Marjorie Estiano faz um papel pequeno, porém importantíssimo, em Paraíso Perdido (2018). Sua encarcerada, Milene, é o par romântico da personagem de Hermila Guedes, mas nem por isso deixa de flertar com o policial vivido por Lee Taylor, exemplificando com suas atitudes a liberdade de amar, condição nuclear no filme de Monique Gardenberg. Depois de um dia extenuante de gravações da série Sob Pressão, veiculada na Rede Globo – sobre isso, disse, sorrindo: “por isso vim de mochila, direto do set” –, Marjorie nos atendeu, com a simpatia que lhe é peculiar, para falar acerca da sua colaboração com a cineasta, que já vem de longa data e outros meios. Sobre a carreira, é difícil apontar uma atriz de sua geração tão bem-sucedida quanto ela. Marjorie tem enfileirado papeis marcantes na TV e no cinema. Teatro e música também fazem parte de sua rotina, então assinalada fortemente pela arte. Confira o nosso Papo de Cinema exclusivo com Marjorie Estiano, um dos destaques do elenco de Paraíso Perdido.

 

Do elenco, você é a que mais vezes trabalhou com a Monique. Como recebeu esse convite para fazer Paraíso Perdido?
Agora está faltando alguma coisa de televisão. Já teve música, teatro e cinema (risos). Faço o que a Monique quiser, na verdade. Basta, simplesmente, estar com a agenda livre. Tenho uma admiração grande por ela. Com o passar do tempo, e os vários trabalhos, o amparo da direção passa a ser bem mais concreto e consistente. Em virtude do acúmulo de experiências conjuntas, fica mais fácil e fluído. Os desafios acabam sendo puramente os da construção.

Contracenando com Lee Taylor

Para você, era importante possibilitar algum debate, vide a questão LGBT envolvida?
Acredito que o filme não levante bandeiras. Mas, a própria abordagem dele é uma espécie de manifesto. Essa persona aparece com a naturalidade necessária. Sua orientação sexual não precisa ser “A” questão. Geralmente, há a tendência de transformar a sexualidade naquilo que rege a história. Mas essa é apenas uma das camadas da Milene, um dos canais pelos quais ela se expressa. Desde o início, percebi que esse universo de fábula era sensível, livre e criativo. Também me chamou atenção a inexistência do julgamento e a prevalência do amor em suas manifestações mais diversas. Realmente, é uma matéria prima que oferece inúmeras possibilidades. É algo atemporal. Não existe uma época definida para se falar de amor.

 

Qual a sua relação com a música brega?
Tive encontros, afastamentos e reencontros com a música brega. Fui apresentada a esse universo por meus pais, mas aí conheci outras coisas, que esteticamente me chamavam mais a atenção. Adiante, retomei o contato por conta de uma curiosidade acerca da história da música no Brasil. Esses encontros acabam sendo meio cíclicos. Aliás, musicalmente, não tenho qualquer tipo de julgamento de valor. Se a arte não for livre, sei lá de que maneira ela deve ser. Para que serve a arte, senão como expressão livre? Música é um estado de espírito. Tem música para divertir, dançar, refletir, deprimir, cantar… Há músicas que nos tocam pela letra, outras encantam por conta da melodia. Sempre fui bastante influenciada pelo som e pela ausência dele, desde criança. O brega faz parte disso. Como essa sonoridade tem a ver com meus pais, as canções carregam algumas memórias afetivas.

Contracenando com Hermila Guedes

O Júlio Andrade comentou que o set era muito leve. Para você, em meio a tantos trabalhos, qual o maior benefício de participar de um ambiente assim?
Da vida, o que levamos são as experiências. O filme fica para posteridade, mas, importante, mesmo, são as vivências que passamos a carregar. O que mais guardo dos meus trabalhos são as pessoas conhecidas, os momentos e as possibilidades de aprendizado. Então, quando no set tudo é generoso, favorável e agradável, claro, isso torna essas experiências bem mais memoráveis. Em Paraíso Perdido filmei pouco. Ao todo, foram dois dias. Inclusive, um deles foi meu aniversário. Então, não participei tanto da rotina do set. Mas, obviamente, tive a minha vivência ali, breve, mas me diverti. Encontrei o Júlio em outra situação (eles contracenam em Sob Pressão), o Seu Jorge, que não larga o violão. Foi muito gostoso e divertido. Estou doida para ver o resultado disso.

 

(Entrevista concedida ao vivo, no Rio de Janeiro, em maio de 2018)

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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