Entra ano, sai ano, a categoria de Melhor Animação do Oscar conta sempre com algumas cartas marcadas. Em geral, da Disney/Pixar, campeã de indicações e vitórias. Somando os dois estúdios (afinal, houve um tempo em que eles eram separados), são 21 lembranças e 11 vitórias desde 2002, quando a categoria foi criada. Ou seja, em apenas seis oportunidades o prêmio foi para outro estúdio – o último foi Rango (2011), da Nickelodeon Films e distribuído pela Paramount. Neste ano, parece, não vai ser diferente e, novamente, a criadora do Mickey vai levar mais uma estatueta para casa com uma produção voltada aos falantes da língua hispânica. É interessante constatar que, cada vez mais, a categoria poderia tranquilamente se chamar de Melhor Filme Infanto-Juvenil, já que nenhuma obra de conteúdo realmente adulto tem vencido aqui. Ok, pode-se dizer que A Viagem de Chihiro (2001) é um filme mais complexo, mas, ao mesmo tempo, conversa muito bem com os pequenos, independentemente de seu subtexto recheado de entrelinhas que apenas os mais velhos poderiam captar. Dito isso, será que uma cinebiografia de um dos maiores pintores da história tem chance? Ou pode uma coprodução Canadá/Irlanda/Luxemburgo se destacar? Neste ano, tem até brasileiro na lista! Ainda que o filme não tenha sido produzido em terras tupiniquins. E o título restante… bom, esse nem vale muitos comentários. Confira, então, os indicados de 2018 e as chances de cada um!

Indicados

 

FAVORITO: Viva: A Vida é uma Festa (Lee Unkrich e Darla K. Anderson)
Não adianta. É ano da Disney/Pixar de novo. A belíssima animação que tem o Dia dos Mortos mexicano como palco e uma história de memória e família como força motriz conquistou todos – ainda que com um vilão desnecessário e a questão de abandono parental tratada de forma quase leviana. Além de tudo, é um longa que favorece a língua hispânica – isso em plena época de um presidente xenófobo que quer construir muros para se livrar de mexicanos. O filme já levou Globo de Ouro, National Board of Review, Critics Choice Awards, praticamente todos os prêmios da crítica dos EUA e, principal, o Annie Awards, o Oscar da Animação. Precisa de mais? Só abrir espaço na estante pro careca de ouro.

 

TORCIDA: Com Amor, Van Gogh (Dorota Kobiela, Hugh Welchman e Ivan Mactaggart)
Mais de cem artistas. Todos com a tarefa de pintar, à mão, no mesmo estilo do homenageado. Aliás, não só a técnica empregada foi a mesma como muitas obras de Van Gogh são retratadas em sua totalidade na tela. Só o imenso trabalho já mereceria uma avalanche de prêmios. O que talvez muitos não tenham gostado tanto assim é o tema adulto. Afinal, a história gira em torno da questão: Van Gogh se matou ou foi assassinado? Complexo demais para uma categoria que costuma premiar bichinhos fofos e protagonistas que superam todas as expectativas, não? Ao menos, o filme tem sido lembrado em todas as premiações possíveis, mesmo como indicado. Talvez esse já seu prêmio maior.

 

AZARÃO: The Breadwinner (Nora Twomey e Anthony Leo)
O filme coproduzido numa parceria entre Canadá, Irlanda e Luxemburgo tem uma fada madrinha: Angelina Jolie. Talvez por isso mesmo esta animação, premiada na categoria independente do Annie Awards como a melhor do ano, tenha conseguido chegar a um público mais amplo, especialmente o norte-americano. Requisitos não faltam para ser lembrado na grande noite da Academia, já que seu título esteve presente em, basicamente, todas as premiações do ano. Mas será que isso será suficiente para a história de uma garota que se veste de menino, a fim de poder trabalhar após a prisão do pai, levar a estatueta? Se depender do discurso feminista em alta nos últimos meses, não duvide.

 

SURPRESA: O Touro Ferdinando (Carlos Saldanha)
Carlos Saldanha está de volta à festa 14 anos após concorrer na categoria de Animação em Curta-Metragem por A Aventura Perdida de Scrat (2002), personagem símbolo da franquia A Era do Gelo. As chances? Praticamente nulas. O filme não foi um grande sucesso de bilheteria nos EUA, mesmo com suas qualidades acima da média (particularmente, diria que é o melhor que Saldanha já realizou), muito menos lembrado pelas premiações. A indicação talvez tenha acontecido num momento bem-vindo para celebrar a diversidade de outras nacionalidades e demais discussões atuais. Os maus tratos a animais e o veganismo estão presentes nesta obra da Fox, por exemplo. Pode não ganhar, mas é bom ver um nome brasileiro no meio de tudo.

 

NEM ERA PRA TÁ AQUI, QUERIDO: O Poderoso Chefinho (Tom McGrath e Ramsey Naito)
Não entendi. Realmente, não dá. O ano pode não ter sido dos mais recheados em questão de qualidade em animações, mas indicar justamente um dos mais fracos de todos? Bonitinho, mas ordinário. Nada além disso.

 

 

ESQUECIDO: LEGO Batman: O Filme (Dan Lin, Phil Lord, Christopher Miller e Roy Lee)
Olha, a Academia deve ter uma implicância daquelas com a linha de brinquedos ou com Bruce Wayne. Uma Aventura Lego (2014) já foi ignorado há três anos – sendo que merecia ter ganhado, inclusive. Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008)… bom, discussão antiga e nem tem a ver com animação. A união do detetive mais famoso do mundo das HQs com a sagacidade do humor de LEGO resultou num dos desenhos animados mais bacanas do ano. Foi lembrado por vários críticos como um dos melhores de 2017 no quesito, além de ter rendido uma bela bilheteria mundial, acima dos 300 milhões de dólares. Poderia muito bem ter ficado com a vaga de O Poderoso Chefinho. Vá entender.

:: Confira aqui as nossas análises das demais categorias ::

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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