INDICADOS:

 

Poucos se dão conta, mas a montagem de um filme é o trabalho mais penoso e que dá forma a uma produção, atrás apenas da direção. Entre outros vários fatores, é através dela que não só o tempo das cenas e a própria duração do longa como um todo são cronometrados, como também é pensado o timing para se fazer chorar, rir, dar raiva ou sentir pena do que acontece na história, seja o gênero que for. Quem desponta na frente este ano é a edição de William Goldenberg para Argo, que já levou para casa a estatueta de Melhor Edição em Drama pelo American Cinema Editors (que compõe boa parte dos votantes da Academia), o BAFTA, prêmios dos críticos de San Diego e San Francisco, além de ter ficado em segundo lugar também pelos críticos de Boston e Los Angeles.

O mesmo Goldenberg também aparece na disputa por ter levado este ano mais cinco prêmios da crítica norte-americana por seu trabalho conjunto com Dylan Tichenor em A Hora Mais Escura, filme que também teve sua edição lembrada em mais sete indicações em outras premiações, colocando o filme de Kathryn Bigelow como o que pode roubar a cena na categoria. A montagem da dupla Crispin Struthers e Jay Cassidy por O Lado Bom da Vida também levou o prêmio do American Cinema Editors para casa por Melhor Edição em Comédia ou Musical, além do Satellite Awards (que, no entanto, não deve ser levado muito em consideração). Por outro lado, o filme não foi reconhecido em outras premiações, o que diminui suas chances.

Lincoln, de Steven Spielberg, tem a seu favor o editor parceiro de sempre do diretor, Michael Kahn, que já levou quatro Oscar para casa e está em sua sétima indicação. Porém, sua montagem um pouco pesada e lenta só foi lembrada pelo American Cinema Editors e a Broadcast Film Critics Association Awards, sem ter levado nenhum dos dois para casa. O quase deixado totalmente de lado As Aventuras de Pi conta com o também editor favorito de Ang Lee, Tim Squyres, ao seu lado. O editor já havia sido indicado há doze anos pelo seu belo trabalho em O Tigre e o Dragão (2000), mas das cinco indicações este ano em outras premiações, também não levou nada.

 

Favorito: Argo

Com os principais prêmios ao seu lado, mais o fato de Ben Affleck ter sido esquecido como Melhor Diretor, Argo leva vantagem, por incrível que pareça. Não apenas por ser um “prêmio técnico de consolação”, mas porque a montagem faz toda a diferença nesta história. Além de direção, roteiro e elenco espetaculares, o trabalho de edição não deixa em nenhum momento cair o timing de suspense e drama, deixando o público aflito com a mescla de cenas, especialmente no terceiro ato, quando várias histórias paralelas se juntam para formar uma só, sem nunca deixar qualquer uma de lado. Mais do que merecido.

 

Torcida: Argo, por tudo que foi dito acima.

 

Forte Concorrente: A Hora Mais Escura

William Goldenberg aparece mais uma vez, o que dá a certeza de que vai levar mesmo o seu primeiro Oscar para casa. Sua montagem em conjunto com Dylan Tichenor para A Hora Mais Escura deixa qualquer um tenso com os rumos da caçada a Bin Laden, especialmente quando a tal hora do título realmente chega. O único porém são as críticas polarizadas sobre o filme como um todo. Mesmo que em categorias técnicas isto não seja o mais relevante, a falta de lobby pode prejudicar a trajetória do longa em qualquer possível prêmio da Academia.

 

Azarão: As Aventuras de Pi

A sensível produção de Ang Lee parece ter sido esquecida, por mais que suas onze indicações ao Oscar possam dizer o contrário. Como é praticamente certo que não vá levar Melhor Filme, Direção ou Roteiro Adaptado para casa, os prêmios técnicos podem servir de consolação, o que dá mais chances à bela montagem de Tim Squyres, que capta a verdadeira emoção do roteiro, mas nunca deixa a história cair no melodrama ou no choro fácil.

 

Esquecidos: 007 – Operação Skyfall e Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge

Que a Academia tem preconceito com qualquer filme “fora da realidade”, sejam fantasias, longas de ação ou animações, isto não resta dúvidas, mesmo que algumas vezes isto tenha sido deixado de lado (como com O Senhor dos Anéis – O Retorno do Rei, em 2003). Na maioria das vezes, a maior honra que filmes destes gêneros tem é ser indicado a Melhor Edição. Porém, houve duas falhas graves nas melhores montagens deste ano. A primeira delas foi com o filme que celebra os 50 anos de James Bond. O editor Stuart Baird soube montar como poucos um filme do agente secreto e entregou um dos melhores trabalhos do ano ao saber sincronizar cenas de ação com o tom existencial do longa dirigido por Sam Mendes. Da mesma forma, Lee Smith (que já havia sido indicado pelo filme anterior do homem-morcego, Batman: O Cavaleiro das Trevas, em 2008) comprova sua excelência com a trilogia de Christopher Nolan e não compromete em nenhum ponto a última parte da saga de Batman nas telonas. Como a Academia adora “consolar” e “homenagear”, erraram feio ao não indicar estas duas pérolas do ano. Uma por comemorar um cinquentenário de uma franquia. Outra pelo fechamento de uma trilogia tão singular. Tsc tsc.

 

A análise dos indicados nas demais categorias você confere no Especial Oscar 2013!

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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