ao contrário da versão de 1949, sob direção de Frank Launder. A segunda versão atingiu o patamar de sétima maior bilheteria britânica daquele ano. Mesmo assim, a adaptação que consagrou a trama literária veio apenas em 1980, sob direção de Randal Kleiser. Os então desconhecidos Brooke Shields e Christopher Atkins interpretaram os papéis principais de A Lagoa Azul. Apesar da fraca recepção da crítica, o projeto de baixo orçamento conquistou um sucesso moderado de bilheteria, além de uma indicação ao Oscar pela direção de fotografia.

Assim, onze anos mais tarde, os estúdios se arriscaram numa sequência. De Volta à Lagoa Azul (1991) basicamente repete a premissa do original, com novas crianças presas na ilha (Milla Jovovich e Brian Krause). O resultado foi um desastre de crítica e bilheteria: o projeto sequer pagou seus custos de produção, enquanto acumulou diversas indicações ao Framboesa de Ouro, o troféu dos piores do ano. Mesmo assim, a televisão decidiu iniciar a tradição de fazer um novo filme baseado na obra a cada onze anos. Em 2012, foi lançado diretamente na televisão Lagoa Azul: O Despertar, onde os protagonistas são transformados em estudantes contemporâneos (interpretados por Indiana Evans e Brenton Thwaites. Resultado: novo desastre. Será que uma nova produção chega em 2023?

 

Lagoa Azul: O Despertar
Blue Lagoon: The Awakening, EUA, 2012
Drama/Romance, 85 minutos
De Mikael Salomon
Com Indiana Evans, Brenton Thwaites, Denise Richards, Patrick St. Esprit, Frank John Hughes, Alix Elizabeth Gitter, Carrie Wampler, Hayley Kiyoko, Aimee Carrero.
Sinopse: Dois adolescentes partem numa viagem da escola ao Caribe. No entanto, durante o trajeto, sofrem um acidente em alto mar e ficam perdidos numa pequena ilha deserta. À medida que aprendem a viver na natureza e se conhecem melhor, acabam se apaixonando.
Bilheteria mundial: (Lançado diretamente na televisão)
Nota IMDb: 5,5/10
Nota Papo de Cinema: 2/10
O que nós achamos: “O artificialismo da concepção dos personagens, bem como o das circunstâncias que os atravessam banalmente, atende ao romantismo exacerbado. Este é fomentado como um oásis a ser fruído. Praticamente não há conflitos no filme”. Confira na íntegra a crítica de Marcelo Müller.

 

De Volta à Lagoa Azul
Return to the Blue Lagoon, EUA, 1991
Aventura/Drama/Romance, 102 minutos
De William A. Graham
Com Milla Jovovich, Brian Krause, Lisa Pelikan, Nana Coburn, Brian Blain, Peter Heir, John Mann, Wayne Pygram, Gus Mercurio, Todd Rippon.
Sinopse: Richard e Emmeline são encontrados mortos no barco, mas o filho do casal sobrevive. O bebê é criado por uma viúva, que sofre um perigoso acidente em alto mar e acaba voltando à ilha onde os adolescentes tinham ficado presos. O pequeno Richard é criado junto de Lili, filha de Sarah, e os dois crescem no local. Chegando à adolescência, a mãe da garota é vítima de uma pneumonia e morre. Richard e Lili ficam sozinhos no local, onde descobrem o amor um pelo outro.
Orçamento: US$ 11 milhões
Bilheteria mundial: US$ 2,8 milhões
Premiações: Indicado ao Framboesa de Ouro de pior filme, pior diretor, pior roteiro, pior ator revelação (Brian Krause) e pior atriz revelação (Milla Jovovich).
Nota IMDb: 5,2/10
Nota Metacritic: 28/100
Nota Rotten Tomatoes: 0%
Nota Papo de Cinema: 2/10
O que nós achamos: “Tudo é bastante falso e artificial nessa Lagoa Azul versão anos 1990. Para se ter uma ideia, mesmo já morando há anos completamente isolados, lá pelas tantas os vemos tomando banho de cachoeira… com sabonetes e xampus! É tudo tão absurdo, que beira o risível”. Leia na íntegra a crítica de Robledo Milani.

 

A Lagoa Azul
The Blue Lagoon, EUA, 1980
Aventura/Drama/Romance, 104 minutos
De Randal Kleiser
Com Brooke Shields, Christopher Atkins, Leo McKern, William Daniels, Alan Hopgood, Gus Mercurio, Jeffrey Kleiser, Gert Jacoby, Alex Hamilton, Richard Evanson.
Sinopse: O pequeno Richard e a prima Emmeline fazem uma viagem com o pai rumo a São Francisco, quando o navio explode. Os dois são resgatados por Paddy Button, que os conduz em segurança a uma pequena ilha deserta. Sem navios de resgate pelo local, os três vivem anos no local, até Paddy sofrer um ataque e morrer. As crianças precisam aprender a sobreviver sozinhas e, quando chegam à adolescência, o amadurecimento faz com que experimentem o amor e o desejo sexual uma com o outra.
Orçamento: US$ 4,5 milhões
Bilheteria mundial: US$ 58,8 milhões
Premiações: Indicado ao Oscar de melhor direção de fotografia (Néstor Almendros), e ao Globo de Ouro de melhor ator revelação (Christopher Atkins). Indicado ao Framboesa de Ouro de pior atriz (Brooke Shields).
Nota IMDb: 5,8/10
Nota Metacritic: 31/100
Nota Rotten Tomatoes: 9%
Nota Papo de Cinema: 5/10
O que nós achamos: “Ironicamente, esta visão casta sobre o amor cristão se constrói em torno do incesto, da nudez frontal de crianças e de adolescentes, da gravidez na adolescência e do prazer sexual oriundo originalmente da Eva pecadora – é Emmeline quem deseja os músculos de Richard pela primeira vez”. Leia na íntegra a crítica de Bruno Carmelo.

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Crítico de cinema desde 2004, membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema). Mestre em teoria de cinema pela Universidade Sorbonne Nouvelle - Paris III. Passagem por veículos como AdoroCinema, Le Monde Diplomatique Brasil e Rua - Revista Universitária do Audiovisual. Professor de cursos sobre o audiovisual e autor de artigos sobre o cinema. Editor do Papo de Cinema.
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