Ele é o rei do plot twist, chamado de o novo mestre do suspense assim que emplacou dois filmes de sucesso no cinema. Como veríamos no decorrer de sua carreira, foram um tanto precipitados os elogios rasgados, embora M. Night Shyamalan seja um nome a ser respeitado, mesmo que tenha escorregado aqui e acolá em longas-metragens pouco memoráveis. Afinal de contas, são pouquíssimos os artistas que podem dizer que nunca erraram. Shyamalan nasceu em 6 de agosto de 1970, na Índia, mas cresceu nos subúrbios da Philadelphia, nos Estados Unidos. Desde muito criança já brincava com a câmera, fazendo filmes caseiros que mostravam sua verve para a sétima arte. Estreou como diretor, roteirista e ator em 1992, com Praying with Anger e, seis anos depois, comandou o filme família Olhos Abertos. Mas nada nos prepararia para seu próximo trabalho.

Em O Sexto Sentido (1999), ele arrepiou a plateia com uma história original e muito bem conduzida, contando com ótimas performances de Bruce Willis, Toni Collette e Haley Joel Osment. Rara produção de gênero indicada ao Oscar de Melhor Filme, o longa também representou as duas primeiras (e até agora únicas) indicações ao prêmio da Academia para o cineasta – Melhor Direção e Roteiro Original. Seguiram trabalhos bem sucedidos em Corpo Fechado (2000) e Sinais (2002), até que em A Vila (2004), as opiniões começaram a cada vez mais se dividir em relação à qualidade dos filmes do diretor. Inquieto e muito criativo, Shyamalan tem tentado não permanecer em zonas de conforto e retornou aos bons momentos do início da carreira com A Visitalançado em 2015.

Para homenagear o cineasta em seu aniversário, a equipe do Papo de Cinema se reuniu e escolheu os cinco trabalhos imperdíveis de Shyamalan – e mais um, que merece a redescoberta por parte dos espectadores.

 

o-sexto-sentido-papo-de-cinema-01O Sexto Sentido (The Sixth Sense, 1999)
Quando se fala de espíritos e o mundo sobrenatural, não se pode deixar de fora este filme do cineasta M. Night Shyamalan – claramente sua melhor obra até hoje. Aqui acompanhamos a história de Cole (Haley Joel Osment), um menino fechado e quieto que gosta de brincar sozinho em igrejas e a quem coisas estranhas acontecem: o garoto consegue falar com os mortos, e é constantemente assombrado por essas aparições. Porém, com a ajuda do Doutor Malcolm (Bruce Willis), ele tentará reverter essa situação apavorante. Construído com um cuidado narrativo que Shyamalan começaria a abandonar mais tarde, o suspense procura primeiro estabelecer bem as relações de Cole com o psiquiatra e com a própria mãe (a ótima Toni Collette), gerando empatia e criando carisma através de situações melancólicas e pessoais dos três, para só então realmente investir em assustar (é preciso se importar com os personagens para temer por eles). A partir de então, o diretor desenrola seus sustos sem problemas, equilibrando sequências arrepiantes com outras surpreendentemente tocantes – como aquela entre Cole e sua mãe dentro do carro. Mesmo se não tivesse o famoso plot twist do final (que se tornaria marca registrada do cineasta), O Sexto Sentido sobreviveria como um filme envolvente e fascinante em sua construção.  – por Yuri Corrêa

 

corpo-fechado (1)Corpo Fechado (Unbreakable, 2001)
Em determinado momento do filme, a mãe de Elijah Price (Samuel L. Jackson) diz que o gibi que o menino acabara de ganhar tem um final surpreendente. Além de querer instigar o filho e incentivá-lo a ler, a personagem também está, de certa maneira, falando com a audiência. Ao inserir essa linha de diálogo no filme, M. Night Shyamalan faz uma brincadeira com as expectativas do público: ele demonstra estar bem ciente do impacto que a reviravolta final teve em seu filme anterior, O Sexto Sentido, e desafia o espectador mais uma vez. A trama foca em Elijah, um homem que nasceu com uma rara condição que faz com que seus ossos sejam excessivamente frágeis e David (Bruce Willis), o único sobrevivente de um terrível acidente de trem, do qual ele escapa sem um arranhão. Elijah, que encontrou conforto nos quadrinhos quando criança e passou a entender o mundo de acordo com a lógica dessas histórias, fica convencido de que David é o exato oposto dele próprio, incapaz de se ferir, inquebrável. Os mais atentos provavelmente descobrirão a reviravolta, mas diferentemente do longa anterior, Corpo Fechado não tem um final que muda a percepção da audiência a respeito da narrativa. Ele simplesmente a complementa. – por Marina Paulista

 

