Seguindo uma bem-vinda tendência do atual cinema brasileiro, este curta-metragem alagoano – aliás, o cineasta Ulisses Arthur trouxe o dado de que há 32 anos o Festival de Brasília não exibia um filme de Alagoas dirigido por um alagoano – é centrado numa personagem feminina. Alternando as aulas de canto e os cuidados com a casa, ela aguarda o retorno do marido caminhoneiro, requisitando sua permanência nem que para isso seja necessário boicotar o meio de trabalho do amado. A música é a válvula de escape, por meio do qual expressa sua singularidade, embora a instância doméstica não seja encarada como castradora ou algo que o valha. A encenação é simples, despojada de malabarismos, em consonância com o percurso retratado, das pequenas coisas cotidianas, das interações destituídas de uma aura definidora. Embora não esquadrinhe a personalidade da protagonista, evitando mergulhar mais profundamente nas vicissitudes de sua rotina de esperas, Ulisses faz um filme singelo, que conquista a nossa adesão sem truques ou direcionamentos forçados. Todavia, o curta se ressente de uma pegada mais precisa, da exposição, e até mesmo da defesa, com mais clareza, de seus motivos de existir. O realizador se contenta em observar, sem saturar matizes, mas tampouco amplia as questões das realidades acessadas.
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