Crítica
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Sinopse
Crítica
Emma (Indiana Evans) é uma menina lindíssima, aplicada nos estudos, tida como exemplo na escola e na rotina familiar, mas o diretor Mikael Salomon tenta nos fazer acreditar piamente que ela deve se sentir absolutamente lisonjeada quando o capitão esportista ensaia corteja-la. Dean (Brenton Thwaites) é também um rapaz bonito, de estilo rebelde milimetricamente arrumado para parecer diferente, mas o realizador igualmente tenta o apresentar como um outsider não encaixado no adolescente universo do secundário. Lagoa Azul: O Despertar abraça canhestra e tortuosamente essa lógica de um mundo povoado simplesmente por pessoas que atendem ao restritivo padrão de beleza caracterizado por peles alvas, olhos claros (ou quase) e cabelos lisos/sedosos – mesmo depois de três meses de confinamento numa ilha inóspita. O artificialismo da concepção dos personagens, bem como o das circunstâncias que os atravessam banalmente, atende ao romantismo exacerbado. Este é fomentado como um oásis a ser fruído. Praticamente não há conflitos no filme. Mesmo o isolamento dos protagonistas numa fatia insular apartada da civilização motiva poucos senões.
A natureza postiça é nutrida por uma encenação desajeitada, repleta de mudanças abruptas de perspectiva sem porquê. O sexo é um elemento disposto cheio de pudores e com claros traços de conservadorismo, como convém a um filme adolescente deliberadamente distanciado de qualquer realidade. Isso, para induzir o público-alvo a se conectar com a trama a partir da idealização romântica. Às vezes a câmera ensaia demorar-se no vislumbre dos corpos que, uma vez superada a angústia inicial, começam a atentar-se eroticamente à presença de outrem. Porém, a pegada sobressalente é a casta, nunca descambando ao despudorado ou deixando-se contaminar pelo desejo. Durante as transas as pessoas são filmadas como se fosse feio seu enrosco intenso no instante de prazer. Emma e Dean não são mais do que meros arquétipos repetindo tolas frases de efeito, sem terreno para externar as dificuldades inerentes ao espaço intermediário entre infância e fase adulta. Adão e Eva contemporâneos, eles conservam penteados e maquiagens impecáveis, sem um visível sofrimento.
Outro ponto que mostra a leviandade de Lagoa Azul: O Despertar é a forma como os personagens norte-americanos se portam frente aos estrangeiros. Antes de se perderem, numa cena ridícula envolvendo a polícia marítima e um bote convenientemente avulso, os protagonistas vão a Trinidad e Tobago, cenário paradisíaco do Caribe, numa excursão pretensamente solidária organizada pela escola. Os professores falam que o objetivo é construir moradias aos empobrecidos locais. Até aí tudo bem, nada contra a ajuda humanitária, mas, pela displicência com que essa situação é apresentada, ela fica mais próxima do autoelogio do estadunidense salvador do que necessariamente da pontuação acerca da vontade genuína de auxiliar o próximo. Adiante, quando desesperados pelo sumiço dos filhos, os pais destes chegam a falar que o país subdesenvolvido não tem estrutura suficiente para empreender a busca necessária, algo assentido por uma das autoridades locais. De novo, não seria problemático apontar à deficiência de infraestrutura, caso não prevalecesse o tom paternalista.
Voltando ao romance açucarado e completamente sem nuances estimulado em Lagoa Azul: O Despertar, ele acaba embalando a temporada pouco pesarosa no “paraíso”, com direito a vários pores-do-sol ao lado da pessoa amada, a inesperada paz de espírito e os instantes idílicos. Difícil aderir à dor dos pais desesperados pela ausência de informações sobre os adolescentes, como também é árdua a tarefa de encarar o isolamento como algo dramático. Mikael Salomo demarca a passagem do tempo somente com riscos feitos numa pedra, mas não projeta o decurso dos meses no comportamento dos protagonistas e tampouco em seus corpos inalterados. A falta de verossimilhança advém de um descuido gritante com as minúcias, além da inclinação por oferecer respostas e resoluções fáceis para problemas difíceis. Os contratempos são obliterados pelo trajeto piegas que valoriza a inocência do amor carola e tipificado, daqueles nos quais dificilmente a vida se reconhece, nem de longe. E para fechar a fatura da ruindade, surgem a cena constrangedora do assassinato de uma pantera negra e a constatação forçada de que a dificuldade para localizar os perdidos se deu por uma distância enorme que eles pretensamente percorreram no mar aberto, num bote pequeno, sem mais aquela.
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