SinaisSinais (Signs, 2002)
Quando entrei em uma sala de cinema pequena e decrépita para uma sessão deste filme, há quase 15 anos, não sabia muito o que esperar. Os dois trabalhos precedentes de M. Night Shyamalan não haviam me causado a mesma comoção que impulsionava o cineasta ao precoce título de novo mestre do suspense: fui presenteado por incontáveis spoilers antes de conferir O Sexto Sentido (1999) e nunca cheguei a ver Corpo Fechado (2000) além do que seu trailer oferecia. Sempre suscetível aos thrillers ficcionais protagonizados por criaturas extraterrenas – e aqui não me refiro à Mel Gibson – a surpresa não poderia ter sido maior. Seja pelo visual arrojado dos ETs tão enigmáticos na fotografia soberba de Tak Fujimoto, pela direção e roteiro pontuais de Shyamalan e sua lucidez quanto as melhores qualidades de um legítimo suspense ou pelas ótimas performances de Gibson e Joaquin Phoenix, Sinais se tornou merecidamente referência entre os exemplares do gênero. O elenco mirim, formado por Abigail Breslin e Rory Culkin, também colabora com a veracidade de uma história tão fantástica, assim como o barulho da chuva, audível através do telhado da sala de cinema supracitada. Um filme para ver Spielberg e Hitchcock em Shyamalan, o que por si só é muito interessante. – por Conrado Heoli 

 

avila-posterA Vila (The Village, 2004)
Para boa parte da crítica, foi com este título que M. Night Shyamalan começou a desandar em suas realizações. Porém, como em contraponto, para o público cinéfilo a produção só confirmou que o diretor possuía certa energia e premissas intrigantes a serem desenvolvidas. Neste suspense psicológico denso e de final inesperado, uma das maiores bilheterias de 2004, uma pequena vila na Pensilvânia mantém um pacto entre seus habitantes e as criaturas que vivem na floresta ao redor do local. A troca é simples, os limites do povoado não são ultrapassados pelos habitantes e as criaturas não invadem o vilarejo. Porém, essa harmonia é quebrada quando o jovem Lucius decide avançar na floresta em busca de assistência e medicamentos. Com referências diversas, Shyamalan flerta em diversos momentos com o tom de suspense comum a Alfred Hitchcock e ainda, com o filme de Terrence Young, Um Clarão nas Trevas (1967). A abordagem ampla que A Vila permite ainda se estende até mesmo à psicanálise com todo um conceito freudiano e do isolamento do mundo exterior resultante de experiências traumáticas. O monstro do filme é mais metafórico do que concreto e demonstra a delicadeza do cineasta, quando inspirado, em criar tramas de profundidade exemplar. – por Renato Cabral

 

a-visita-poster-papo-de-cinemaA Visita (The Visit, 2015)
Se no começo da carreira o indiano M. Night Shyamalan era considerado uma força criativa destoante da mesmice predominante no cinema norte-americano, aos poucos tal condição foi drasticamente alterada, pelo menos na concepção do grande público, já que há quem admire até mesmo seus filmes considerados pela maioria como sinal de declínio. Logo na sequência de outro fracasso retumbante (de público e crítica), Depois da Terra (2013), Shyamalan se aventurou pela televisão, dirigindo a série Wayward Pines, experimentando, assim, novas possibilidades de linguagem. Mas, foi com este longa, lançado em 2015, que o cineasta parece finalmente ter voltado à velha e boa forma. Utilizando de maneira bastante inteligente um expediente muito desgastado e/ou subaproveitado, a emulação de vídeos caseiros, ele cria uma intrincada trama familiar, cuja tensão só perde em importância para a profundidade dos temas abordados. A história gira em torno da visita de dois netos aos avós até então desconhecidos. Em meio ao clima de celebração, pequenos momentos de conflito e de instabilidade são inseridos para deflagrar a existência de um estranhamento determinante.  Shyamalan faz um belo filme de terror, no qual a ameaça é encarada inicialmente como algo talvez proveniente da esfera sobrenatural, mas que, na verdade, é medonha justamente por ser da ordem do humano. – por Marcelo Müller

 

+1

21026194_20130809204834714O Último Mestre do Ar (The Last Airbender, 2010)
A carreira de M. Night Shyamalan já estava meio desacreditada após alguns fracassos de público e crítica nos últimos anos – A Dama Na Água (2006) e Fim dos Tempos (2008). Por isso, não foi de se estranhar quando ele assumiu este projeto e foi detonado por todos. Não só os especialistas da área caíram em cima do cineasta como também os espectadores, especialmente os fãs da série original de animação da qual a obra foi adaptada. Porém, ao contar a história de Ann, o último dominador do ar do título, Shyamalan mostrou uma faceta mais intimista que já se refletia em seus suspenses, mas aqui toma proporções de Ang Lee e seu O Tigre e o Dragão (2000) – claro, guardadas as devidas proporções. Talvez a ambição tenha falado mais alto, mas, de qualquer forma, o título está longe de ser ruim. É divertido, acima de tudo. Tem bons efeitos, ainda que um elenco irregular. Uma pena que serviu para enterrar por um bom tempo a carreira do cineasta. – por Matheus Bonez

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