A câmera do cineasta Douglas Soares perscruta as areias cariocas em busca de corpos apolíneos, mimetizando cinematograficamente o itinerário laboral/pessoal do fotógrafo Alair Gomes, conhecido, entre outras coisas, por possuir uma obra homoerótica de viés voyeurístico. Fotografado num preto e branco que aprecia e, de certa maneira, reconfigura o corpo dos modelos conforme um imaginário impregnado de desejo, o filme permite contato com o legado do artista que serviu de inspiração ao filme, com o acréscimo da visão particular do cineasta, esta oxigenada por uma montagem absolutamente imprescindível à atmosfera que se instaura. Douglas insere narrações que tratam de corporificar Alair, de dramatizar possíveis encontros, inclusive sexuais, com os garotos que posaram, deliberadamente ou não, para a objetiva. Surgem na tela relatos de uma sexualidade aflorada, evidenciada mais frontalmente pelo registro dos pênis, sejam eles eretos ou não, e uma valorização do nu masculino enquanto meio de expressão, tanto artística como sexualmente falando. Os corpos dos homens em cena obedecem a certo padrão de beleza, pois essencialmente atléticos, o que os aproxima das esculturas greco-romanas. Nesse percurso alinhado a uma ideia de fruição sensorial, Douglas escancara o que não deveria ser dissimulado, exatamente a vontade de observar, o impulso de olhar atentamente e, se possível, de investigar os objetos de suas paixões.
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