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Sinopse

Uma ameaça apocalíptica chega do céu trazendo uma série de mortes violentas e inexplicáveis que se espalham pelo país. A causa do fenômeno permanece desconhecida. Elliot Moore, um professor de ciências, ao lado de sua esposa, Alma, e de um colega, Julian, tenta escapar do assassino invisível indo para a Pensilvânia, mas logo torna-se evidente que ninguém está fora de perigo.

Crítica

Filmes-catástrofes são quase um gênero à parte. E Fim dos Tempos, longa de M. Night Shyamalan, tem todos os requisitos necessários deste estilo tão hollywoodiano. Porém apresenta algo a mais. E foi justamente este ingrediente extra que incomodou tanta gente, desde o público mediano desinteressado em se aprofundar nos temas levantados quanto a crítica internacional, desacostumada a lidar com trabalhos que apresentem novas propostas e fujam do convencional. E o diretor está virando craque nisso: reinverter fórmulas pré-estabelecidas e introduzi-las sob um novo contexto, propondo um olhar diferenciado. E, mais uma vez, ele cumpre o que promete.

A referência básica é Hitchcock (desde a trilha sonora até os próprios enquadramentos, passando pela edição objetiva e o posicionamento dos atores, sempre enfocados com bastante precisão), principalmente Os Pássaros (1963). Assim como neste filme, a ação de Fim dos Tempos começa aparentemente de forma gratuita – é a tragédia inesperada e não anunciada. Aqui, o que vemos são pessoas atacadas, pensa-se à princípio, por uma ameaça terrorista de efeitos químicos e biológicos. Multidões perdem os sentidos e passam a se suicidar em série. Tudo acontece em grandes centros urbanos, e principalmente em áreas bastante arborizadas, como parques. O medo se instaura pelo país, e logo começa a gerar reflexos no interior e em cidades menores. Um professor de ensino médio, sem entender o que está acontecendo – assim como todos ao seu redor – se junta à esposa e parte numa fuga para o mais distante possível do foco de ataque. Mas o perigo pode estar partindo de algo muito mais próximo do que o imaginado.

Fim dos Tempos não é uma obra perfeita – pelo contrário, está longe disso. Mark Wahlberg, o protagonista, convence pela inabilidade em lidar com os fatos ao seu redor. Ele não sabe para que lado seguir, o que fazer e como agir com a esposa. Zooey Deschanel também é um ponto forte, num desempenho ao mesmo tempo seguro e frágil. Já John Leguizamo é um desperdício – além de sair logo de cena, o pouco que faz não é dos mais verossímeis. Ele é um ator muito mais físico do que cerebral, ao contrário do personagem que tenta defender, sem muito sucesso. A trama também possui alguns deslizes, como todo o episódio da velha senhora misteriosa, mais no final, que parece fazer parte de uma outra história à parte. Isso sim é sem sentido. Já o resto, que pode parecer confuso, tem uma lógica toda própria que merece ser estudada com mais cuidado.

Já foi muito comentado, então partirei da premissa que a causa da tragédia em Fim dos Tempos é conhecida pelo leitor – caso contrário, se não quer se aprofundar mais no enredo do filme, o melhor é parar por aqui. A explicação mais lógica para o que acontece é de que seriam as plantas que estariam reagindo ao abuso do Homem. Ou seja, estariam liberado toxinas que afetariam o sistema neurológico humano, desencadeando ao terríveis episódios narrados. É um terrorismo ecológico mais óbvio, que partiria justamente das “vítimas”: o meio-ambiente. Pode parecer por demais absurdo, mas se pararmos por um instante quantos eventos similares no transcorrer da Humanidade não recordaremos? Desde o desaparecimento dos dinossauros até o recente tsunami, é tão improvável assim pensar que a própria natureza possa reagir e propor um novo equilíbrio auto-sustentável?

Após dois filmes que ninguém assistiu, nem lembra, M. Night Shyamalan conquistou o mundo inteiro com O Sexto Sentido (1999), seu maior sucesso até hoje, filme que arrecadou quase US$ 700 milhões em todo mundo e foi indicado a 6 Oscars, inclusive a Melhor Filme e Direção. Depois veio com Corpo Fechado (2000), uma nova leitura sobre as histórias de super-heróis. Pouca gente entendeu, mas como em seguida surgiu Sinais (2002), outro impressionante sucesso de público, tudo ficou tranquilo. Ou não, pois na seqüência vieram A Vila (2004) e A Dama na Água (2006), obras interessantes que provocaram mais fúria e indignação do que elogios – simplesmente pela incapacidade dos ditos entendidos em compreenderem estas tramas tão simples quanto curiosas e inovadoras. O mesmo acontece em Fim dos Tempos, um filme que merece ser observado além do que está disposto na tela, numa visão muito mais complexa e interessada. Seu problema tentar propor vida inteligente dentro do esquemão robotizado de Hollywood. Aqueles que conseguirem fugir do banal e do estereótipo encontrarão uma obra singular. Mas chegar até ela não é tarefa simples, e por isso que o esforço do espectador deve ser valorizado. Mesmo diante uma cultura fast food, em que tudo se entrega pronto para consumo imediato.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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