Aliando criatividade e senso de urgência, este curta-metragem brinca de formas muito perspicazes com as questões relativas ao golpe disferido contra a democracia no Brasil. O cineasta Marcus Curvelo, também protagonista, interpretando Joder, jovem constantemente angustiado com a situação do país, realiza um filme essencialmente engraçado, irônico, que se debruça de maneira jocosa sobre questões como a televisão, o comportamento dos endinheirados, a desilusão de quem ainda tateia o mundo tentando encontrar o seu lugar, entre outras coisas. A habilidade narrativa é tamanha que nos pegamos rindo do sujeito reclamando da falta de dinheiro com a namorada que estuda nos Estados Unidos. No mais das vezes, é apenas Joder em cena – a exceção é a breve conversa com um colega no bar. Apropriando-se com bastante inteligência de signos pop, de materiais que acabaram viralizando na internet, Marcus faz uma reflexão sócio-política em chave cômica, bem ao gosto da nossa tradição no gênero. Ele consegue, por exemplo, brincar com o Pato da Fiesp, e tudo de nefasto que ele representa, primeiro, mostrando sua aparição “involuntária” no programa do Luciano Huck, segundo, embalando suas “peripécias” com o hino nacional sendo entoado pela cantora Vanusa, num dos momentos apoteóticos do curta. O jogador David Luiz, o sertanejo ostentação, tudo entra nesse molho delicioso, com um timing que faz os quase 30 minutos de duração passar voando. Joder é um símbolo do Brasil, pois afrontado pelo ridículo que nos cerca cotidianamente.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.